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Vírus e vermes despertam uma nova consciência

Paulo Chagas17 de agosto de 2004

Os crescentes ataques de vírus trazem à tona as falhas de segurança dos sistemas operacionais, despertando a consciência para a necessidade de responsabilizar a indústria de computadores.

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Foto: AP

No primeiro semestre de 2004 foram colocados em circulação 4.677 novos vírus, vermes (worms), cavalos de Tróia e outros dispositivos destrutivos. A maioria dessas pragas digitais que circulam pela internet tem vida curta. Quase ninguém abre os textos que vêm atachados nos e-mails.

Perigosos mesmo são apenas alguns vírus, vermes e cavalos de Tróia que se espalham despercebidos, infectando rapidamente milhões de computadores no mundo inteiro. E nesse aspecto a Alemanha desempenha um papel pioneiro.

Setenta por cento das pragas que proliferaram na internet, no primeiro semestre de 2004, tiveram origem na Alemanha. E, mais precisamente, foram obras de uma só pessoa: o adolescente Sven J., autor, entre outros, das pragas NetSky e Sasser.

Sasser e as boas intenções do menino

O verme Sasser apareceu pela primeira vez no dia 30 de abril de 2004. Não se espalhou através de e-mails e sim diretamente de PC para PC. O programador Sven J. aproveitou uma falha de segurança dos sistemas operacionais Windows XP e 2000. O computador só precisa estar conectado à internet para ser infectado pelo Sasser.

Sven J., apesar dos seus 18 anos, não é nenhum novato. Ao ser preso, no dia 8 de maio de 2004, confessou ter criado também o NetSky, uma família de vermes por e-mail. O NetSky, disse Sven J, foi concebido como um vírus "bom", destinado a combater os vírus "maus" como o MyDoom e o Bagle, que infestavam a internet.

A função do NetSky, segundo seu autor, era apagar o registro do MyDoom e Bagle no Windows e fechar as portas que esses vírus abriam no sistema. Tanto o vírus "bom" como o "mau" instalam-se no disco rígido do usuário.

O policial da internet

Dessa forma, o adolescente Sven J. estaria assumindo o papel de policial da internet, que faz justiça com as próprias mãos. O vírus Sasser teria sido concebido como uma alerta, confessou Sven em entrevista exclusiva à revista alemã Stern.

O Sasser se propagou através das redes de computadores, aproveitando-se da falha de segurança da Microsoft. Ele desliga e liga as os computadores e, embora não provoque danos às máquinas, causa lentidão nas redes e na própria internet.

Críticas à Microsoft

Vírus ou vermes como Sasser deixam claro que o problema principal não é a existência de pragas e sim a "monocultura" da Microsoft, que domina 90% do mercado de software. Esta é a opinião da conceituada associação alemã de hackers Chaos Computer Club (CCC), de Hamburgo, que criticou severamente a prisão de Sven J.

Ao impor a sua monocultura, a Microsoft facilita a proliferação de pragas. O CCC criticou também a política de update da gigante americana. O usuário não sabe que informações estão sendo transmitidas aos servidores da Microsoft e por isso prefere não baixar os programas e dispositivos para melhorar a segurança do sistema.

Indústria deveria pagar pelo prejuízo

Para o professor de Informática Klaus Brunnstein, da Universidade de Hamburgo, o problema das pragas digitais poderia ser evitado se as indústrias de software se preocupassem em melhorar a segurança dos sistemas operacionais.

A Microsoft, segundo ele, deveria ser responsabilizada pelos prejuízos, da mesma forma que as montadoras podem ser processadas pelos defeitos de fabricação de seus automóveis. No momento, a indústria de software não tem o menor interesse em melhorar a segurança dos sistemas.

O prof. Brunnstein acha, entretanto, que isto é uma questão de tempo. Foi preciso cerca de 80 anos até que o advogado americano Ralph Nader conseguisse pressionar as montadoras dos Estados Unidos, para melhorar a segurança dos automóveis.

A sociedade de informação, segundo o professor, vai precisar de mais uns vinte anos até que os acidentes com vírus se tornem tão graves, que o déficit de segurança seja inaceitável. O vírus Sasser, que paralisou em parte a rede mundial de computadores, ainda está longe de ser considerado um caso grave.