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Vôo em tempos de terror

(sm)14 de outubro de 2002

O atentado deste fim de semana na Indonésia fez cair a cotação das ações de aviação, trazendo à tona o trauma de 11 de setembro. Companhias aéreas alemãs exigem manutenção de garantias estatais em caso de terrorismo.

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Idílio em Bali: companhias aéreas cancelam vôos para a ilha indonésia

A Bolsa de Valores de Frankfurt abriu nesta segunda-feira (14) sob a sombra do atentado de Bali. Os efeitos se fizeram sentir imediatamente nos setores de turismo e aviação: as ações do conglomerado turístico TUI caíram 6,35% e as da Lufthansa, 5,37%. Após a notável recuperação do setor aéreo no decorrer deste ano, que levou a Lufthansa a fazer um prognóstico otimista, o novo atentado torna ainda mais atual a discussão em torno da segurança das companhias aéreas numa época em que o terrorismo ameaça se tornar parte do cotidiano.

Estado cobre danos de atentados

As companhias aéreas alemãs exigem a manutenção das garantias estatais concedidas temporariamente a companhias aéreas em caso de danos provocados por atentados terroristas. No início da última semana, os ministros das Finanças da União Européia haviam decidido suspender em outubro as garantias oferecidas pelos países da comunidade a partir de 11 de setembro de 2001. A decisão foi tomada após as seguradoras terem anunciado cobrir danos ocasionados em terra após possíveis atentados.

A Lufthansa está contando com um prolongamento das garantias. Um prazo maior facilitaria a criação do planejado fundo europeu de segurança, a ser financiado por aeroportos e companhias aéreas e usado para cobrir danos causados por acontecimentos extraordinários. No entanto, o maior argumento contra a suspensão imediata das garantias estatais é a concorrência das empresas norte-americanas.

Nos Estados Unidos, as companhias aéreas conseguiram prolongar as garantias, que já eram bem mais altas do que as concedidas na Europa. A Lufthansa, por exemplo, paga às seguradoras e ao Estado 2,20 dólares por passagem, enquanto as companhias norte-americanas gastam por aeronave apenas 7,50 dólares com seguro. "Diante desta concorrência acirrada, não podemos transferir maiores custos com seguro para a passagem", lembrou a porta-voz da Lufthansa Christine Ritz.

Caso o governo alemão se recuse a prolongar as garantias, as companhias aéreas alemãs teriam que aceitar a oferta da seguradora Allianz, cujas apólices – no entanto – são mais caras do que do que a quantia a ser paga por enquanto ao Estado. De acordo com o diretor da Associação das Companhias Aéreas Alemãs (ADL), Detlef Winter, as empresas estão negociando esta questão com o governo em Berlim. Outras companhias, como a Condor ou a TUI Hapag Lloyd, afirmam ainda não ter refletido sobre outras alternativas.

Turismo enfrenta terrorismo

Após o atentado de Bali, o conglomerado turístico TUI anunciou no domingo (13) a suspensão de todos os vôos para a ilha indonésia, comprometendo-se a reembolsar as reservas ou alterar os destinos de viagem dos turistas. De acordo com a legislação alemã, acontecimentos extraordinários não obrigam as empresas de turismo e de aviação a isentar o viajante da taxa de suspensão de reserva.

Diante de "motivos de força maior", contudo, tanto a empresa como o cliente têm o direito de suspender o contrato de viagem, sendo que possíveis custos adicionais devem ser divididos entre ambos, meio a meio. No entanto, a expressão "motivos de força maior" dá grande margem a interpretação jurídica. Por enquanto, as companhias aéreas vêm improvisando soluções para questões excepcionais deste tipo, sobretudo para não perder os clientes. A médio prazo, se os atos de terror ameaçarem tornar-se parte do cotidiano, com certeza a legislação deverá ser especificada.

Boas expectativas antes do atentado

O atentado de Bali e a decorrente queda da cotação das ações de turismo e aviação abalaram novamente o otimismo das companhias aéreas. Ao divulgar o balancete de setembro, um pouco antes do atentado na Indonésia, o diretor financeiro da Lufthansa, Karl Ludwig-Kley, confirmara que a companhia se recuperou mais rápido do que esperava da crise desencadeada pelo 11 de setembro.

Com 4,2 milhões de passageiros, um recorde anual de 78,1% na lotação dos vôos, um aumento de 3,8% de fretes, o mês de setembro foi interpretado como início de uma nova fase de expansão. Além de um aumento de 13% na oferta de vôos para os próximos meses, a Lufthansa se prepara para conquistar espaço no mercado europeu de vôos baratos, a partir de fim de outubro, com a German Wings.

Com um lucro operacional de 332 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, conseqüência da racionalização e do nítido aumento na lotação dos vôos, a Lufthansa reagiu com rapidez à crise do setor e à baixa conjuntura mundial. A empresa chegou mesmo a anunciar a criação de até dois mil novos empregos no próximo ano. Resta saber até que ponto a crescente ameaça de terrorismo ainda virá a exigir do setor novas estratégias no futuro próximo.