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Vaticano abre arquivos sobre Alemanha nazista

(ns)14 de fevereiro de 2003

Teria ou não o papa Pio XII sido omisso na perseguição e morte de judeus pelos nazistas? A liberação dos arquivos, neste sábado (15/02), deve esclarecer a questão. Consta que Pio XII teria tentado exorcizar Hitler.

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Vista da Basílica de São PedroFoto: AP

Muitos pesquisadores mal podiam esperar a abertura dos arquivos secretos do Vaticano sobre suas relações com a Alemanha nazista até 1939. Enquanto alimentam a esperança de esbarrar em revelações surpreendentes, o Vaticano, pelo contrário, procura minimizar o acontecimento, que se dará sem nenhuma formalidade. A Santa Sé está convicta de que os papéis amarelecidos pela ação do tempo não contêm nada de realmente novo. Enfileiradas, as atas de seus arquivos teriam uma extensão de 80 quilômetros.

"A abertura dos arquivos não é nenhuma sensação", opina o historiador alemão Walter Brandmüller, que se especializou em assuntos eclesiásticos. O Vaticano, segundo ele, estaria cansado de tantas exigências insistindo na liberação. Ele se refere aos historiadores e autores que acusam a Igreja Católica de omissão durante o nazismo. Ela teria aceito tacitamente o Holocausto, a morte de seis milhões de judeus na Europa, vítimas do racismo de Hitler.

O controvertido Pio XII

Ao antecipar a abertura do material referente ao pontificado de Pio XI (1922-1939) e suas relações com a Alemanha, acabando com o sigilo, o Vaticano quer esvaziar as críticas e as suspeitas levantadas. De acordo com a tradição da Santa Sé, tais arquivos só deveriam ser liberados a pesquisadores 70 anos após a morte de Pio XI, isto é, em 2009.

Na verdade as críticas não estão centradas na pessoa de Pio XI, mas sim de seu sucessor, Pio XII. Nenhum Supremo Pontífice dos últimos séculos é tão controvertido como ele. Seu pontificado estendeu-se de 1939, o ano em que começou a Segunda Guerra Mundial, a 1958. Seus adversários acusam-no de simpatizar com o nazismo e nada haver feito contra a perseguição movida aos judeus. A Igreja Católica diz que, muito pelo contrário, Pio XII, que se chamava Eugenio Pacelli, teria salvo a vida de milhares de judeus, pelo que está prevista a sua beatificação dentro de alguns anos.

Papa foi adversário de Hitler

Pius XII
Papa Pio XIIFoto: AP

O material agora liberado, que inclui as atas das nunciaturas de Munique e Berlim, deve documentar claramente a posição de Pacelli antes de sua escolha para o trono de São Pedro. Entre 1922 e 1939, ele foi núncio em Munique e Berlim e, a partir de 1929, secretário de Estado do Vaticano. No exercício deste alto cargo foi quem assinou, em 1933, ano de ascensão de Adolf Hitler ao poder, a concordata entre a Alemanha e a Santa Sé, quebrada depois pelos nazistas.

"Eu não acho que os documentos trarão grandes surpresas, eles devem, aliás, esvaziar as críticas contra Pio XII", opina o jesuíta alemão Peter Gumpel, que tem estudado a sua vida, pois é um dos juízes do Vaticano no processo de beatificação de Pio XII. Para isso, estudou todos os documentos disponíveis e interrogou várias testemunhas.

Em suas investigações, chegou à conclusão de que as críticas não têm fundamento. Pelo contrário, Pio XII teria sido um ferrenho adversário dos nazistas. A posição do Vaticano teria ficado clara ao mais tardar em 1937, quando Pio XI criticou a política racial do regime hitlerista, na encíclica Mit brennender Sorge (Com ardente preocupação), escrita em alemão.

Exorcismo para expulsar demônio de Hitler

Naquela ocasião, o Vaticano não criticou publicamente o regime nazista, mas teve bons motivos para isso, ressalta o padre Gumpel. A Santa Sé estava preocupada, e com razão, com uma repressão ainda mais violenta de parte de Hitler e seus asseclas. "Os bispos holandeses haviam condenado publicamente as deportações de judeus, lembra o jesuíta alemão, "e isso fez com que os nazistas acelerassem o processo."

Muitas seriam as provas, segundo Peter Gumpel, de que Pio XII foi um adversário de Hitler, contrariamente às acusações contra ele levantadas, nos anos 60, a partir da peça de Rolf Hochhuth Der Stellvertreter (O Vigário). No processo de beatificação, testemunhas asseguraram que Pacelli as havia advertido do perigo que Hitler representava já em 1929.

Também está fora de dúvida que Pio XII salvou milhares de judeus italianos da deportação e da morte certa. Além disso, a convicção do papa era que Hitler estava possuído pelo demônio. Por isso, durante a Segunda Guerra, ele teria realizado rituais de exorcismo à distância, a partir do Vaticano, para tentar livrá-lo do príncipe das trevas.