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'Vende-se igreja em bom estado de conservação"

av8 de julho de 2003

A Alemanha atravessa um processo que já atingiu outras cidades como Amsterdã: para fazer frente a dificuldades financeiras, as Igrejas têm que se desfazer de seus imóveis.

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Para o mercado imobiliário, nada é sagradoFoto: Kay Herschelmann

A crise das grandes religiões ocidentais pode se expressar de maneiras diversas. Nas últimas décadas um sem-número de cinemas e supermercados foram comprados no Brasil pelas igrejas evangélicas emergentes e transformadas em locais de pregação. Na Alemanha, as Igrejas católica e luterana – mantidas em boa parte pelos impostos pagos pelos fiéis – estão vendendo, alugando ou demolindo suas casas de culto, para poder manter-se.

Como tantos outros na Alemanha, o episcopado de Aachen está em apuros financeiros e precisa economizar. Há já um bom tempo, discute-se o destino das casas paroquiais. "Não podemos financiar permanentemente trabalhos de reforma e conservação, ignorando o fato de que não mais precisamos de prédios tão grandes", comenta Jobst Rüthers, porta-voz da instituição. Afinal, mesmo durante a missa de domingo, boa parte das igrejas permanece meio vazia.

Segundo pesquisa da Universidade de Dortmund, dentro em breve um terço das 35 mil igrejas do país poderá estar desocupada. O arcebispado de Berlim-Brandemburgo considera mandar demolir 97 casas de culto, como meio de reduzir sua dívida de 148 milhões de euros. Uma enquete revela o ponto de vista de arquitetos e urbanistas: se as Igrejas vendessem seus imóveis, esta seria uma boa chance para o centro das cidades.

Enquanto isso, em Aachen, uma comissão elabora diretrizes para o aluguel ou venda dos imóveis. E ocupa-se de temas delicados, como o propósito da aquisição. Danceterias e supermercados, por exemplo, estão fora de cogitação. As destinações de preferência são de caráter cultural, como museu, biblioteca ou ateliê.

O ponto de vista protestante

Os líderes luteranos da região de Hamburgo também trabalham numa "lista de orientação" semelhante, em cooperação com a universidade local. A questão é entretanto menos sensível. Em oposição aos católicos, do ponto de vista protestante a casa de oração não é um lugar sagrado, sendo até pensável a transformação em restaurante. Duas já foram vendidas, em Hamm e Horn (aqui o déficit da comunidade alcança os 120 mil euros por ano), e seis outras estão sendo consideradas.

Dentre os alvos de venda principais estão as igrejas construídas após a Segunda Guerra Mundial, em zonas então muito povoadas. A presidente do Sínodo do Norte do Elba, Elisabeth Lingner, já sugerira a medida há dez anos, como forma de enfrentar a ameaça de crise financeira: "Agora a coisa se tornou concreta."

O grupo de especialistas nos temas Igreja e Urbanismo da Universidade de Hamburgo examina os aspectos econômicos, sociológicos, culturais e teológicos das transações. Ao lado da questão financeira, conta também a situação da Igreja, a aceitação por parte da população e o "volume histórico". Ou seja: a proteção de casas de culto mais antigas tem precedência sobre o saneamento de edifícios relativamente novos.

Tudo é uma questão de fé

Kirchentag Abendmahl
O número de fiéis cai a cada anoFoto: AP

Ao todo, os imóveis das Igrejas católica e luterana na Alemanha perfazem 6800 milhões de metros quadrados. Isso equivale a três vezes a extensão de Berlim, Hamburgo, Munique e Bremen, juntas, ou aproximadamente 143 bilhões de euros. O atual aperto financeiro do setor religioso é reflexo direto da crise generalizada. Como o imposto eclesiástico compulsório está atrelado ao de renda, quanto maior o desemprego, menor a arrecadação.

Segundo a Associação Diocesana da Alemanha, em 2002 foram arrecadados 4,2 bilhões de euros em impostos eclesiásticos, 50 milhões a menos do que no ano anterior. Em 1990, as duas grandes Igrejas contavam com 28,2 milhões de fiéis cadastrados. Hoje em dia, não ultrapassam 26,8 milhões. Um número que cai sem parar.