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Veteranos recordam a Primeira Guerra

Gerard Foussier (sm)1 de agosto de 2004

Há 90 anos começava a Primeira Guerra Mundial. Antigos depoimentos de veteranos lembram a euforia e o terror desta ruptura histórica.

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Guerra de trincheiras: soldados americanos na FrançaFoto: AP

A imagem do avô contando histórias de sua juventude para os netos não é nova. Em 1998, oitenta anos após o final da Primeira Guerra Mundial, sobreviventes que já tinham atingido ou ultrapassado os cem anos relataram suas experiências pessoais. Hoje, exatamente noventa anos após o início da guerra, estas testemunhas já estão todas mortas. Mas seus depoimentos continuam sendo impressões vivas do trauma da Primeira Guerra.

"No dia 1º de agosto, quando estourou a guerra, lá pelas duas ou três da tarde, os soldados da 8ª companhia estacionados nos quartéis de Schlestadt passaram marchando pela cidade, acompanhados pela música. Jovens como éramos, saímos atrás. E então o meu pai me disse: 'Dentro de oito dias, eles não vão mais tocar música nenhuma'", relembrou Lucien Finance, nascido em 1896.

Entusiasmo de início

Apesar de a guerra contrariar a vontade de noventa por cento da população, conforme relatou Lucien Finance, outros depoimentos de contemporâneos mostram que o patriotismo de toda uma geração justificava um certo entusiasmo militarista. Robert Zwang, nascido em Paris em 1897, ainda se recordava alguns anos atrás:

"Estávamos todos tomados pela reconquista da Alsácia-Lorena. Era uma coisa que os franceses ainda não tinham digerido, por assim dizer. Falava-se da Alsácia-Lorena, falava-se disso nas canções, nas histórias, nos poemas, sempre voltava-se ao tema da reconsquista da Alsácia-Lorena. E, meu Deus, estávamos tomados por este pensamento, um tanto nervosos com o fato de a Alemanha representar uma notável potência, apesar de tudo. Por um momento, tive medo de que a guerra pudesse acabar sem que eu tivesse vivido o fim."

Erster Weltkrieg Postkarte
Cartão-postal da Primeira Guerra MundialFoto: AP

Este tipo de patriotismo era bastante forte na Alemanha, onde a guerra encerraria um período de relativo bem-estar. A população não vivia com medo de um conflito. Mas a guerra viria a se transformar em um verdadeiro terror. E mesmo que os soldatos não tivessem medo de início, ao se deslocarem para o front, não tardariam a senti-lo. Paul Ooghe, nascido em 1899 em Bruxelas, não hesitou em descrever seu pânico:

"Quando a gente está no meio do tiroteio, com as metralhadoras disparando numa distância de cinco ou seis metros, a gente pensa: 'Agora chegou a minha vez'. E automaticamente eu sentia um medo desgraçado. E para ser sincero, se eu pudesse ter me escondido em algum lugar naquela hora, num lugar onde ninguém tivesse me visto mais, eu teria sumido."

Medo e visões traumáticas

Mas o medo não era tudo. O horror que os soldados tiveram que vivenciar transparece nitidamente nas imagens dos depoimentos de antigos veteranos: "A primeira vez que eu fui para o front foi em Ypern", relatou o inglês Ted Rimmer, nascido em 1898 em Southporth. "Estava tudo congelado e eu escorreguei sobre as tábuas que davam nas trincheiras. Então caí num buraco de granada e vi olhos de gente aparecendo através do gelo. Eu tinha ido parar numa montanha de cadáveres."

"Não dá para imaginar. A terra não dava mais conta. Tivemos que cobrir as trincheiras com sacos de areia, de tantos cadáveres. E aquele fedor... Não gosto de contar essas coisas, pois vão achar que estou contando mentiras. Mas esta é a mais pura verdade", recordou Marius Estratat.

E quando a Primeira Guerra terminou, em 11 de novembro de 1918, esta notícia, sim, é que parecia mentira. O francês Robert Zwang ainda se lembrava deste momento, ao dar seu depoimento alguns anos atrás:

1.Weltkrieg - Waffenstillstand von Compiègne
Armistício de Compiègne, 11 de novembro de 1918Foto: dpa

"Naquele dia, fiquei sabendo por um americano que o armistício tinha sido assinado. Mas como não acreditei numa palavra do que ele disse, ele me levou até um comando americano, onde estava afixado o anúncio datilografado: 'O armistício foi assinado hoje de manhã, às 11 horas', em inglês, é claro. Eu entendia inglês o suficiente para entender a mensagem. Então fui contar para o meu comandante, mas ele também não acreditou. Então tive que levá-lo até ali para ele ler o comunicado com os próprios olhos."