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Viagem ao centro da Europa

Leona Frommelt / sv29 de maio de 2004

O centro geográfico da Europa está situado em algum lugar entre a alemã Cölbe e um povoado longínquo na Ucrânia. O longa “Die Mitte” (O Centro) é uma odisséia tragicômica em busca desse lugar perdido.

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Um continente e várias identidades nos diversos centrosFoto: strandfilm2004

Antes de sair atrás do centro geográfico europeu, o diretor Stanislaw Mucha ainda não sabia que o continente apresentava várias versões do mesmo. Assim, Mucha, ao invés de tentar encontrar “o” centro europeu, acabou se embrenhando na busca de vários deles. O cineasta passou em sua odisséia pelo Estado alemão de Hessen, pela austríaca Braunau, seguindo para a Polônia e a Lituânia, até finalizar sua viagem na Ucrânia.

A equipe de filmagem visitou um total de 12 cidades, que num raio de dois mil quilômetros têm a pretensão de estar localizadas exatamente no centro geográfico da Europa. Segundo o diretor, há uma série infindável de placas enferrujadas e monumentos monótonos e frustrados, perdidos no tempo, clamando para si o título de ser o coração do continente europeu.

Pesquisa de campo com câmera na mão

Regisseur Stanislaw Mucha Die Mitte
Stanislaw MuchaFoto: strandfilm2004

Independente da veracidade ou não da fama geográfica que cada cidade defende para si, o documentário de Mucha traz uma galeria de personagens e povoados adormecidos, espalhados pela Europa. Além de expor o significado dos conceitos de terra natal e identidade de uma nova Europa nessas paragens. “Para mim, mais importante que encontrar o verdadeiro centro europeu, foi conhecer as pessoas que vivem nesses lugares. Entendo meu filme como um portrait da Europa. Ele mostra que, na verdade, não há aquilo que se chama de uma identidade européia – pelo menos não como esse conceito existe, por exemplo, nos EUA. Muitos europeus sentem-se abandonados pela Europa”, explica Mucha.

Isso é o que acontece, por exemplo, no Europos Centro, nos arredores da capital lituana, Vilnius. Ali Mucha encontra uma família que vê a Europa como um monstro abominável e acredita que a derrocada da União Soviética tenha sido o grande azar de suas vidas. Como em seu filme anterior, Absolut Warhola – um portrait da pequena cidade de onde veio a família de Andy Warhol, na Eslováquia –, Mucha interage com seus retratados de maneira absolutamente amável e compreensiva. Dessa forma, demonstra sua enorme sensibilidade para o poder de expressão das cenas cotidianas que leva à tela.

O documentário segue uma linha aparentemente simples – em cada localidade, o diretor pergunta ao primeiro pedestre que passa: “Será que aqui é o centro geográfico da Europa?”. Dessa forma, Mucha dá início a uma série de conversas sobre o assunto. O espectador consegue sentir a simpatia que o diretor sente pelos entrevistados, que lhe expõem suas preocupações e medos: “Quanto mais em direção ao leste a gente seguia, mais as pessoas xingavam a Europa. Eles já reagiam com irritação cada vez que ouviam a palavra ‘Europa’. Há hoje discursos querendo maquiar a realidade, mas muitos europeus vivem em situações extremamente deploráveis”.

Questão de crença

Szenenbild Die Mitte von Stanislaw Mucha
Cena de 'O Centro'Foto: strandfilm2004

O Centro não mostra apenas pessoas que se sentem orgulhosas por viver no “verdadeiro” centro do continente europeu, mas também aquelas que não dão ao assunto a menor importância. Estas partem do princípio de que não se leva vantagem alguma em viver num lugar supostamente único, se neste não há emprego suficiente para a população.

“Apesar disso, as pessoas associam a idéia de ser o centro geográfico europeu com algum tipo de esperança. Elas não entendem por que foram apontadas como centro, mas esperam que isso lhes traga algum tipo de benefício. Elas têm medo de perder a posição de centro geográfico, defendendo a mesma contra novos centros, que vão sendo apontados através da medição via satélite”, conta Mucha.

A lição após o filme é clara: a Europa é múltipla, e seu centro está em todo lugar. Onde ele está, não é exatamente uma questão topográfica, mas de crença. Stanislaw Mucha, nascido em 1970 na Polônia, vive entre seu país de origem e a Alemanha. Seu documentário Absolut Warhola (2001) recebeu o Prêmio Grimme em 2003. O Centro estréia agora nos cinemas alemães.