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"Violência tem mais valor como notícia"

Rachel Ryan (bt)15 de agosto de 2006

Jo Groebel, diretor do Instituto Digital Alemão, conversou com a DW-WORLD sobre a cobertura dos conflitos do Oriente Médio pela mídia e analisou por que a violência domina nos noticiários e a paz raramente é assunto.

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Imagens de destruição e morte influenciam a opinião públicaFoto: picture-alliance/ dpa

DW-WORLD: De modo geral, como o senhor tem visto o papel da mídia no atual conflito do Oriente Médio?

Jo Groebel: No Oriente Médio, é preciso observar a situação da violência política e o papel das ações individuais em comparação com hostilidades entre as nações. Estamos falando de ações praticadas em meio aos contínuos confrontos ou de atos individuais de violência? O papel da comunicação e da mídia nessas situações mostra que há um certo desequilíbrio. Esses indivíduos não foram apresentados como vítimas no lado de Israel e o público reagiu a imagens individuais – especialmente da parte do Hisbolá – que foram apresentadas de forma diferente no caso de Israel. Acredito que Israel tenha se preocupado menos com a opinião pública e por isso as pessoas começaram a ter mais simpatia pelo Hisbolá. Ainda que a violência também estivesse presente contra Israel, ela não foi mostrada com tanta freqüência.

Qual a sua percepção da recente cobertura do conflito no Líbano?

Hisbollah-Führer Nasrallah droht: Angriffe werden über Haifa hinausgehen
Programa da rede de TV Al-Manar, vinculada ao HisboláFoto: picture-alliance/ dpa

Existe a questão sobre aquilo que recebe mais atenção – a guerra ou a paz. O problema é que aquilo que é violento recebe mais atenção e tem mais valor como notícia. O público está mais interessado em coisas negativas do que em positivas. Atrair mais atenção significa fazer mais publicidade para determinada causa.

Durante este conflito, atualmente, há a confirmação, especialmente da parte do Hisbolá, que tem havido manipulação da mídia por intermédio de certas imagens. Poucos anos atrás, aparecia a imagem de uma criança olhando para a câmera e este mesmo tipo de imagem apareceu recentemente no Líbano. Fica a dúvida se isso foi uma coincidência ou não. Tende-se a comparar os recentes confrontos com com o que aconteceu no Iraque há três anos, onde surgiram grandes discussões sobre a cobertura da mídia e o trabalho de correspondentes no Iraque. No caso do atual conflito, as discussões começaram há poucos dias; antes elas não existiam.

Existem três temas principais que vem influenciando a cobertura do conflito. Primeiro, este tem sido considerado um outro tipo de guerra. O público está acostumado a ver conflitos, mas ao contrário do Iraque, em que a opinião pública foi contrária à guerra, o conflito no Líbano não foi uma surpresa e inevitavelmente não trouxe impactos extremos.

Em segundo lugar, as pessoas esperam propaganda de guerra e, justamente por isso, são capazes de ver com uma certa imunidade ou até mesmo cinismo as imagens deste conflito, devido às imagens vistas durante a guerra no Iraque.

Em terceiro lugar, as pessoas se acostumaram a este tipo de guerra. Se mais pessoas tivessem morrido, o conflito teria com certeza maior destaque na mídia. No caso da cobertura alemã, a guerra vem aparecendo diariamente nas notícias e a cobertura tem sido permanente. Entretanto, para a imprensa de outros países europeus, o assunto está entre os principais nos noticiários, mas não houve nada além de uma cobertura convencional.

Levando-se em conta sua resposta à questão anterior, de que maneira o senhor imagina que o público percebe acontecimentos como o recente acordo de paz entre os dois lados desta guerra?

Acho que ninguém está acreditando que a paz vai acontecer. Porém, todos os lados envolvidos no conflito confirmaram que querem abrir espaço para o diálogo. Há uma certa credibilidade neste processo e esperança de uma paz temporária. Mas não se sabe ao certo se isso acontecerá.

Há grandes diferenças entre a cobertura do conflito entre Israel e o Hisbolá, em comparação com outras guerras?

Ein Wachtposten an einem Ölfeld im Norden von Ramala
Segundo Groebel, a cobertura jornalística da guerra do Iraque foi discutida desde o início do conflitoFoto: AP

O que acho particularmente interessante é o uso dos chamados meios informais ou amadores (como blogs e imagens veiculadas na internet) que vem sendo incorporados à cobertura profissional do conflito. Isso significa que qualquer um que tenha acesso a uma câmera e à internet pode lançar fotos na rede. Se alguém recebe imagens de uma testemunha do conflito, isso pode ter mais credibilidade.

Entretanto, essa situação sempre cria dilemas éticos. Em tese, quem está redigindo matérias e tirando fotos é um jornalista profissional, justamente por obedecer a um código de ética, ter um padrão de objetividade e não tem os mesmos vínculos de alguém que vive no local onde os fatos ocorrem. É importante ser cuidadoso em relação a fotografias amadoras, pois elas podem ser digitalmente modificadas e manipuladas. O impacto das fotos divulgadas pelo Hisbolá são um exemplo disso.

Diretor do Instituto Digital Alemão, o professor Jo Groebel já escreveu e editou diversos livros sobre novas mídias e sobre a internet. Ele é também co-autor do livro Agressão e Guerra: Bases Biológicas e Sociais, que discute agressões entre seres humanos e guerras. Ele já foi também diretor-geral do Instituto Europeu para a Mídia.

O Instituto Digital Alemão (Deutsches Digital Institut), com sede em Berlim, é especializado no estudo de meios digitais de comunicação de massa, como televisão, cinema, telefonia móvel e internet e seus impactos na sociedade.