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Violência volta às ruas

Ercin Özlü (rw)29 de outubro de 2006

Ataque incendiário a ônibus em Marselha deixa mulher gravemente ferida. DW-WORLD entrevistou cientista político sobre situação na França, um ano após os quebra-quebras nas periferias.

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Grupo de jovens ateou fogo em ônibus em MarselhaFoto: AP

O presidente da França, Jacques Chirac, condenou o atentado da noite de sábado (28/10) em Marselha, em que uma senegalesa de 26 anos foi gravemente queimada depois que um grupo de jovens incendiou o ônibus em que viajava. Apesar do reforço policial, aconteceram arruaças em várias cidades francesas neste final de semana.

O primeiro-ministro Dominique de Villepin anunciou para esta segunda-feira uma reunião de emergência para discutir a segurança dos transportes públicos no país. Na última sexta-feira, foi o primeiro ano da morte de dois jovens eletrocutados enquanto fugiam da polícia em Clichy-sous-Bois, perto de Paris. Este havia sido o estopim para os quebra-quebras das semanas seguintes em várias cidades do país.

DW-WORLD conversou com Henrik Uterwedde sobre a situação nos banlieues franceses. Ele é vice-diretor do Instituto Teuto-Francês em Ludwigsburg e professor de Ciências Políticas na Universidade de Stuttgart.

DW-WORLD: Quais as causas da frustração dos jovens?

Professor Dr. Henrik Uterwedde
UterweddeFoto: Deutsch-Französisches Institut

Henrik Uterwedde: Trata-se naturalmente de uma profunda crise social. Nas periferias da França contam-se mais de 700 regiões problemáticas, nas quais moram cerca de cinco milhões de pessoas. Estas áreas são "monoculturas", em que 40% dos jovens não terminaram a escola e o índice de desemprego é de 20%, ou seja, o dobro da média do resto da França. Nestas cidades, concentram-se todos os tipos de problemas sociais do país. Soma-se a isso a crise de integração. Principalmente os filhos de imigrantes são discriminados quando procuram emprego.

Após os conflitos do ano passado, o governo anunciou uma série de iniciativas. Que medidas políticas foram tomadas?

Já havia bons programas antes de 2005 na área social. Após os quebra-quebras, houve quatro pontos centrais. Por um lado, tentou-se melhorar as chances de emprego dos jovens da periferia. Por outro, as medidas voltadas contra a discriminação étnica. Existe ainda um setor bastante caro: o da política habitacional. Temos um enorme problema com a aglomeração de edifícios de apartamentos. Foi iniciado um projeto de saneamento urbano e de moradias. No quarto ponto, trata-se da repressão. Naturalmente que o Estado não pode permitir o surgimento de áreas que vivem à margem da Justiça. Todas estas medidas, no entanto, não terão efeitos rápidos.

As medidas tomadas estão no caminho certo?

Acredito que sim. Os resultados mais visíveis são os da modernização das áreas habitacionais. As outras medidas precisam de mais tempo. A situação do emprego naturalmente que depende da economia. E esta no momento não está bem. O fracasso na escola é outro grande problema. Sabemos que as chances de trabalho aumentam com o êxito na escola. Para combater o fracasso na escola, não basta um punhado de professores.

Como se combate a discriminação dos jovens?

Você pode proibir a discriminação, mas tente mudar a mentalidade de um empresário que tem restrições a imigrantes. Ha também exemplos de discriminação positiva. Uma das maiores universidades de elite, a "Sciences Po", o Instituto de Ciências Políticas de Paris, fez uma espécie de acordo com ginásios de áreas problemáticas, onde garante o estudo a um determinado contingente de alunos destes colégios.

O sindicato da polícia Action Police advertiu que a violência ganha influência islâmica...

A partir dos conflitos do ano passado, não se pode dizer isso. Pelo contrário, houve alguns representantes da comunidade islâmica que se tornaram importantes parceiros dos prefeitos, por serem os únicos a exercerem influência sobre os jovens. Num barril de pólvora não se pode excluir por completo tal possibilidade. Mas no momento não vejo nenhum perigo neste sentido.