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Vítimas de médico nazista serão sepultadas após 60 anos

dpa/pc8 de março de 2002

Os cérebros de mais de 600 crianças, assassinadas no âmbito do programa de eutanásia dos nazistas, serão finalmente enterrados no cemitério central de Viena, no dia 28 de abril.

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Heinrich Gross teve participação ativa no programa nazista de eutanásiaFoto: AP

Durante 60 anos, os órgãos desses menores foram conservados em frascos pelo médico nazista austríaco Heinrich Gross, que participou do assassinato de várias crianças. Os parentes tiveram de esperar 60 anos para que essas crianças fossem reconhecidas oficialmente como vítimas do nazismo. Ao passo que o Dr. Gross, hoje com 86 anos, tornou-se um dos mais ricos e conceituados psiquiatras da Áustria do pós-guerra.

Entre 1939 e 1945, 789 crianças, das quais 51 alemãs, morreram na clínica de doenças nervosas Am Spiegelgrund de Viena. A maioria foi brutalmente assassinada. Todas essas crianças nasceram com defeitos congênitos, como idiotice, mongolismo, sérias paralisias ou deformações. Levadas para a clínica de Viena contra a vontade dos pais, elas morreram aí de fome ou envenenadas com injeções. Seus corpos foram enterrados no cemitério central de Viena, mas seus cérebros foram conservados sem que os parentes fossem informados.

Silêncio e hipocrisia

– Dos parentes dessas crianças, só restam hoje 20 sobreviventes, que estão preparando o enterro junto com as autoridades de Viena. A Áustria, que foi ocupada e anexada antes da guerra pelas tropas do Terceiro Reich, definiu-se oficialmente como a "primeira vítima de Hitler", isentando-se assim de toda responsabilidade pelos crimes nazistas e descartando qualquer indenização.

Portanto, depois da guerra, os menores assassinados na clínica de Viena não foram oficialmente considerados vítimas do nazismo. Esta postura começou a mudar na década de 90. Os horrores nazistas começaram a ser trazidos à tona em vários encontros científicos e o médico nazista Heinrich Gross foi levado à Justiça. Seu processo foi entretanto arquivado por causa de "demência avançada".

Esclarecimento

– O enterro dos cérebros das crianças é, para as autoridades austríacas, mais um passo no processo de esclarecimento do passado nazista. "O enterro não pode se tornar um alibi e nem um ponto final", exigem os sobreviventes desse inferno. Um deles é um homem que se tornou uma das principais testemunhas no processo contra o Dr. Gross. Mas ele luta até hoje para limpar sua ficha na polícia, por causa de um roubo de alimentos durante a guerra.