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A luta de um marfinense pelos direitos dos homossexuais em África

Miranda, Debora18 de março de 2013

Só uma dezena de países africanos assinou a convenção das Nações Unidas de 2011 que condena a discriminação contra as minorias sexuais. A homofobia persiste no continente, mas também há casos positivos.

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Stéphane Djedje é cristão e é homossexual. Diz que no seu país natal, a Costa do Marfim, ia à igreja "oito dias" por semana. Durante 16 anos pediu perdão por ser quem era, chorou e rezou para mudar. Hoje estuda Direito no Reino Unido. Antes também estudou Teologia no país e foi vítima de discriminação:

"Durante a aula levantei o braço e disse que não faz mal ser gay. Como cristão, acredito que Deus ama toda a gente", conta.

Mas o seu ato teve consequências. Stéphane foi chamado a uma reunião com o diretor, nigeriano, e o seu assistente sul-africano. Nessa altura, perguntaram-lhe se era homossexual. O marfinense não se coibiu e disse que sim. "Então, eles responderam: se não quer ajuda terá de sair da escola". Foi isso mesmo que Stéphane fez.

"Terá de me aceitar como sou"

Sem um estabelecimento de ensino, o marfinense não podia validar o seu visto de estudante no Reino Unido. Encontrou outra universidade.

Quando se reuniu com o diretor disse que era homossexual - "terá de me aceitar ou rejeitar como sou", disse na ocasião. O diretor respondeu que podia ficar. Ainda assim, Stéphane continuou a encontrar dificuldades.

"Eu era o único negro, o único gay, e toda a gente sabia e comentava. Foi esgotante, eu acordava de manhã e não queria ir para as aulas", lembra. "O ódio era tão grande que eu realmente olhava para o espelho e queria mudar, mas era impossível. Mas consegui acabar o meu curso", diz hoje, orgulhoso.

África e a Europa

Agora, o seu movimento, House of Rainbow, dita que é possível ser-se gay e cristão. O movimento trabalha na Nigéria, Lesoto, Burundi, Malawi, Costa do Marfim, e também no Reino Unido, França, Holanda - e Alemanha, onde Stéphane quer viver. Ele gosta do sentimento de liberdade da comunidade gay alemã e compara o progresso entre África e a Europa:

"Na verdade são iguais, mas não estão ao mesmo nível histórico. O que África está a sofrer agora foi o que a Alemanha viveu há muitos anos. Somos pouco pacientes em África porque, com a velocidade atual da informação, vemos que os homossexuais já podem casar e ser quem são", refere.

Nem tudo é negativo

Hoje em dia, há 36 países africanos onde a homossexualidade ainda é considerada ilegal. No Zimbabué, por exemplo, o novo projeto constitucional proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O Presidente zimbabueano, Robert Mugabe, tem-se oposto fortemente aos direitos dos homossexuais.

Mas cada país africano é diferente, ressalva Marc Epprecht, professor canadiano de estudos de desenvolvimento. Moçambique e Cabo Verde estão na linha da frente no que se refere a este tema, explica.

"Muitos moçambicanos emigraram para a África do Sul, e durante mais de 100 anos houve relações entre pessoas do mesmo sexo. Havia um conhecimento de que isto acontecia. Penso que as ex-colónias portuguesas eram mais honestas do que outros países africanos".

Segundo o especialista, ambos os países servem hoje como um modelo alternativo ao que Epprecht chama de "predadores hipócritas do ocidente que dizem para fazer isto ou aquilo".

Autora: Débora Miranda (Londres)
Edição: Guilherme Correia da Silva / Helena Ferro de Gouveia