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A revolução verde de Bill Gates em África falhou?

Daniel Pelz
14 de agosto de 2020

Estudo evidencia que projeto da Fundação Bill e Melinda Gates que visava diminuir a escassez de alimentos em África fracassou. Agricultores envolvidos no projeto estão endividados e a fome aumentou nos países parceiros.

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Sudanesische Bäuerin reinigt ausgedroschene Sorgum-Körner
Foto: picture-alliance/dpa

A Aliança para a Revolução Verde em África, AGRA, criada com o apoio da Fundação Rockfeller e da Fundação Bill & Melinda Gates, não está a cumprir os seus principais objetivos.

Em 2006, a Aliança comprometeu-se a dobrar a renda de 20 milhões de pequenos agricultores e reduzir para metade a escassez de alimentos em 20 países africanos até 2020. Mas esta promessa ainda não foi cumprida.

Segundo a especialista agrícola Mutinta Nketani, da Zâmbia, este não é o único objetivo que a AGRA, o projeto do fundador da Microsoft e da mulher, não conseguiu alcançar.

"Acho que a maior crítica é que este modelo não conseguiu atingir os seus próprios objetivos. Este facto deveria levantar uma bandeira vermelha, não apenas para as organizações da sociedade civil, mas para os países onde a AGRA está a trabalhar, para a própria AGRA e seus financiadores.”

Fome aumentou

Bill und Melinda Gates Archiv 2010 in London
Melinda e Bill GatesFoto: picture-alliance/dpa

Mutinta Nketani é uma das autoras de um estudo conduzido por várias organizações de desenvolvimento alemãs e africanas em conjunto com a Fundação Rosa Luxemburgo. A pesquisa comprova a ineficácia de muitos projetos da AGRA.

O estudo evidencia que o número de pessoas que passam fome nos 13 países parceiros da AGRA não diminuiu, mas cresceu em quase um terço. A produtividade agrícola passou a aumentar num ritmo mais lento em oito países desde o início das atividades da AGRA.

Agricultores contraíram dívidas

Um fator ainda mais grave é o endividamento de pequenos produtores beneficiados. A organização treina os agricultores para ter acesso à tecnologia, sementes e fertilizantes. Mas os agricultores da Zâmbia, por exemplo, contraíram dívidas, porque a renda esperada não se concretizou.

O Governo da Zâmbia também comprou sementes e fertilizantes a preços elevados para distribuir aos pequenos agricultores e acumulou uma dívida de quase 90 milhões de euros.

"A questão é: Quais são os interesses que a AGRA promove? Quais produtos esta organização promove? Na Zâmbia, por exemplo, foram, na maioria dos casos, produtos de empresas privadas de sementes e de fertilizantes. E a maior parte das empresas produtoras de sementes na Zâmbia é multinacional”, observa Nketani.

Kofi Annan verspricht afrikanischen Landwirten «Grüne Revolution»
Kofi Annan de visita a um campo agrícola no Quénia, em 2017, no contexto do AGRAFoto: picture-alliance/ dpa/E. Parsons

O estudo conduzido com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo revela o processo de acidificação do solo devido ao uso excessivo de fertilizantes. Para além disso, a AGRA incentiva a produção de monoculturas como o milho, e ignora a vegetação local.

Interesses paralelos?

Estas alegações são sérias, uma vez que a AGRA recebe muitos apoios de doadores do Ocidente. Dirk Schattschneider, representante da iniciativa "Um mundo sem fome", do Ministério para a Cooperação e Desenvolvimento alemão, diz que a Aliança goza de grande reconhecimento de muitos governos africanos, da União Africana e da sociedade civil.

"Para o futuro, é preciso haver dados de impacto mais eficazes ​​sobre as atividades da AGRA. Nós estamos a dialogar com a Aliança para que, no futuro, os seus projetos abram mais espaço para abordagens agroecológicas."

Em resposta por escrito às questões da DW, o chefe de estratégia da AGRA, Andrew Cox, rejeitou as críticas feitas pelo estudo apoiado pela Fundação Rosa Luxemburgo e disse que a análise "não foi realizada de forma transparente”.

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