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Acidentes de viação, a segunda causa de morte em Angola

17 de novembro de 2018

O fenómeno da sinistralidade rodoviária só é ultrapassado pela malária no ranking de causas de morte em Angola. No domingo (18.11), Luanda assinala o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada com uma marcha.

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Angola Rohstoffe
Foto: DW/Renate Krieger

Todos os anos morrem milhares de pessoas nas estradas angolanas e outras ficam com mobilidade reduzida para toda a vida. É o caso do tio de Januário Sebastião que "ficou coxo” na sequência de um desastre rodoviário em 2004. "Ele vinha da província do Zaire. Partiu a perna e o carro ficou danificado”, conta Januário Sebastião.

Há três anos, o jornalista angolano Jorge Neto estava ao volante da sua viatura quando se despistou. "Foi uma experiência terrível. Nós nunca prevemos o que vai acontecer. Passei o dia numa correria e chegou uma altura em que o corpo já não suportou o cansaço”, recorda. "Adormeci e quando dei por mim já tinha batido e capotado”, disse.

Angola registou em nove anos, de 2008 a 2017, um total de 140 mil acidentes de viação, com 17 mil mortos e 130 mil feridos, segundo dados da Direção Nacional de Viação e Trânsito (DNVT).

Angola Verkehrsstau in Luanda
Em nove anos, morreram 17 mil pessoas nas estradas de AngolaFoto: DW/Nelson Sul d'Angola

As principais causas da sinistralidade

São várias as causas na origem da alta sinistralidade em Angola. As mais frequentes são o incumprimento das regras de trânsito, bem como a condução sob o efeito de álcool. Mas o jornalista Jorge Neto aponta outras: "A fraca iluminação pública é um dos grandes problemas da sinistralidade e associa-se a isso o mau estado das vias”, defende.

Os acidentes de viação também encurtam a carreira de muitos artistas em ascensão. Em 2004, o kudurista angolano Virgílio Mateus da Silva, conhecido por "Virgílio Fire", sofreu um trágico acidente. Hoje, o autor do sucesso musical "Estamos sempre a subir” desloca-se numa cadeira de rodas. No final de julho deste ano, o conhecido humorista Kotingo teve um acidente na estrada Luanda-Bengo. O artista ficou em estado crítico e acabou por ver um dos seus membros superiores amputados.

Ainda de acordo com a DNVT, só nos últimos nove meses de 2018, 1.776 pessoas morreram nas estradas de Angola. No mesmo período, 8.484 ficaram feridas num total de 8.301 acidentes registados.

Angola Verkehrsstau in Luanda
A sinistralidade rodoviária só é ultrapassada pela malária no ranking das causas de morte em AngolaFoto: DW/Nelson Sul d'Angola

Os acidentes de viação constituem a segunda principal causa de morte no país depois da malária. Por esta razão, a sinistralidade rodoviária é motivo de reflexão pelo menos uma vez por ano. O Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada foi instituído pela resolução A60 de 25 de outubro de 2005, das Nações Unidas, que decreta o terceiro domingo de novembro como data da efeméride.

"É aquele dia em que se reflete sobre as pessoas que morreram e que ficaram feridas nas estradas”, disse António Pinduka, segundo-chefe do Departamento de Prevenção Rodoviária da DNVT. "Neste domingo, começaremos uma semana de prevenção rodoviária”, acrescentou o responsável.

Um minuto de silêncio

Na sexta-feira (16.11), abriu em Luanda uma feira de acidentes que expõe até domingo os meios sinistrados, como forma de alerta para a importância da prevenção.

No domingo, em Luanda, a DNVT e os seus parceiros realizam uma marcha que terá início no Largo das Heroínas e cujo destino é o Largo do Soweto, onde decorre a exposição. Durante a marcha, será realizado um "minuto de silêncio” em memória das vítimas dos acidentes rodoviários. "As 12h00 (hora de Angola), far-se-á um minuto de silêncio em homenagem aos que morreram e ficaram feridos. Na verdade, todos nós, direta ou indiretamente, temos um amigo que morreu ou que ficou ferido num acidente”, comenta António Pinduka.

As autoridades nacionais têm em curso uma campanha de sensibilização para reduzir a condução sob o efeito de álcool. A medida tem estado a reduzir o número de acidentes, de acordo com a DNVT. "É necessário também criar condições. Se andar pelas estradas de Luanda, verá que cerca de 80% [das vias] não são iluminadas”, conclui Jorge Neto.