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Africanos desiludidos viram costas à Europa

Emmanuelle Landais (Dakar) / ms30 de junho de 2016

Muitos migrantes de África não sabem o que os espera quando chegam ao velho continente. São então confrontados com a amarga realidade de que a Europa não é o paraíso. Alguns optam por voltar para casa e começar de novo.

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Libyen Flüchtlinge aus Afrika auf dem Weg nach Europa verhaftet
Foto: picture-alliance/AA/H. Turkia

A maioria dos migrantes que saem da África Subsaariana e da África Ocidental tentam escapar da pobreza, do desemprego e da insegurança alimentar. É cada vez maior o número de requerentes de asilo que põem as suas vidas em risco ao tentar atravessar o mar Mediterrâneo de barco. Mas o sonho europeu continua a ser uma miragem para a maioria. E para os que conseguem chegar ao velho continente a vida nem sempre é o que esperavam. Por isso, muitos optam por regressar a casa.

Mantany Dieye, de 46 anos, foi um dos que regressou voluntariamente ao Senegal. Quando voltou ao país natal, há cerca de meio ano, recebeu um pequeno subsídio para abrir uma mercearia num dos mercados da capital, Dakar.

O senegalês viveu 11 anos em Espanha como imigrante ilegal. Para sobreviver, vendia relógios baratos e sacos nas praias. Partiu no final de 2005 para a Europa, de barco, para tentar encontrar trabalho para alimentar a família. "Não conhecia ninguém e não sabia para onde ia", conta. "Não sei de onde partimos, só me disseram que íamos para a Espanha".

Sonhos frustrados

Mantany, que vivia em Saint Louis, no norte do Senegal, pensava que viajar para a Europa por barco era a única forma de garantir um futuro melhor. Acreditava que chegaria "ao paraíso", onde se recebe quando se trabalha. Mas a crise financeira trocou-lhe as voltas. "Eu era um ilegal, não tinha nada", recorda.

Senegal Lebensmittelgeschäft in Dakar - Mantany Dieye
Depois de 11 anos em espanha, Mantany Dieye decidiu regressar ao SenegalFoto: DW/E. Landais

Aos que pretendem partir, diz que "devem ficar e encontrar uma solução", arranjar trabalho no país. "Mas aqui é tudo tão difícil que não acreditam em mim".

Durante dez anos, o senegalês poupou o máximo que conseguiu, até ter 800 euros para a travessia marítima até Espanha. Demorou sete dias a viagem até às Ilhas Canárias, juntamente com outras 95 pessoas. Só contou à família quando lá chegou.

A vida na Europa era mais difícil do que tinha imaginado. Vivia num apartamento apertado com outros sete senegaleses. Quando decidiu voltar ao Senegal, Mantany Dieye informou-se sobre as operações de repatriamento, organizadas conjuntamente pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Governo senegalês. Foram eles que o ajudaram a regressar.

"Foi a melhor decisão que já tomei. Nunca mais quero voltar. Lá, sofria todos os dias", afirma, lamentando ter deixado a sua mulher durante 11 anos e nunca ter conseguido o que pensava alcançar a trabalhar na Europa. "Não tinha dinheiro e o trabalho era duro".

Várias patrulhas têm tentado impedir a saída de barcos da costa do Senegal. Em 2015, terão chegado à costa do Mediterrâneo cinco mil senegaleses, de acordo com os números da Organização Internacional para as Migrações.

"Houve um ligeiro aumento de chegadas de senegaleses a Itália. O aumento tem sido gradual desde 2014", explica a diretora da OIM no Senegal. Segundo Jo-Lind Roberts-Sene, há dez anos, os migrantes saíam quase unicamente por mar para tentar chegar às Ilhas Canárias. "Mas agora há muitos senegaleses que saem do país e vão até ao Níger, ao Burkina Faso e sobem até à Líbia. A rota marítima agora já não é tão utilizada."

Libyen Flüchtlinge aus Afrika auf dem Weg nach Europa verhaftet
Para muitos milhares de africanos, a viagem termina na LíbiaFoto: picture-alliance/AA/H. Turkia

Ajudas insuficientes

Este ano, mais de 2.500 senegaleses foram parar a centros de detenção em Itália. Mas para muitos milhares a viagem termina na Líbia. Alguns optam por voltar para casa. Os que têm projetos na área da agricultura, pecuária, a agricultura ou comércio recebem um apoio financeiro da OIM.

Quando regressam a Dakar, há migrantes que recebem apenas uma sanduíche e 150 euros de ajuda do Governo. Algo que Boubacar Seye, presidente da organização Horizon Sans Frontiere, lamenta.

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"Hoje em dia, o mais urgente é criar oportunidades de formação e emprego para reter esses jovens", defende.

"É preciso criar estratégias e considerações operacionais e algumas pessoas estão em posição de fazê-lo, mas infelizmente não estão incluídas no debate. Aqui, o que lhes convém é receberem uma chamada da Europa para receberem fundos para combater a imigração ilegal", critica Boubacar Seye, que não tem dúvidas de que esses fundos "não beneficiam os que têm direito às ajudas".

Desde o início de 2015, o Senegal já repatriou mais de mil migrantes.

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