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Ainda há quem tenha saudades de Yahya Jammeh na Gâmbia

Fred Muvunyi | mjp
26 de abril de 2018

O atual Presidente Adama Barrow conseguiu afastar do poder o seu antecessor, mas a Gâmbia ainda está dividida. Como condição para a reconciliação, apoiantes de Jammeh pedem um regresso digno para o ex-chefe de Estado.

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Ex-Presidente partiu para o exílio na Guiné Equatorial em janeiro de 2017Foto: Picture-Alliance/dpa/J. Delay

O antigo Presidente Yahya Jammeh nasceu na aldeia de Kanilai, no distrito de Foni Kansala. Musa Amul Nyassi, membro do Parlamento, está em frente à sua casa em Bwiam, uma aldeia vizinha, onde Jammeh foi à escola. A população conhece-o bem e cumprimenta-o com um sorriso. Nyassi era ministro do Território no Governo de Jammeh.

Numa demonstração de apoio ao antigo Presidente, os habitantes de Bwiam trazem t-shirts com a imagem de Jammeh e bandeiras do APRC, o partido político do ex-chefe de Estado, agora na oposição. Para muitos gambianos da região de Foni, incluindo o deputado Nyassi, Yahya Jammeh é o pai da nação e deve poder regressar de forma digna do exílio na Guiné Equatorial, para onde partiu em janeiro de 2017.

A Gâmbia rumo à reconciliação

Como condição para a reconciliação, apoiantes de Jammeh, na região da Costa Ocidental, pedem ao Governo um regresso digno para o ex-chefe de Estado. "Ele trouxe ao país um desenvolvimento sem precedentes, que nenhum gambiano poderia imaginar. Depois de tudo o que ele fez pelo país,  deveria ter o direito de voltar e ficar na Gâmbia como qualquer outro cidadão", diz Musa Amul Nyassi.

No distrito de Foni, Jammeh construiu um mercado moderno e deu a todas as famílias o acesso a água e eletricidade gratuitas. Hoje, a vida é diferente. Especialmente para as vendedoras. "Desde que o nosso Presidente partiu, não estamos felizes. Já não temos electricidade. Vendemos peixe aqui. Não há água", lamenta Oumie Ceesay.

Segundo o ministro da Informação e Infraestruturas, Demba Ali Jawo, há acesso a água e electricidade. Mas é preciso pagar e é por isso que as vendedoras protestam. "Quando Jammeh estava no poder deu algumas vantagens a algumas zonas. Isso não era justo para o resto do país. Uma localidade com acesso gratuito a água e electricidade, às custas do Estado, enquanto outras nem electricidade tinham. O Governo está a tentar redistribuir os recursos de uma forma mais equilibrada", justifica o ministro.

No banco dos réus?

Na costa ocidental, há quem peça que Jammeh regresse de forma digna, mas a maioria da população quer que o ex-Presidente seja julgado pelos alegados crimes que cometeu enquanto esteve no poder.

Ainda há quem tenha saudades de Yahya Jammeh na Gâmbia

Os seus apoiantes, como o deputado Amul Nyassi, acusam o atual Governo de perseguição: "Não podem estar sempre a atacar um partido, a deter as pessoas, a levá-las a tribunal e intimidá-las. É aqui que divergimos sempre com o actual Governo".

Depois de a CEDEAO ter ameaçado removê-lo à força, Yahya Jammeh aceitou sair do poder, levando consigo vários carros de luxo e dinheiro. O Presidente da Guiné-Equatorial, Teodoro Obiang, recebeu-o de braços abertos.

À distância, Jammeh continua a reinar nos corações de muitos gambianos na região de Foni, um obstáculo no processo de reconciliação. O Governo está a adoptar algumas medidas estratégicas para lidar com os apoiantes do ex-Presidente e o seu legado problemático, explica Ali Jawo. "Estamos muito otimistas. Com o tempo, as pessoas vão perceber que o Presidente Jammeh foi embora e nunca deverá voltar ao país como líder", afirma o ministro.

Com uma nova liderança, a maioria dos cidadãos da Gâmbia pode expressar as suas opiniões sem temer pela vida. Mas mais de um terço da população ainda vive abaixo do limiar de pobreza, com menos de um dólar por dia.