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Angola: Coronavírus não pode ser pretexto para violência

30 de março de 2020

Amnistia Internacional alerta que o estado de emergência não pode ser "utilizado para outros caminhos". E além do acesso aos cuidados de saúde, é preciso garantir que bens essenciais não faltem aos angolanos.

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Protest in Luanda
Polícia em ação durante protesto em LuandaFoto: DW/L. Ndomba

"As forças de segurança não podem usar este estado de emergência para uso excessivo de violência no controlo das pessoas, não podem utilizar esse pretexto para o uso desproporcional da violência", afirma Pedro Neto, diretor da Amnistia Internacional Portugal, em declarações à DW África sobre o estado de emergência, entrou em vigor em Angola na passada sexta-feira (27.03) e impõe restrições à circulação de pessoas, além de medidas de isolamento e quarentena.

As Forças Armadas Angolanas ordenaram um reforço dos patrulhamentos nos centros urbanos e suburbanos, que têm ordens para recolher pessoas e viaturas militares e civis que transgridam as novas regras.

Nas ruas já se nota esse reforço policial. E nas redes sociais começam a surgir denúncias de excessos e intensificam-se os apelos à ponderação das autoridades, sobretudo no caso dos vendedores ambulantes, que dependem do que vendem nas ruas para alimentar as famílias.

Pedro Neto
Pedro Neto é diretor da Amnistia Internacional em PortugalFoto: DW/J. Carlos

"Este estado de emergência não pode ser utilizado para outros caminhos", frisa Pedro Neto, que dá como exemplo o que está a acontecer nos Estados Unidos, com o Presidente "Donald Trump a revogar legislação de proteção ambiental à boleia do estado de emergência". Ou a Hungria, onde o Governo "procura silenciar a oposição, a imprensa e organizações não-governamentais que são contra eles", acrescenta.

"Alguns líderes políticos estão a fazer coisas que queriam já fazer há muito e estão a aproveitar-se indevidamente do estado de emergência para o fazerem, sem que essas medidas tenham propriamente a ver com a saúde", critica o diretor da Amnistia Internacional.

Bens essenciais e cuidados de saúde

Durante o estado de emergência, "é preciso garantir que os bens essenciais não faltem aos angolanos" e que haja "procedimentos corretos para diagnosticar os doentes e para os tratar", defende Pedro Neto. "Só assim se poderá mitigar a pandemia, com um bom diagnóstico, com testes e depois com boa mitigação", diz. Mas para que isso aconteça, o estado de emergência "não pode ser usado para discriminar as pessoas", lembra o responsável da Amnistia Internacional.

O autoisolamento "será difícil" em muitos bairros e cidades angolanas, salienta, "e os grupos que são marginalizados e os grupos que estão mais em risco têm de ser especialmente protegidos durante este tempo." Por isso, Pedro Neto pede que o Governo dê "especial atenção às pessoas mais vulneráveis", que vivem na pobreza.

Por outro lado, sublinha que "é essencial que os governos tomem medidas que garantam os direitos humanos", nomeadamente o acesso a cuidados de saúde.

Angola Kwanza Norte | Coronakrise in Ndalatando: Mediziner arbeiten ohne Schutz während der Coronakrise
Médicos trabalham contra o coronavírus no Kwanza NorteFoto: DW/A. Domingos

"Temos visto relatos de médicos que não têm equipamento e proteção e as equipas preparadas para este trabalho não se têm mostrado disponíveis, alegando que têm outros trabalhos e outras reuniões, como já vimos na imprensa", exemplifica o diretor da Amnistia em Portugal.

Sete casos confirmados

Angola registou este domingo (29.03) as duas primeiras mortes de pessoas infetadas com o novo coronavírus. O número de casos positivos da doença subiu de cinco para sete. Mais de mil pessoas estão em quarentena institucional - número que, segundo a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, tem vindo a aumentar.

"Faço um apelo aos angolanos de que é importante o isolamento social para conter a cadeia de transmissão do vírus", pediu a responsável pela pasta da Saúde, lembrando que Angola já tem outras epidemias e doenças endémicas com que tem de lutar. "Fiquem em casa" e só saiam em caso de extrema necessidade, apelou Sílvia Lutucuta.

A nível mundial, o novo coronavírus já infetou pelo menos 670 mil pessoas e fez mais de 31 mil mortes, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia. Em África, o número de mortes subiu para 134 e há mais de 4.300 casos em 46 países.