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Analista moçambicano Jaime Macuane baleado

Ernesto Saúl (Maputo) / ms / vr / Lusa23 de maio de 2016

O politólogo José Jaime Macuane foi ferido a tiro por desconhecidos, na manhã desta segunda-feira (23.03), na zona de Marracuene, em Maputo. Está internado num hospital privado da capital, em "situação estável".

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Maputo Sykline
Foto: DW/J.Beck

O professor universitário foi baleado nas duas pernas e abandonado na estrada circular de Maputo, no distrito de Marracuene, no sul do país, noticiou o canal privado moçambicano STV, citado pela agência de notícias Lusa.

De acordo com o mesmo canal, no qual Jaime Macuane é comentador, a sua viatura foi depois levada pelos autores do crime.

Citando a vítima, Pedro Guambe, sogro de José Macuane, afirma que o analista foi intercetado por uma viatura na Coop, um bairro nobre da capital moçambicana. Foi então agredido e levado à força na viatura dos agressores para uma zona isolada de Marracuene, onde foi baleado.

Macuane foi socorrido por populares e levado para o Hospital Central da capital moçambicana, de onde foi transferido para o Hospital Privado de Maputo.

Fernando Lima, jornalista e companheiro de painel do professor no programa "Pontos de Vista", da STV, afirma que falou com o diretor clínico do hospital e que o analista se encontra "estável".

"[José Macuane] foi atingido por quatro tiros, três dos quais não provocaram grandes problemas. No entanto, uma das balas atingiu o fémur e estilhaçou o osso", conta Fernando Lima, acrescentado que esta "fratura complicada obriga a que José Jaime seja sumetido a uma intervenção cirúrgica".

Pedro Guambe, citando o genro, afirmou que "os criminosos disseram que foram mandados para o pôr coxo". Os agressores não estavam encapuzados e levaram os documentos e o telemóvel da vítima.

Fernando Lima Journalist in Mosambik
Fernando Lima, jornalistaFoto: Fernando Lima

"Até onde sabemos, ele não foi ameaçado [antes do rapto]", afirmou Pedro Guambe, que considera que agora cabe às autoridades capturarem os autores do crime.

Ataque não é "uma surpresa"

Fernando Lima acredita que o ataque aconteceu na sequência das críticas que Macuane tem feito à governação no país, olhando para o caso "com preocupação mas sem surpresa".

"No atual clima em que vivemos no nosso país não é nada que nos surpreenda. Nós sabemos que corremos esses riscos e, portanto, não é uma grande surpresa. É triste que estejamos a viver uma situação dessa natureza", afirma o jornalista.

Para Lima, é importante que as pessoas mantenham a sua integridade e não se deixem intimidar por estes atos.

"Outras pessoas, de outras partes de Moçambique, são diariamente baleadas por pessoas sem nome e sem rosto. Este não é um assunto que vem de hoje, vem de há bastante tempo. Quando nos quiserem fazer mal, vão-nos fazer mal. O importante é que tenhamos a nossa postura de integridade, porque se mostrarmos medo e se recuarmos, estamos a atingir os objetivos de quem nos quer intimidar", afirmou.

"Isto é uma violação das normas constitucionais moçambicanas"

Ivone Soares, chefe da bancada parlamentar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), repudia este ato, afirmando que a liberdade de expressão está ameaçada em Moçambique.

Mosambik Parteien Ivone Soares von RENAMO
Ivone Soares, líder da bancada parlamentar da RENAMOFoto: RENAMO

"O que está a acontecer no nosso país é a violação das normas constitucionais que nós próprios como moçambicanos definimos. Balear um cidadão porque expressa livremente a sua opinião, sob encomenda ou seja lá o que for, não se justifica", afirma Ivone Soares. "Foi com choque, com horror que tivemos conhecimento deste macabro atentado que o Doutor José Jaime Macuane sofreu esta manhã, antecedido de rapto".

A chefe da bancada parlamentar da RENAMO afirma que o partido ficou "profundamente chocado que neste país cada vez mais se reduzam espaços para que nós, moçambicanos, possamos dizer alguma coisa sobre os assuntos de interesse público".

A deputada recorda vários casos de atentados e sequestros que atingiram várias personalidades, questionando-se "quem será o próximo". "Parece que há uma lista que está a ser seguida. Em que nós todos talvez estejamos nessa lista e é só questão de, mais dia, menos dia algum de nós estar nesta situação ou pior. É desumano o que está a acontecer. O povo moçambicano nem se pode manifestar", afirma Ivone Soares.Jaime Macuane é regularmente solicitado por órgãos de comunicação social, entre os quais a DW África, para comentar a situação política moçambicana. O programa de debate "Pontos de Vista", no qual participa, é um dos mais vistos no país.

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