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Frustração dos familiares dos presos políticos em Angola

Manuel Ribeiro25 de setembro de 2015

O desespero instala-se entre os familiares e amigos dos 15 ativistas cívicos que estão presos desde junho. O prazo legal para os manter presos sem culpa formal acabou. Alguns dos jovens estão em greve de fome.

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Foto: picture-alliance/dpa

Os jovens estão cada vez mais debilitados devido ao encarceramento em condições precárias que se encontram e que prejudica a sua saúde física e mental.

A esposa de Domingos Cruz, o autor do livro "Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura: Filosofia Política da Libertação para Angola" que os jovens estavam a ler e a discutir quando foram presos no dia 20 de junho, refere que o seu marido “está debilitado, tanto física como psicologicamente.”

Esperança Cruz diz que “está a desencadear-se um sentimento de frustração depois de passados os 90 dias de prisão preventiva”.

Os 90 dias, previstos na lei para deter provisoriamente suspeitos, expiraram no dia 20 de setembro e até à presente data a Procuradoria-Geral da República não conseguiu provar os crimes que estes são indiciados. “Era suposto haver um parecer por parte da Procuradoria-Geral” declara Esperança.

A agravar a frustração junta-se o indeferimento do Tribunal Supremo ao negar o pedido de Habeas Corpus, requerido pela defesa dos ativistas. A esposa do escritor detido confessa o "estado de desespero que começa a entrar".

Domingos Cruz, angolanischer Schriftsteller
Domingos CruzFoto: Domingos Cruz

Nova greve de fome

No dia 21 de setembro, os ativistas Domingos da Cruz, Inocêncio de Brito, Luaty Beirão e Sedrick de Carvalho voltaram à greve de fome. Estes jovens prometem acabar com a greve apenas quando forem libertados.

“Eles estão em greve de fome, é oficial e a prova disso é que estão muito debilitados fisicamente, estão mesmo fracos. É uma situação muito deprimente” conta Esperança Cruz à DW África, uma hora depois de ter visitado esta sexta-feira (25.09) o seu marido na prisão.

Manifestação negada pela terceira vez

A angústia para os familiares e amigos dos jovens levaram-nos a tentar nova manifestação, prevista para sábado 26 de setembro, mas a mesma foi, uma vez mais, recusada pelo Governador de Luanda, Graciano Domingos, que considerou uma manifestação pacifíca de “antidemocrática”.

Os familiares decidiram recorrer da decisão do Governador e apresentaram uma carta queixa ao Tribunal Provincial de Luanda, “remetemos uma carta porque nós apenas solicitamos a manifestação e de acordo com a Constituição a mesma tem de ser avisada e não pedida”, conta Esperança. “Respeitamos todos os tramites legais” e mesmo assim foi negada.

Esperança Cruz declara que “já passou o tempo da prisão preventiva e por isso as autoridades não podem negar a manifestação. Do ponto de vista constitucional a investigação poderia decorrer com normalidade com eles fora da prisão. Nem os advogados sabem porque os jovens estão presos. Dizem que são presos políticos. Não vamos ficar paradas, não vamos descansar."

Pressão da eurodeputada Ana Gomes valeu a penaA esposa de Domingos Cruz reconhece o trabalho da eurodeputada Ana Gomes junto da Comissão Europeia para que pressione o Governo de Angola a respeitar os direitos humanos no seu país.

“Eles, [os políticos], pensam que a eurodeputada é uma inimiga mas nota que o povo, com uma visão critica muito forte do ponto de vista político-social, acha que valeu a pena. Mesmo os políticos sendo prepotentes e arrogantes tê dito que ela não pode mandar no nosso país, nas nossas leis. Mas ainda bem e valeu a pena a pressão. Isso quer dizer que o mundo está ligado a nós.

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A mãe de Nito Alves, Adália Chivonde, que foi agredida pela policia no último protesto que tentaram fazer, está cansada de toda esta situação e passa todo o tempo que pode junto do seu filho. “É meu filho, é meu sangue. Eu só quero a liberdade dele, já não quero mais nada, já não tenho mais palavras”, desabafa Adália Chivonde.

Angola Adália Chivonde in Luanda
Adália Chivonde, mãe de Nito AlvesFoto: DW/N. Sul d'Angola