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Angola: 500 mil empregos até 2021?

26 de abril de 2019

A criação de 500 mil postos de trabalho foi uma das promessas eleitorais do Presidente João Lourenço em 2017.

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Protesto em dezembor de 2018: "Por kunangar [estar desempregado] perdi o respeito em casa!"Foto: DW/B. Ndomba

Em Angola, duvida-se que, com o Plano de Ação para Promoção da Empregabilidade (PAPE), o Governo de João Lourenço consiga cumprir a promessa eleitoral de garantir 500 mil empregos para os angolanos, apesar de disponibilizar o equivalente a 58 milhões de euros para o combate ao desemprego.

Em declarações à DW África, o jornalista angolano Jorge Neto afirma que o principal obstáculo ao cumprimento da promessa é a corrupção que ainda grassa no país.

"Fala-se em luta contra a corrupção, mas são os mesmos corruptos que estão colocados nos mesmos postos, e isso não vai mudar agora. Portanto, eu não acredito que até 2021 se consiga criar estes postos de trabalho", comenta Neto.

Angola Luanda Joao Lourenco
Presidente da República de Angola, João LourençoFoto: DW/A. Cascais

Decreto para combater o desemprego

O Presidente angolano aprovou, na semana passada, por decreto, o PAPE para combater a taxa de desemprego no país, estimada em quase 29%. Os 58 milhões de euros previstos no plano provirão do Orçamento Geral do Estado e do Fundo Petrolífero, devendo beneficiar sobretudo os jovens ou quem procura o primeiro emprego.

Jorge Neto, diretor do Jornal Manchete, alerta que é "preciso ter-se muita atenção para que esse dinheiro também não vá parar a sítios onde sabemos que já foi parar muito dinheiro".

"O valor disponibilizado é, de facto, relevante. Agora, a eficiência, a eficácia dos projetos, a seriedade desta empreitada é que poderá colocar em causa a eficiência. Não é o problema da crise", acrescenta.

Angola é assolada por uma crise económica e financeira desde finais de 2014 como consequência da baixa do preço do petróleo no mercado internacional. Mas o jornalista diz que isso já não é desculpa, pois, os próprios empresários adaptam-se.

"É de louvar"

Para o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, 58 milhões de euros para o emprego dos jovens é uma ótima notícia.

Em dezembro do ano passado, Teixeira foi para as ruas de Luanda protestar contra a demora na criação dos 500 mil postos de trabalho prometidos por João Lourenço. Mas agora aplaude a iniciativa do Presidente: "É uma medida de louvar por parte da Presidência da República. Mostra que é um Presidente sério, porque na época eleitoral ele prometeu e está agora a tentar cumprir", diz o líder do MEA.

Angola: 500 mil empregos até 2021?

No entanto, o dirigente associativo pede a inclusão de instituições juvenis na fiscalização da implementação destes projetos e não apenas o Instituto Nacional do Emprego e de Formação Profissional (INEFOP), como prevê o decreto presidencial.

"Há necessidade de se criar um gabinete técnico de jovens para supervisionar o processo. Porque os processos são entregues a determinadas instituições do Estado, mas sem o acompanhamento direto das instituições juvenis", adverte. 

Evitar partidarização

Isso evitará também a partidarização do projeto, refere ainda Teixeira - para que não seja preciso ter cartão do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), para beneficiar do dinheiro.

"Temos assistido noutros projetos a uma atitude menos boa dos membros da juventude do MPLA. São eles que definem os projetos, quem vai e quem não vai, e depois vão pedir cartão de militante. Estamos numa outra república, estamos numa sociedade diferente - há quem diga que estamos num país novo. Há necessidade de a cidadania superar as questões partidárias", sublinha o líder do MEA.

Durante a campanha eleitoral, o Presidente João Lourenço não prometeu apenas a criação de 500 mil postos de trabalho. Prometeu também combater a corrupção e a impunidade, apoiar o empresariado nacional e melhorar as condições de vida da população.

O jornalista Jorge Neto lembra o chefe de Estado que o seu "período de graça" já terminou e é hora de pôr a "mão na massa".

Angola Junge Arbeitslose protestieren
Marcha contra o índice de desemprego realizada em dezembro do ano passado em LuandaFoto: DW/B. Ndomba

"Quero acreditar que a disponibilidade deste plano de ação e promoção de empregabilidade que o Presidente da República acabou de criar através do Decreto 113/19, de 16 de abril, vem exatamente dar indicativos de que já não há tempo para mais, ou seja, 'fiz promessas eleitorais, tenho agora  que cumprir'." 

Desemprego aumentou 8,8 %

O desemprego em Angola aumentou 8,8% e atinge mais as famílias que vivem nos grandes centros urbanos, noticiou esta sexta-feira (26.04) o jornal angolano Expansão, que cita um relatório do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) sobre o Inquérito de Despesas, Receitas e Emprego em Angola (IDREA), divulgado na semana passada.

Segundo o documento do INE, por cada 100 jovens com idades entre os 15 e os 24 anos, 52 estavam no desemprego em 2018 - ao todo, 2,1 milhões de pessoas.

Ainda de acordo com o INE, entre março de 2018 e fevereiro de 2019, 60% dos jovens com idades entre os 18 e 19 anos estavam desempregados, sendo esta faixa etátria a mais afetada pelo desemprego em Angola.

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