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Angola e Israel: Transferência de embaixada para Jerusalém?

8 de junho de 2018

O embaixador israelita em Angola acredita que o Governo angolano possa decidir pela transferência da sua embaixada de Telavive para Jerusalém. Mas para o professor Eugénio Almeida, isto não seria "viável".

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Ministério das Relações Exteriores de Angola, em LuandaFoto: DW/V. T.

O embaixador de Israel em Angola afirmou esta semana, numa entrevista à agência de notícias Lusa, que acredita que o Governo angolano poderá transferir a sua embaixada de Telavive para Jerusalém, tal como os Estados Unidos, a Guatemala e o Paraguai já o fizeram.

Para Oren Rozenbat, a boa relação entre israelitas e angolanos poderia favorecer esta alteração. "Nós cremos que a embaixada de Angola em Israel também vai mudar para Jerusalém, porque é a nossa capital. Se por exemplo Israel decide que a nossa embaixada em Angola vai mudar para o Lubango [sul de Angola] isso é uma loucura, porque todo o Governo de Angola está em Luanda", disse o embaixador à Lusa. 

Entretanto, a DW África conversou com o analista político angolano Eugénio Almeida, para quem a transferência não seria "viável". Segundo o investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal, esta alteração não trará "vantagens enquanto a situação não for devidamente analisada e ponderada" pelo Governo de Angola.

Eugenio Costa Almeida
Eugénio Almeida, investigador angolanoFoto: Almeida

DW África: Como é a relação de Angola com Israel e a Palestina?

Eugénio Almeida (EA): Eu creio que é um pouco difícil diferenciar claramente as relações entre angolanos e israelitas, e angolanos palestinianos, porque há uma evolução política. Por exemplo, em termos de "solidariedade de povos", é evidente que os angolanos continuam a estar muito próximos dos palestinianos. Mas em termos económicos, Angola está claramente do lado israelita, como se tem verificado com os apoios que Israel nos tem dado a nós, nomeadamente a nível da agricultura, da fruticultura, a nível mesmo hídricos. Portanto, nesse aspeto os interesses são esses. 

DW África: E acha possível Angola manter essa posição um tanto quanto equilibrada, ao mesmo tempo em que tem esses interesses económicos em Israel e, digamos, sociais na Palestina?

EA: Desde que os Governo saibam separar os interesses nacionais dos interesses privados, todos podem se dar bem uns com os outros. Por exemplo, vivo em Portugal, e Portugal vive bem com Israel e com a Palestina. Nesse aspecto penso que nós em Angola temos que saber, e nós temos bons diplomatas nesse aspeto, que as relações com todos os países e todos os povos sejam as mais harmoniosas possíveis, sem colidirem. O interesse nacional primeiro, sem pôr em causa os interesses internacionais.

Angola e Israel: Possível transferência de embaixada para Jerusalém?

DW África: Qual seria o interesse de Angola em transferir a sua embaixada para Jerusalém?

EA: Não sei se isto será efetuado. Basta dizer que o embaixador de Angola em Israel foi alvo de uma reprimenda [por parte do Ministério de Relações Exteriores de Angola] por ter participado nas festas de transferência da Embaixada dos Estados Unidos de Telavive para Jerusalém. E, por muito que as boas relações possam existir entre os países, Angola pauta-se por acompanhar muito o que é definido pelas Nações Unidas. Ora, Jerusalém, pelas Nações Unidas, é uma cidade livre que é para ser dividida entre a Palestina e Israel.

DW África: Para o embaixador de Israel em Angola, esta transferência é também uma questão prática, tornando-se mais viável o acesso dos diplomatas angolanos ao Governo israelita, que está em Jerusalém, e não em Telavive. Acha que esta questão é tão simples assim?

EA: Por exemplo, o Parlamento sul-africano está na Cidade do Cabo, o Governo está em Pretória, os serviços departamentais estão em Joanesburgo. Portanto, é uma triangulação de cerca de três mil quilómetros. Há alguma coisa que impeça de os diplomatas, os empresários e os governantes que visitam a África do Sul de terem contato uns com os outros? Não. Não me parece que seja [a transferência de embaixadas para Jerusalém] uma situação assim tão importante, imperativa, que obrigue essa mudança. É mais uma questão de afirmação de Israel sobre Jerusalém.

DW África: O que poderia mudar com uma possível transferência da Embaixada de Angola?

EA: Esfriaria as relações entre Angola e a Palestina, entre Angola e os árabes. Angola tem muitas relações, nomeadamente alguns empresários angolanos têm muito boas relações com os Emirados, com Omã, com a Arábia Saudita, e, portanto, isso poderia no imediato esfriar. Eu, pessoalmente, não vejo vantagens enquanto a situação não for devidamente analisada e ponderada. Não me parece que seja viável no imediato esta transferência.

Thiago Melo da Silva
Thiago Melo Jornalista da DW África em Bona