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Angola: Boa nova da Sonangol em meio a dívidas

Nádia Issufo
4 de julho de 2017

Sonangol anunciou nesta segunda-feira (03.07.) bons resultados, depois de dois anos de uma crise na petrolífera. Mas estes lucros ainda não se refletem nos salários dos trabalhadores das empresas a quem a Sonangol deve.

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Hauptsitz der Firma Sonangol in Luanda in Angola
Foto: AP

Nesta segunda-feira (04.07.) a petrolífera anunciou um crescimento de 36% em 2016. A presidente do Conselho de Administração da petrolífera angolana, Isabel dos Santos, disse também que o país manteve a produção petrolífera, e apesar de todos os condicionalismos, manteve-se acima do valor de 1,700 milhão de barris de petróleo por dia, colocando Angola como primeiro produtor de petróleo em África.

O que terá ditado esse anunciado crescimento? O economista da Universidade Católica de Angola Francisco Paulo começa por recordar a marca da administração de Isabel dos Santos, dizendo que "a administração da Sonangol está a tentar reduzir os custos para tornar a companhia mais sólida."

E de seguida o académico apresenta dois fatores: "uma determinada melhoria do preço do barril do petróleo e isso fez com que a empresa tivesse mais receitas. Por outro lado, houve uma diminuição dos custos, o que é muito bom para a economia nacional porque a Sonangol é a principal empresa nacional e com a notícia de que conseguiu lucros é muito bom para o país e para a empresa em si."

Angola Isabel dos Santos spricht zu Journalisten
Isabel dos Santos, PCA da SonangolFoto: Reuters/E. Cropley

Por outro lado, ele sublinha que "é preciso lucro para que os financiadores tenham maior confiança nas políticas da empresa."

Isabel dos Santos é uma gestora extraordinária?

Sob a batuta de Isabel dos Santos várias medidas têm sido anunciadas com vista a redução de custos e igualmente bons resultados na Sonangol. Essas aparentes melhorias podem ser entendidas como o reflexo da competência de Isabel dos Santos como gestora?

Francisco Paulo esquiva-se de avaliar as qualidades da filha do Presidente de Angola, mas não deixa de responder: "Acho que qualquer outra pessoa no lugar podia conseguir isso, porque todos gestores querem que as suas empresas avancem e analisam o que devem fazer para poder melhorar a eficiência financeira e operacional da empresa."

Trabalhadores sem salários por causa da Sonangol

Se por um lado a galinha de ovos de ouro de Angola mostra estar no caminho certo, por outro tem dificuldades em honrar com os seus compromissos. A Sonangol terá dívidas com as suas empresas subcontratadas, o que põe em causa o pagamento de salários e subsídios de muitos trabalhadores.

Ölproduktion in Angola
Plataforma da Total em AngolaFoto: MARTIN BUREAU/AFP/Getty Images

Miguel António é secretário-geral adjunto do STOSPA, Sindicato dos Trabalhadores Organizados do Setor Petrolífero e Afins de Angola, e revela: "Confirmo, sim, que há várias empresas que estão com atrasos no pagamento de salários. Há cerca de seis meses que a Sonangol não liquida as suas dívidas e há outras até que estão nessa situação há cerca de dois anos."

Petromar, Insulana, Sonasur e Pride são apenas algumas das empresas lesadas, segundo Miguel António. O sindicalista revela também que as subcontratadas estão de mãos atadas e solicitam mesmo uma intervenção do sindicato junto da Sonangol.

Mas Miguel António também reconhece as limitações do STOSPA: "A Sonangol é uma empresa estatal, não temos como intervir, depende muito do poder."

STOSPA desconfia dos resultados da Sonangol

04.07.17. ONLINE Sonangol - STOSPA - MP3-Mono

E reagindo a boa nova da Sonangol, o sindicalista Miguel António mostra desconfiança: "Nós não diríamos que a situação da Sonangol está a melhorar, porque o que é dito é uma coisa e o que é praticado é outra. Ver para crer. E mesmo antes da baixa do preço do petróleo a Sonangol já tinha dívidas com algumas empresas."

E António vai mais longe acusando a Sonangol de "prática de má fé. E muitas vezes não é porque a Sonangol não tem dinheiro, é porque ela não quer liquidar. É que fazem transparecer nos órgãos de comunicação de que tudo está a correr bem, mas tudo está a correr mal."

Convidado a argumentar sobre esse paradoxo entre o anunciado crescimento da petrolífera e o não pagamento das dívidas, o economista da Universidade Católica mostra-se cauteloso: "Não quero acreditar que se fez de propósito não pagar aos prestadores de serviço. Se eles realmente prestaram serviços devem receber a sua compensação."

Entretanto Paulo sublinha o seguinte: "Não podemos sacrificar as empresas que realmente prestam serviços a Sonangol com o objetivo de obter lucros. Provavelmente devem ter um contrato com a Sonangol e que no devido tempo serão pagos."

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