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Favoritismo dos filhos do Presidente dos Santos é mito?

Nádia Issufo
5 de abril de 2017

Nelson Pestana critica declarações de Isabel dos Santos sobre “preconceito” de ser filha de JES. Analista diz que ela nos podia "poupar" desta exposição, uma vez que é "pública" a forma como os seus negócios são feitos.

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Isabel dos Santos
Foto: picture-alliance/dpa
Angola | Nelson Pestana
Nelson Pestana, analistaFoto: privat

As declarações de Isabel dos Santos no âmbito de uma entrevista à televisão internacional britânica BBC, esta terça-feira (04.04), estão a gerar alguma polémica. A filha de José Eduardo dos Santos esforçou-se por distanciar o seu notável percurso de empresária das influências do seu pai, o Presidente de Angola. Isabel dos Santos também se pautou por outra nova abordagem: um discurso de aproximação a causas que atualmente atraem massas no mundo, como o género e a raça. A DW África conversou com o analista angolano, Nelson Pestana, acerca desta entrevista:

DW África: O percurso da empresária Isabel dos Santos confere-lhe legitimidade para dizer que "isso de ser filha do Presidente é mito”?

Nelson Pestana (NP): O percurso da Isabel dos Santos é completamente colado ao facto do pai dela ser Presidente da República. Por isso ela tem toda a legitimidade para dizer o que bem entender, agora não tem de fazer de nós parvos. Nós vivemos aqui neste país, sabemos como é que as coisas foram feitas, é so lembrar como é que a Isabel dos Santos fez a sua primeira empresa, Urbana 2000, como é que fez a UNITEL, o BIC e como fez todos os outros negócios em Portugal, como entrou no BFA e todas essas coisas que são do conhecimento público. Por isso a Isabel dos Santos podia-nos poupar e poupar-se a si própria desta exposição no sentido de querer fazer de nós parvos.

DW África: Este tipo de pronunciamentos acontece num altura em que o pai está prestes a abandonar o poder. Seria esta uma tentativa de se começar a defender já que não é certo até onde o pai continuará a ter poderes?

ONLINE Isabel Santos - MP3-Mono

NP: Se é uma tentativa de defesa é extemporânea porque ainda não se coloca (essa questão). E além de extemporâneo é pouco inteligente porque efetivamente isso não defende nada. Se calhar era melhor difundir a ideia de um jubileu em que todos nós estamos de acordo que pronto essas riquezas foram criadas e têm que ser postas ao serviço da economia nacional, do desenvolvimento nacional e social, e que esses privilégios seguramente vão acabar e que não se deveriam repetir agora numa outra pessoa. Talvez assim fosse melhor do que estar a contar histórias de que vendeu ovos e essas coisas assim que são histórias risíveis.

DW África: Isabel dos Santos agora também se apropria de causas que atraem massas no mundo, como por exemplo a luta pela igualdade de género, a valorização do negro e do jovem. É isso suficiente para granjear simpatias nesta altura?

NP: A igualdade de género é uma coisa recente, eu acho que ela tem toda a legitimidade para tomar as opções que tomou e incorporar o grupo de pessoas que defende essa igualdade e os direitos da mulher. Quanto à identidade racial sempre o fizeram, não é uma coisa nova. Ela pode, como disse, colar-se às causas que bem entender, agora poderá ter apenas um efeito de anúncio, poderá ser uma tentativa de melhorar a sua própria imagem e isso é um pouco, no caso da identidade racial, é uma inflação a realidades que nos são exteriores, porque se falarmos do nosso país, o problema não é luta entre uma raça, é de descriminação social, é um problema de colonialismo interno e ela faz parte dos colonos de hoje. Então ela teria que redefinir se, efetivamente, quer dar possibilidades às mulheres a quem ela chama negras. No nosso caso, o discurso aqui passa pelas mulheres pobres da periferia, e pela luta para que as relações entre as várias camadas sociais do país mudem e sobretudo, deveria contribuir para a mudança da estruturas das oportunidades.

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