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Fome no mundo regista terceiro aumento anual consecutivo

Rafael Belincanta (Roma) | Zipporah Nyambura
11 de setembro de 2018

Fome no mundo cresceu pelo terceiro ano consecutivo, revela o relatório sobre o Estado da Fome e Nutrição Mundial, divulgado pela Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

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Food and Agriculture Organization of the United Nations bekämpfen Würmer
Foto: FAO

África continua a ser o continente com a maior taxa de desnutrição do mundo: 21% da população encontra-se em situação de grave insegurança alimentar. Ou seja, 256 milhões de africanos passaram, em 2017, um ou mais dias sem comer. Esta é uma das principais conclusões da avaliação global sobre segurança alimentar e nutricional (SOFI 2018), elaborada por cinco agências da ONU, incluindo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), apresentada esta terça-feira (11.09) em Roma. O diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, explica o porquê do continente africano ser o mais afetado pela fome."Nós temos em África a concorrência de três fatores que quando se sobrepõem, são explosivos; que é o problema do conflito, que é o problema das secas prolongadas, impacto da mudança climática e o terceiro que é a falta de investimento social dos Governos. Conta-se nos dedos de uma mão os países africanos que têm programas de gastos sociais, principalmente gastos sociais com os mais velhos, aposentações rurais, por exemplo, ou programas de merenda escolar ou de transferência de renda tipo bolsa-família".

Jose Graziano Da Silva Direktor FAO
Jose Graziano da SilvaFoto: Getty Images/AFP/S. Kambou

Também Cindy Holleman economista senior da FAO, em entrevista à DW corrobora as declarações de Graziano da Silva ao destacar três razões que explicam a situação de insegurança militar em que vivem 30% dos africanos. Segundo ela, "a primeira tem a ver com os conflitos, em seguida vem a desaceleração económica em vários países e, finalmente, são as variações climáticas extremas que o mundo enfrenta. Por outro lado, o problema da fome e a razão pela qual vemos tantas pessoas que passam fome também é pobreza. Mas o que é novo é o aumento das mudanças climáticas e a África tem sido duramente atingida nos últimos anos por essas variações climáticas extremas", destacou Holleman. 

Conflitos e mudanças climáticasA grave situação de insegurança alimentar afeta particularmente os países mais pobres e é causada sobretudo pelos conflitos e pelas mudanças climáticas. A fome é sensivelmente pior onde os sistemas agrícolas são altamente sensíveis à variação de chuvas e temperaturas e esse é o caso de muitos países africanos.

Cindy Holleman
Cindy HollemanFoto: ©FAO/Annibale Greco

A falta de políticas públicas dos Governos para combater a fome é outro dos problemas no continente africano, enfatiza Graziano:

"O grande problema em África é que a taxa de natalidade é tão alta que para fazer frente a essa situação o continente tem que crescer de 4% a 5% ao ano - a taxa de natalidade na África supera 2%, 3% em muitos países. Então, para poder distribuir o crescimento precisaria crescer ao menos 2 pontos acima disso e nenhum país africano tem conseguido isso devido à crise mundial. A crise mundial está a deitar por terra todo o avanço conseguido em África nos anos 90 e no começo dos anos 2000. Essa é a triste realidade", afirma Graziano.

Situação nos PALOP

Angola, Moçambique e Guiné-Bissau estão entre os países africanos onde os choques climáticos foram uma das causas de crises alimentares em 2017, segundo um relatório das Nações Unidas.

Em Moçambique, 30,5% da população em grave situação de insegurança alimentar, ou seja, 8,8 milhões de moçambicanos passam fome. Outro dado preocupante: 51% das mulheres em idade reprodutiva sofrem de anemia. Em 2017, a fome em Moçambique agravou-se sobretudo pela seca, tempestades e inundações que caraterizaram os principais choques climáticos que atingiram o país.Já em Angola 23,9% da população passa fome, o que equivale a dizer que 6,9 milhões de angolanos não têm acesso mínimo a alimentos. Além disso, 37,5% das crianças angolanas com menos de 5 anos sofrem de retardo de crescimento por falta de nutrientes adequados. A seca alternada por períodos de chuvas escassas influenciou diretamente no aumento da fome em Angola em 2017.

Dürre in Huila Angola
Foto de arquivo: Seca na província angolana da HuílaFoto: DW/A. Vieira

Na Guiné-Bissau 26% da população encontra-se em grave situação de insegurança alimentar, cerca de 500 mil pessoas em todo o país. Conflitos, inundações e a variação estacional afetaram a produção agrícola e tiveram impacto direto nos números da fome no país.

Nos últimos 20 anos "não só a exposição a choques climáticos aumentou, em termos de frequência e intensidade, mas isto aconteceu também em países que já eram vulneráveis à insegurança alimentar e malnutrição", registando-se um acréscimo de choques climáticos em países onde a subnutrição, produção e rendimento das colheitas já eram vulneráveis aos extremos climáticos.

Angola, Moçambique e Guiné-Bissau entre países com crises alimentares devido ao clima

Ásia situação extremamente preocupante

Globalmente, a Ásia é a região com o maior número de pessoas desnutridas: 515 milhões, o que equivale a 11,4% da população do continente. Na América Latina e Caribe, são 39 milhões de pessoas que passam fome.

Do outro lado da ponta nutricional, o número de obesos no mundo chega a 1 pessoa a cada 8, ou seja, 672 milhões de pessoas com mais de 18 anos estão acima do peso no mundo inteiro, o que torna a obesidade um grande fator de preocupação mundial de saúde pública.

Obesidade aumenta em África

A obesidade é mais sentida na América do Norte, mas também está a aumentar na África e  Ásia, onde coexiste com a subnutrição. Nestas regiões, a comida nutritiva é mais cara, um dos fatores que contribui para a obesidade.

Por contraste, mais de 200 milhões de crianças (29,7%) têm peso ou altura a menos para a idade. Ambas são áreas em que a falta de progresso é clara, afirma a FAO.  Além disso, é "vergonhoso" que um terço das mulheres em idade reprodutiva esteja anémica, o que se reflete nelas próprias e nas crianças.

Há "sinais alarmantes do aumento da insegurança alimentar e de níveis elevados de diferentes formas de problemas alimentares" que são "um claro aviso de que há muito trabalho a fazer para ninguém ficar para trás", defendem numa posição conjunta os responsáveis da ONU para a alimentação, agricultura, crianças e saúde.

 

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