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Angola: Sondagens para todos os gostos

António Cascais
10 de agosto de 2022

Empresa brasileira, citada pela imprensa estatal angolana pela realização de uma sondagem que dá vitória ao MPLA nas eleições, não está registada no Tribunal Superior Eleitoral do Brasil. "Foi inventada", diz jornalista.

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Angola | Straßen mit der MPLA-Flaggen vor dem MPLA-Parteitag
Foto: N. Camuto/DW

A empresa de sondagens POB Brasil, citada por alguns órgãos de comunicação social angolanos estatais pela realização de uma pesquisa eleitoral que dava a vitória ao MPLA, não se encontra nos registos do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil, segundo revelam ativistas e jornalistas angolanos e internacionais. Está assim instalada mais uma polémica em torno da veracidade e legalidade de institutos de sondagens a operar em Angola.

Segundo a sondagem em questão, o MPLA venceria as eleições, agendadas para o próximo dia 24 de agosto, com 62% dos votos, à frente da UNITA, que conseguiria 33%. 

Chamado a comentar o tema, o jornalista angolano José Gama diz à DW África que foi intenção do MPLA "confundir as pessoas".

O também editor do portal Club K afirma não ter dúvidas de que se trata de uma sondagem "inventada" pelo partido de João Lourenço, que tem como objetivo "ir preparando as pessoas" para a vitória do MPLA nas eleições que se avizinham, com, mais uma vez, "cerca 60% dos votos".

DW África: Na sua perspetiva, o que aconteceu concretamente com essa alegada empresa brasileira de pesquisas, denominada POB?

José Gama (JG): Havia uma empresa brasileira chamada IBOPE Brasil (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), que encerrou em janeiro de 2021, e que tinha o MPLA como cliente. O que é que sucede? Como a IBOPE Brasil já não existe, o MPLA inventou uma sondagem e disse que esta pertencia à POB Brasil, para confundir as pessoas, e publicou no Jornal de Angola e na Televisão Pública de Angola esta sonsagem que decretou que o MPLA estaria com 60% das intenções de voto. O que nós entendemos é que o MPLA procurou criar um estado de opinião, e neste estado de opinião vai preparando as pessoas para se habituarem que o MPLA vai ter novamente 60% dos votos nos resultados eleitorais.

José Gama, angolanischer Journalist und Spezialist in Internationale Beziehungen
José Gama, jornalista angolanoFoto: Privat

DW África: Essa empresa, citada pelo Jornal de Angola e pela TPA, é a POB - Pesquisas organizadas do Brasil - identificada com uma das maiores empresas de sondagens de opinião, mas no Brasil é completamente desconhecida?

JG: Quando as pessoas foram ver na internet o tal site que fez as sondagens, [viram que] era um site que foi feito no dia anterior às sondagens. As sondagens não apresentavam nenhuma ficha técnica, portanto eram estatísticas fraudulentas.

DW África: Existe em Angola outras sondagens que se possam considerar credíveis?

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JG: Existem algumas empresas como a Afrobarómetro, a Angobarómetro e o projeto Jiku, que pertence à sociedade civil. Estes projetos têm apresentado sondagens que dão vitória à UNITA, mas ao mesmo tempo indicam que o MPLA está com maior aceitação nas zonas rurais, juntos das pessoas que não têm acesso à internet e que têm um grau académico inferior. Portanto, eu penso que dessas todas, a Jiku tem os dados mais fiáveis, porque eles estão a fazer sondagens em cerca de 100 municípios de Angola. Nas outras empresas, a sondagem é feita mais por via das redes sociais, sendo que, em Angola, poucas pessoas têm acesso à internet.

DW África: Os partidos também estão a fazer as suas próprias sondagens. Já há exemplos disso?

JG: O MPLA mandou fazer há poucos dias uma sondagem que durou cerca de dez dias, através da empresa AXA Research. Os resultados não vão ser publicados porque dizem que são resultados desfavoráveis e, portanto, é para consumo interno.

DW África: A maioria parlamentar do MPLA aprovou em julho uma lei que proíbe a realização de sondagens em período eleitoral, mas continuam a fazer-se sondagens para todos os gostos que também vão sendo publicadas…

JG: Nós estamos aqui a ver um MPLA meio aflito que baniu as sondagens para [que estas] não atrapalhassem nem influenciassem ninguém. Mas, por outro lado, está a usar sondagens e a atribui-las à POB, dando a entender que é uma empresa brasileira, para fazer confusão.

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