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Angola: O que deverá dominar o congresso do MPLA?

Borralho Ndomba
14 de junho de 2019

Autárquicas, revisão dos estatutos do partido e suspensão de 'Tchizé' dos Santos são temas na mesa. Analistas esperam que VII Congresso Extraordinário do MPLA defina métodos para resolver as dificuldades da população.

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Membros do MPLA, o partido no poder em Angola, reunidos num congressoFoto: DW/António Cascais

Este é o segundo Congresso Extraordinário que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) organiza em menos de um ano. O conclave do partido no poder realiza-se este sábado (15.06.) em Luanda e juntará mais de dois mil delegados. Entre outros temas, na agenda de trabalho estão ajustamentos pontuais dos estatutos do partido e o alargamento do Comité Central para um total de 497 membros.

A reunião acontece num momento em que o país continua a registar uma grande inflação e em que há constantes críticas ao programa de combate à corrupção do Governo, a bandeira de João Lourenço, Presidente de Angola e líder do MPLA.

Angola: O que deverá dominar o congresso do MPLA?

Analistas ouvidos pela DW África esperam que, no encontro, prevaleçam os interesses do Estado e não somente os partidários. Para o jurista angolano Carlos Veiga, o congresso deve fazer jus ao slogan do partido: "o mais importante é resolver os problemas do povo".

"Que este congresso tenha coragem suficiente de abordar estas questões", apela Veiga. "Tem que se abraçar as doutrinas mais puras do partido, aquelas mais consentâneas com o povo." 

O analista entende que "é importante que o MPLA revisite este princípio" e pede que se evite a "mera retórica ou falácias de sofistas".

Renovação do MPLA

Por seu turno, o coordenador do Centro de Debates e Estudos Académicos de Angola (CDEA), Agostinho Sikatu, espera que a alteração dos estatutos do MPLA retifique os métodos de eleição na organização.

"O que se espera é que se mude, de facto, os estatutos, principalmente no que tange aos métodos de articulação do poder, no que toca aos métodos eletivos do próprio partido", diz.

Segundo Sikatu, seria bom "que se abram candidaturas para outros membros, por exemplo, porque atualmente as pessoas ascendem aos cargos por confiança do líder. Hoje as pessoas vão por moção de apoio, aquelas que estiverem no círculo do líder", observa.

E o analista lembra: "O que se espera é que o MPLA se dinamize, porque está ultrapassado. O MPLA de 1975 já não pode ser o MPLA de hoje".

As questões relacionadas com a implementação das autarquias e com a luta contra corrupção também deveriam ser analisadas com "patriotismo", referem os analistas ouvidos pela DW.

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Falta consenso sobre as eleições autárquicas em AngolaFoto: Reuters/S. Sibeko

'Tchizé' como porta-voz dos descontentes do MPLA

O Comité Central do MPLA suspendeu no início deste mês a deputada 'Tchizé' dos Santos, no âmbito de um processo disciplinar. A suspensão do Comité Central ocorreu depois de declarações da filha do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, em entrevista à agência de notícias Lusa, em que 'Tchizé' acusava João Lourenço de fazer um "golpe de Estado às instituições" em Angola e pedia a destituição do chefe de Estado.

O "caso 'Tchizé'" levanta também muitas expetativas em relação a este congresso. O analista Agostinho Sikatu considera que o MPLA deu muita importância às declarações da deputada e acabou por criar mais uma ativista política que deixa o partido em "maus lençóis".

Sikato entende que a filha de dos Santos está agir como porta-voz de um grupo de pressão interna de descontentes do MPLA E "é preciso lembrar que esse grupo tem poder e tem que se ter cautela, porque o caso pode criar situações desastrosas", opina o politólogo.

Cisão não seria por causa de 'Tchizé'

Já o analista Carlos Veiga acredita que não é a suspensão de 'Tchizé' dos Santos que poderá causar divisões no partido: "Se houver uma cisão neste congresso, não será por causa de 'Tchizé'. Será certamente devido a focos de resistência de algumas pessoas, que têm receio ou medo das mudanças que o presidente do partido está a implementar."

E Veiga justifica: "Algumas pessoas pensam que as mudanças são antinomias da riqueza que adquiriram, que furtaram durante estes anos todos enquanto estavam em cargos públicos. As pessoas pensam assim e querem levar este pensamento para o seio do partido."

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