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Angola: UNITA antecipa “dificuldades” para João Lourenço

Lusa | mjp
23 de setembro de 2017

Vice-presidente do maior partido da oposição, Raúl Danda, recomenda “menos arrogância” e defende que UNITA “tem de estar no Parlamento”. Novo Presidente angolano toma posse na terça-feira (26.09).

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Berlin Raul Danda aus Angola bei "Angola Forum 2017"
Foto: DW/Madalena Sampaio

O vice-presidente da UNITA, Raúl Danda, antecipa "dificuldades" no mandato do novo Presidente angolano, que toma posse na próxima terça-feira, a quem recomenda "menos arrogância" e "coragem para impor mudança aos seus camaradas". 

"Eu não acredito muito em milagres. Uma mangueira não há de produzir laranjas, há de produzir mangas. João Lourenço chega a Presidente, mas tem a sombra de José Eduardo dos Santos", que sai do poder ao fim de 38 anos, considerou, em entrevista à Lusa, o responsável da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). 

Danda acredita que haverá "dificuldades no desempenho", considerando que a recente indicação, pelo chefe de Estado cessante, dos membros das forças de defesa e segurança "é um indicador de que o outro [João Lourenço] não vai ter vida fácil". 

O vice-presidente do partido do "Galo Negro" deixa uma mensagem ao futuro chefe de Estado angolano: "Se diminuir a arrogância, se conseguir fazer uma luta interior para se libertar de alguns vícios e se tiver coragem, sobretudo, para poder impor essa mudança nos seus camaradas, talvez consiga fazer alguma coisa". 

"Eu desejo-lhe toda a sorte do mundo, só não gostaria de me chamar João Lourenço", acrescenta.

Angola Wahl João Lourenço
João Lourenço, novo Presidente de AngolaFoto: Getty Images/AFP/A. Rogerio

"MPLA consegue roubar tudo”

Na campanha eleitoral, o candidato do MPLA (partido no poder) apontou como principal tarefa o combate à corrupção, mas o vice-presidente da UNITA pergunta: "Como é que alguém vai fazer isso, se é filho da corrupção?", acusando o futuro Presidente de cometer "corrupção eleitoral" ao distribuir bens à população durante a campanha eleitoral.

Além disso, "toda a gente estava à espera que [João Lourenço] dissesse que património é que tem", o que não aconteceu. "Durante toda a pré-campanha e campanha eleitoral, João Lourenço não foi capaz de dizer como é que iria corrigir o que estava mal nem era capaz de dizer o que estava mal", criticou.

Angola está "muito endividada", mas "seguramente João Lourenço não conhece a dívida, que tem níveis assustadores", acredita. Para a UNITA, o novo Presidente foi "mais nomeado do que eleito", chegando ao poder graças a "votos roubados". 

"Infelizmente, o MPLA consegue roubar tudo, rouba o dinheiro do povo, rouba os votos. Enfim, está-lhes no sangue", criticou.

Raúl Danda avisa que "os angolanos ganharam muita consciência nos últimos anos, a sociedade é exigente". "Infelizmente, continuamos a viver num país onde se prioriza o militantismo em vez da cidadania, o que é grave", sublinhou.

UNITA tem de estar no Parlamento

João Lourenço foi confirmado como novo Presidente de Angola no dia 6 de setembro, data em que a Comissão Nacional de Eleições divulgou os resultados definitivos das eleições gerais de 23 de agosto, que deram a vitória com 61% ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) foi a segunda força política mais votada, com 26,67% dos votos, seguindo-se a coligação de partidos Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), com 9,44%. A oposição contestou os resultados junto do Tribunal Constitucional, mas os recursos foram chumbados.

Angola Luanda Nationalversammlung
Assembleia Nacional de Angola, em LuandaFoto: Getty Images/AFP/A. Jocard

O vice-presidente da UNITA, Raúl Danda, defende que o partido "tem de estar no Parlamento" angolano para "criar dificuldades" ao Governo e não deixar o MPLA atuar "como partido único". 

"Temos de estar no Parlamento, para literalmente criarmos dificuldades àqueles indivíduos se não estiverem a governar como deve ser", afirmou, em entrevista à Lusa, justificando assim a decisão da UNITA de assumir os 51 lugares na Assembleia Nacional, depois de ter admitido não o fazer.

Raúl Danda sustenta que se a UNITA, maior partido da oposição em Angola, "não tem estado no Parlamento e consequentemente na comissão eleitoral, muita coisa se teria passado, a batota teria sido legalizada".

Uma nova liderança?

Raúl Danda, que em 2015 deixou de ser líder da bancada parlamentar da UNITA para assumir a vice-presidência do partido, vai ocupar o seu lugar na Assembleia Nacional, mas desconhece ainda com que funções.

Questionado sobre se o líder da UNITA mantém a decisão de sair da presidência do partido, como anunciou no passado, Danda argumentou que Isaías Samakuva "é uma pessoa muito honesta, muito franca, muito reta e cumpre aquilo que promete".

 "O presidente do partido há de se pronunciar, na devida altura, sobre o momento da saída, se está a sair, se ainda não", mencionou.  Nesse cenário, Raúl Danda não adianta se avançará para a presidência da UNITA. 

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