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Angolano torna-se símbolo contra o racismo na Alemanha

Hugo Flotat-Talon
6 de dezembro de 2020

Aconteceu há 30 anos: a 6 de dezembro de 1990, António Amadeu Kiowa morreu após ser violentamente agredido por um grupo de neonazis. Fundação Amadeu António alerta: "Esse tipo de violência ainda existe na Alemanha".

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Amadeu Antonio Kiowa Ausweis
O angolano de 28 anos foi atacado por um grupo de neonazis, perto de Berlim, em 1990Foto: Imago/K. Horstmann

O angolano de 28 anos foi atacado por um grupo de neonazis, em dezembro de 1990, nas imediações de Berlim. Nunca chegou a conhecer o filho que nasceu dias depois. 

Em 2020, a Fundação António Amadeu carrega o seu nome e um papel importante na luta contra o racismo na Alemanha. Robert Lüdecke, porta-voz da organização, relata o ambiente de terror que se vivia nos anos 90 nalgumas regiões alemãs.

"Nos meses e anos que se seguiram à queda do Muro de Berlim após 1990, na Alemanha, vivemos uma onda de violência racista e neonazi. Imagine: em pequenas cidades da Alemanha Oriental, grupos de extremistas de direita e neonazis vagueavam pelas ruas. Podemos falar de um terror racista diário", descreve.

Foi um desses grupos que apanhou António Amadeu em Eberswalde, em Brandeburgo, a poucos quilómetros de Berlim. Na noite, de 24 para 25 de novembro de 1990, cerca de cinquenta homens, neonazis e skinheads, decidiram após uma noite de diversão perseguir cidadãos de origem africana.

Amadeu Antonio Kiowa
Amadeu Antonio Kiowa Foto: Imago/K. Horstmann

"Áreas proibidas"

"É aqui que este grupo encontra Amadeu António e os seus amigos. Todos eram trabalhadores convidados angolanos. Foi uma verdadeira caça: eles perseguiram-nos e apanharam-nos. Vários angolanos ficaram gravemente feridos” recorda Robert Lüdecke, que prossegue que "Amadeu António foi espancado, ficou em coma, do qual nunca mais acordou. Morreu poucos dias depois, a 6 de dezembro".

A maioria dos responsáveis por estes ataques bárbaros escaparam à barra da Justiça com penas pouco pesadas. Alguns anos depois, um dos principais implicados no assassinato de Amadeu António voltou a estar envolvido num outro homicídio com contornos racistas. Mesmo 30 anos após a reunificação da Alemanha, existem as chamadas áreas "proibidas" no país, onde cidadãos pertencentes a minorias étnicas e religiosas não se sentem bem-vindos.

Robert Lüdecke
Robert Lüdecke é porta-voz da Fundação António Amadeu Foto: DW/C. Vieira Teixeira

Os movimentos de refugiados em direção à Alemanha exacerbaram o sentimento de ódio em relação aos estrangeiros em algumas fações da sociedade. O partido de extrema direita "AfD - Alternativa para a Alemanha" é o melhor exemplo das ligações entre os círculos radicais e a direita intelectual. O contexto atual sociopolítico colocou este grupo partidário no Bundestag, o Parlamento alemão.

Combate ao racismo na Alemanha

Em novembro deste ano, o Governo federal da Alemanha anunciou o investimento de mil milhões de euros no combate ao racismo. O dinheiro visa financiar dezenas de projetos, investigações e iniciativas culturais.

"Basicamente, este catálogo de medidas surpreendeu-nos positivamente. Não esperávamos que fosse tão extenso e moderno. Vemos que o Governo, por exemplo, está a planear uma estratégia real para uma maior diversidade. Acho que é um bom sinal, um sinal forte", diz Robert Lüdecke, porta-voz da Fundação Amadeu.

Mas, infelizmente, diz Lüdecke, também deve ser dito que muitas medidas são muito vagas, muito imprecisas. Estão apenas no papel e agora é necessário ir ao concreto.

A Fundação Amadeu António continua seu trabalho e só este ano apoiou mais de 170 projetos contra o racismo e a favor da inclusão.

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