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COP24: O momento da verdade para África

Daniel Pelz
29 de novembro de 2018

África é o continente mais afetado pelas alterações do clima, na origem de secas, enchentes e ondas de calor. É com expetativas elevadas que os africanos se deslocam à COP24. O risco de uma desilusão é grande.

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Foto ilustrativa: Seca no MaliFoto: picture-alliance/dpa/N. Bothma

No que toca o clima, as perspetivas africanas são sombrias. "É triste, mas a verdade é que os países africanos são os que menos contribuem para a mudança do clima, mas os que mais sofrem”, disse à DW Seyni Nafo, porta-voz da delegação africana na Conferência do Clima 2018 (COP24) em Katowice, na Polónia, de 3 a 14 de dezembro.

A frequência das secas, chuvas torrenciais e enchentes aumentou em várias áreas e as consequências são graves. Dependendo do país, os danos reduzem o produto bruto interno em cinco a dez por cento. "As pessoas não sentem que as conferências do clima tenham tido qualquer impacto nas suas vidas até agora. Mas sentem as consequências das alterações climáticas todos os dias”, queixa-se o ativista nigeriano Nnimmo Bassey em entrevista com a DW.  

O pior para África ainda está para vir, avisam as Nações Unidas, que contam com escassez de água para até 250 milhões de africanos em 2020 por causa do aquecimento global. Caso a temperatura suba mais que dois graus centígrados, metade de todos os africanos poderão sofrer de escassez alimentar. "A mudança do clima tem o potencial de destruir todo o nosso desenvolvimento”, adverte o chefe da delegação africana em Katowice, Nafo. 

Frankreich Katowice - COP 24
Os africanos depositam esperanças elevadas na Conferência do Clima 2018Foto: picture-alliance/dpa/MAXPPP/F. Dubray

"A mais importante conferência do clima até à data”

Os africanos esperam que a conferência COP24 traga a viragem nas políticas ambientais. "Na minha opinião e depois de Paris 2015, esta é a conferência do clima mais importante de sempre”, afirma James Murombedzi, especialista ambiental da Comissão Económica para a África das Nações Unidas (CEA).

Cabe aos delegados chegar a um acordo sobre as regras para concretizar o objetivo mais importante de Paris: limitar o aumento da temperatura da terra a 1,5 graus centígrados. O que só será possível, se deixarem completamente de ser emitidos gases com efeito de estufa a partir de 2050, depois de serem substancialmente reduzidos no período precedente. Os especialistas concordam que as medidas até agora tomadas pela comunidade internacional não bastam para alcançar esta meta.

Guinea-Bissau Reisfelder
São necessários investimentos importantes na agricultura de países como a Guiné-BissauFoto: DW/B. Darame

A delegação africana também quer ver concretizada rapidamente uma segunda promessa feita em Paris. Na altura, os países ricos concordaram em conceder mais ajudas às nações pobres na adaptação à mudança do clima. Está previsto um pagamento anual de 100 mil milhões de dólares norte-americanos a partir de 2020. Mas faltam comprometimentos concretos. "Vamos providenciar para que a assistência prometida comece realmente a ser vertida”, promete Nafo.

Alguns peritos acreditam que 100 mil milhões de dólares por ano não chegam para resolver o problema. A África vive da agricultura. E esta exige enormes investimentos para se tornar resistente ao clima. Por exemplo: "São necessários maiores investimentos nos sistemas de irrigação”, diz o especialista da ONU Murombedzi. Também a sociedade civil quer que se passe finalmente à ação. "Não se trata de amor ao próximo, trata-se de justiça”, afirma o ativista Bassey.

As expectativas de África na Conferência do Clima COP24

„O planeta está em chamas!”

Mas será possível atingir estes objetivos? Os Estados Unidos da América já se retiraram do pacto do clima. O Brasil acaba de retirar a candidatura que mantinha para ser anfitrião da COP25, sublinhando a falta de interesse pelo tema do novo Presidente Jaír Bolsonaro. Ainda assim, Seyni Nafo tem esperanças: "A alteração do clima é um desafio que só podemos solucionar juntos. Vemos um grande interesse de muitos países em salvar o processo multilateral”. Mas não vai ser fácil, acrescenta. "Combater a alteração climática quer dizer reformar os sistemas económicos e mudar o modo de vida de sociedades inteiras no que toca o consumo e a mobilidade. Mas parece que sobretudo os países mais desenvolvidos falta a vontade política de assumir os custos mínimos”, diz o perito Murombedzi.

O ativista Bassey também se mostra cético: "Espero que os delegados se deixem conduzir pelo coração e não pelo expediente político. Caso contrário esta vai ser mais uma conferência do clima igual a todas as outras, onde se fala interminavelmente dos problemas enquanto o planeta arde”.