1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Até parece que nascemos para sofrer": A difícil vida dos garimpeiros em Benguela

Nelson Sul d'Angola (Benguela)2 de outubro de 2013

Dezenas de famílias na província angolana de Benguela sobrevivem do garimpo de pedras. São sobretudo mulheres e crianças dos 9 aos 12 anos, que se levantam todos os dias de madrugada para mais um dia de exploração.

https://p.dw.com/p/19sjl
Foto: DW/N. Sul d'Angola

Em território do município da Catumbela, a 25 quilómetros da sede da província de Benguela, o garimpo das pedras tornou-se no meio de subsistência de muitas famílias pertecentes a três bairros pobres da zona: Gama, Pedreira e Cabaia.

De segunda a sexta-feira, dezenas de famílias entre homens, mulheres com bébes às costas e crianças dos 9 aos 12 anos de idade, levantam-se todos os dias por volta das quatro horas da manhã, para percorrer a pé mais de 30 quilómetros em busca de zonas montanhosas para a exploração de pedras. Essencialmente, comercializam este produto a empresas de construção civil.

Mas como em qualquer trabalho, há dias em que estas famílias não conseguem encontrar locais apropriados para a exploração de pedras. E mesmo quando conseguem, nem sempre há compradores para o seu produto. Cada carrada de pedras é vendida por cerca de 60 euros.

"Até parece que nascemos para sofrer"

À distância, o ancião Bartolomeu Vung olha para o repórter. Primeiro desconfia mas passados alguns minutos aproxima-se dos microfones e desabafa. "Eu acordo às duas ou às quatro horas da noite por causa deste trabalho", conta Vungo. Explica que para eles o sofrimento ainda está longe de ter acabado. "Até parece que nascemos para sofrer", desabafa. "Nunca tomamos o pequeno almoço e nunca almoçamos", conta.

Südangola Steinbruch Interview mit Bartolomeu Vungo
O garimpeiro Bartolomeu Vungo conta que só fazem a refeição do jantarFoto: DW/N. Sul d'Angola

São famílias extremamente carenciadas e nos bairros onde vivem não há energia elétrica, não há escola ou sequer um centro de saúde. Para que as crianças possam assistir às aulas, têm de percorrer cerca de três horas a pé para chegar à escola mais próxima.

Natália Jacinta, de 47 anos de idade, é garimpeira de pedras há mais de cinco anos. Em entrevista à DW África, lamentou as vissitudes por que tem passado, mas não deixou de alimentar um sonho: encontrar um outro trabalho.

"Chego a casa e não tenho água ou dinheiro para comprar o que preciso", relata. Em tom de desespero, Natália conta que os seus filhos "choram pedindo pão".

Südangola Steinbruch Interview mit Mädchen
Angélia Maria sonha em comprar uma cadeira para levar para a escolaFoto: DW/N. Sul d'Angola

Angélia Maria tem 11 anos de idade. Tal como os seus pais, ela acorda às quatro horas da manhã para a exploração de pedras, para ajudar no sustento da casa.

Ao contrário de outras crianças, Angélia Maria diz que se tornou garimpeira porque quer comprar uma cadeira para levar consigo para a escola, para não ter que se voltar a sentar no chão ou numa lata, tal como outros colegas de turma. "Quero comprar uma bicicleta e uma cadeira para levar para a escola", conta Angélia.

"Até parece que nascemos para sofrer": A difícil vida dos garimpeiros em Benguela