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Direito e JustiçaSão Tomé e Príncipe

Ataque em São Tomé: Relatório oficial demonstra "cobardia"

28 de fevereiro de 2023

Analista diz que relatório do Ministério Público, que imputa responsabilidades a ex-combatente Arlécio Costa no alegado golpe de Estado em São Tomé, é um "mau serviço". Cidadãos exigem posicionamento do Estado português.

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Foto: Ramusel Graca/DW

"O Ministério Público são-tomense prestou um mau serviço à nação ao responsabilizar Arlécio Costa pela intentona de golpe de Estado depois de o terem barbaramente assassinado", opina o analista político Elias Costa, ouvido pela DW África, a propósito do recente relatório final de investigação da Polícia Judiciáriade São Tomé sobre o alegado assalto ao quartel das Forças Armadas, a 25 de novembro de 2022, na capital do arquipélago.

"Isso, na minha opinião, é cobardia. Não tem outra classificação. Isso é cobardia e maquiavelismo. Se fossem verdadeiras as informações que as autoridades já possuíam sobre o envolvimento do Arlécio Costa nessa alegada tentativa de golpe de Estado, nunca o teriam matado", acrescentou. "E também não precisavam de o torturar porque as provas acabariam por vir à superfície e falariam por si", disse ainda.

Elias Costa, analista político
Elias Costa: "Não tem outra classificação. Isso é cobardia e maquiavelismo"Foto: privat

De acordo com o analista, Arlécio Costa não organizaria um golpe de Estado naqueles moldes e sem viabilidade. "É um suicídio", afirma Elias Costa, que desafia a oposição a apresentar uma nova moção de censura ao Governo de Patrice Trovoada na Assembleia Nacional.

"Ele não foi cobarde e compreendeu que queriam apenas usá-lo para incriminar Delfim Neves. Este homem resistiu heroicamente até ao fim. Debaixo de torturas, ele mostrou dignidade e valentia até à morte. Portanto, se hoje o Delfim Neves está vivo, ele deve isso ao Arlécio Costa", frisou.

MP atribui responsabilidades ao "Batalhão Búfalo"

O Ministério Público são-tomense divulgou na sexta-feira (24.02) um relatório sobre os acontecimentos de 25 de novembro de 2022. A Procuradoria-Geral da República imputa responsabilidades ao antigo combatente do "Batalhão Búfalo".

A família de Arlécio Costa avançou entretanto com uma queixa-crime contra o Governo são-tomense e entregou o caso ao advogado Carlos Semedo.

"No dia dos acontecimentos, o primeiro-ministro imputa a prática de um crime grave contra o Estado de Direito, intitulando-o sem qualquer fundamento legítimo, legal, e sem qualquer prova, de ser o mandante do golpe. Isto é uma difamação", refere o jurista.

"No que resulta de todo esse período de três meses de investigações sobre o chamado golpe de Estado é a acusação de 10 ou 11 garotos, de 19 e 20 anos, soldados e cabos. Não há um único oficial, não há uma única alta patente, o que realmente não é credível - que um golpe de Estado se faça com meia dúzia de soldados", comentou.

Herlander Rosário
Herlander Rosário é um dos são-tomenses na diáspora que exige o envolvimento do Estado português do caso da morte de Arlécio CostaFoto: João Carlos/DW

São-tomenses querem envolvimento do PR português

Um grupo de são-tomenses, encabeçado por Herlander Rosário, que no início deste mês endereçou uma carta aberta ao Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, exige o envolvimento das autoridades portuguesas no caso. 

"Sendo Portugal um parceiro económico de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe em todos os aspetos, então viemos pedir a Sua Excelência que aja e use a sua alta magistratura [de influência] para termos uma boa justiça em São Tomé e Príncipe face a esta situação", afirmou.

Se o chefe de Estado português não reagir, o grupo promete dirigir-se às instâncias da União Europeia, em Bruxelas, na tentativa de exigir uma investigação independente ao caso.