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Religião

Cabo Delgado: Comunidade muçulmana deve ser mais pró-ativa?

5 de julho de 2020

Basta que a comunidade muçulmana se distancie do Islão radical apregoado pelos insurgentes? Uma intervenção para esclarecer não seria um contributo para fragilizar a insurgência? O teólogo Suleimane Fonseca responde.

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Symbolbild Radikalisierung in Moscheen
Foto: picture alliance/dpa

As organizações muçulmanas em Moçambique têm-se distanciado do Islão radical apregoado pelos insurgentes na província nortenha de Cabo Delgado. Poderia a comunidade muçulmana ser mais ativa no sentido de esclarecer a população de que o Islão que está a ser apregoado no norte de Moçambique não é o de paz?

A DW África conversou sobre este tema com o teólogo e membro do Conselho Islâmico de Moçambique Suleiman Fonseca.

DW África: Não deveria a comunidade muçulmana também ser mais interventiva, esclarecendo e sensibilizando sobre o Islão de paz?

Mosambik Straßenschild an der Regionalstraße R762
​​​​Palma e Mocímboa da Praia, regiões preferenciais dos insurgentesFoto: DW/A. Chissale

Suleiman Fonseca (SF): Nós, como comunidade muçulmana, não tínhamos de fazer isso só agora. A nossa vida toda é a nossa submissão a Allah (Deus). E, como muçulmanos, difundimos a paz a todo o momento, não simplesmente em momentos conturbados como os que vivemos agora no norte de Moçambique. E todo aquele que agir contra os princípios preceituados no Islão está à margem da religião. E o alcorão, o livro que seguimos, defende a vida e menciona de forma clara que a vida é a coisa mais sagrada.

DW África: Isso é o que está preceituado no livro sagrado, mas refiro-me à prática, à vida diária. Perguntamos se as organizações muçulmanas não deveriam fazer um trabalho junto da população para esclarecer que o Islão que está a ser apregoado no norte de Moçambique não é o de paz e não é o correto?

SF: Mas lá não está a ser propagado o Islão, aquilo não é Islão. Nós não temos como dizer que o Islão está a ser propagado porque estaríamos a admitir que aquilo é Islão. E aquilo não é Islão...

DW África: Mas se as pessoas entenderem isso como Islão?

SF: [Esclarecemos] Através de conferências de imprensa, de comunicados. Tudo isso já fizemos, nos distanciamos na totalidade. Já fizemos chegar essa informação, quer aos órgãos de comunicação social, ao Governo. Na província de Cabo Delgado existem líderes religiosos que propagam este tipo de mensagem. É verdade que nesses lugares onde estão a acontecer os ataques as pessoas já não têm essa liberdade porque estão conotados com os tais rebeldes, que estes não são guerrilheiros, e acabam sendo alvo dos insurgentes. Mas nós nos distanciamos disso a todo o momento e sempre que temos a oportunidade de esclarecer esse assunto, explicamos o que é o verdadeiro Islão e não é isso que está a ser alegado lá como sendo parte do Islão.

DW África: Há relatos segundo os quais os insurgentes desestabilizam as atividades de algumas mesquitas. A comunidade muçulmana tem como controlar ou saber como são geridas as mesquitas na zonas problemáticas de Cabo Delgado?

Pemba quer paz

SF: Temos o Conselho Islâmico de Moçambique com várias mesquitas filiadas a ele. Em relação às filiadas temos como saber, sim. Mas as que não estão filiadas, não teríamos como saber. Mas neste momento de tensão torna-se um pouco difícil, porque mesmo os líderes religiosos que viviam nessas zonas abandonaram as localidades, porque não há condições de vida nesses locais. Não há um ambiente onde os líderes possam transmitir essas mensagens porque podem ser alvo dos tais insurgentes.

DW África: E há relatos de retaliação aos líderes religiosos que não compactuam com esse radicalismo que se apregoa na província?

SF: Essas informações também chegam a nós, que todo aquele que tenta implementar o verdadeiro Islão é combatido pelos insurgentes. Eles, por exemplo, dizem que é preciso manter as mesquitas exatamente como eram no tempo do profeta Mohamed, isso é um radicalismo.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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