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Ativista preso em casa: "A família viveu momentos de terror"

20 de junho de 2023

José Ezequiel foi um dos ativistas detidos no sábado no Huambo. O jovem angolano viu a sua casa invadida por mais de 20 agentes, que dispararam tiros e o ameaçaram de morte. Valeu-lhe a intervenção do diretor do SIC.

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Angola Polizei in Luanda
Foto: Borralho Ndomba/DW

Vários ativistas foram detidos na madrugada do último sábado (17.06), na cidade do Huambo, em Angola, em dia de manifestações em várias cidades do país, contra a subida dos preços dos combustíveis e o fim da venda ambulante.

José Espragel Ezequiel foi um dos detidos. O jovem viu a sua casa invadida por mais de 20 agentes dos Serviços de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE) e mais de uma dezena do Serviço de Investigação Criminal (SIC), que dispararam vários tiros contra a sua residência.

Em entrevista à DW África, conta que entre os agentes havia quem exigisse a sua morte, mas graças ao diretor do SIC no Huambo não foi morto. Foi mais tarde detido acusado de ter organizado a manifestação dos taxistas e mototaxistas, que culminou com a morte de alguns manifestantes a 5 de junho, no Huambo.

DW África: Em que momento foi detido e onde é que estava?

José Ezequiel (JE): No sábado, quando eram 04h00, foi quando eles começaram a invadir a minha casa, destruíram praticamente a minha casa. Entraram, dispararam tiros com o propósito mesmo de me atingir. A sorte é que eles dispararam um tiro na porta do meu quarto, julgando que eu estivesse lá, enquanto eu estava na sala.

Entrevista com o ativista angolano José Ezequiel

DW África: Está a dizer que houve disparos de balas reais contra a sua casa?

JE: Dentro de casa. Balas reais dentro da minha casa. E fizeram disparos na porta do meu quarto, julgando que eu estivesse lá para me atingir mortalmente. A sorte é que eu estava na sala.

DW África: E quantos tiros foram disparados?

JE: Eles fizeram um disparo na porta e outro disparo que fizeram foi contra a chapa. Pegaram na minha filha de cinco anos e colocaram-lhe uma arma para mostrar onde está o papá. Fizeram ameaças de morte à minha esposa. A minha família toda de casa viveu um momento de terror. Estavam em minha casa mais de 20 homens do SIC e mais de dez homens do Serviço de Segurança do Estado. Só mesmo para virem à minha busca, outros diziam vamos lhe matar, outros não, não faça isso.

DW África: Quem são essas pessoas que diziam que era para lhe matar?

JE: Na verdade, são elementos do SIC. Todos eles estão identificados, estavam com tanta vontade de ver sangue. Queriam me matar mesmo. Eles estavam a dizer: vamos lhe matar, vamos tirá-lo daqui machucado.

DW África: Mas porque queriam matá-lo?

JE: Por ser ativista e eles acharam que nós, os ativistas, fomos quem organizou a rebelião do dia 5 de junho, que vitimou gente. Foi mesmo graças à intervenção do diretor, que esteve também presente, porque todos eles entraram na minha casa, entraram pelo teto depois de destruírem a cobertura da minha casa toda.

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DW África: De que forma, então, o diretor do SIC conseguiu salvar a sua vida?

JE: O diretor conseguiu salvar a minha vida, porque quando eles começaram a fazer disparos, o diretor disse não façam isso. E depois de me pegarem, havia um que disse não, vamos lhe apagar. O diretor disse não vão fazer isso aqui, mantenham a calma. Mas ainda assim havia um que queria golpear-me e estava um outro senhor que também impediu, até porque me conhece. Levaram-me até ao carro algemado. Fui passando de carro em carro. Todo o mundo queria conversar comigo, uns a fazerem ameaças, outros a dizerem que estavam arrependidos porque não tinha de ser assim. E assim fiquei detido, porque acharam que nós é que estávamos a incitar a rebelião, até porque fomos obrigados a fazer fotos com placas a dizer rebelião. Não tem nada a ver, nós não somos os ativistas que têm criado arruaças porque todas as manifestações que organizamos tem sido de forma legal.

DW África: E de onde é que saíram essas placas nas quais estava escrito "rebelião"?

JE: Junto do Serviço de Investigação Criminal do Huambo. Lá meteram-nos numa sala, fomos obrigados a pegar nos panfletos com os nossos nomes, as datas, escreveram lá crime de rebelião, fizeram fotos, tudo no sentido mesmo de poderem prender-nos e acusar-nos de crimes que nós nunca praticamos.

DW África: E como eram as condições do local de reclusão onde esteve?

JE: As condições mais péssimas possíveis. Nós fomos submetidos a dormir no chão. Lá não há condições. É tudo contra os direitos humanos.

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