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Ausência da comunidade internacional nas eleições de 2012 gera críticas

13 de setembro de 2012

A comunidade internacional é criticada por ter "fechado os olhos" às irregularidades verificadas no processo eleitoral angolano. Por interesses, políticos ou económicos, ela terá aceite a continuidade do regime.

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José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão da União Europeia
José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão da União EuropeiaFoto: Fotodatenbank der EU-Kommission

A Comunidade Internacional acredita que as eleições gerais em Angola foram justas e, de todos os cantos do mundo, surgiram felicitações ao MPLA, o partido no poder, pela vitória no pleito.

Uma atitude que divide analistas, bloggers e instituições, na altura de analisar o porquê desta aceitação geral da continuidade de um regime que já conta 32 anos com José Eduardo dos Santos à frente do país.

Paulo Gorjão, analista e diretor do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), não se surpreende com a atitude. De acordo com o director do IPRIS, a explicação recai na própria tradição da comunidade internacional: “Ela, por regra, independentemente da natureza do regime, tem sempre posições favoráveis a quem está no poder." Para o analista a reação da comunidade internacional era expectável.

Durão Barroso, o culpado pela não observação da UE?
Mas, apesar da justificação dada pelo analista, há quem tenha mais dificuldades em aceitar a falta de intervenção internacional no processo eleitoral angolano. É o caso de Wolfgang Kreissl-Dörfler. O deputado alemão no Parlamento Europeu critica, por exemplo, o facto de a União Europeia não ter enviado uma delegação de observadores internacionais ao país africano: "A culpa é certamente de Durão Barroso, uma vez que Portugal e Angola têm grandes ligações económicas."

A UNITA continua a querer outros resultados eleitorais, mesmo depois da resposta negativa da CNE as queixas de irregularidades da oposição
A UNITA continua a querer outros resultados eleitorais, mesmo depois da resposta negativa da CNE as queixas de irregularidades da oposiçãoFoto: DW/Nelson Sul d'Angola

Wolfgang Kreissl-Dörfler defende que se deve consolidar o quão bom é o trabalho do regime, que se tem confiança no regime, no MPLA, mas ressalta: "considero errado."

Opinião diferente tem Paulo Gorjão, que desvaloriza o não envio de observadores por parte da União Europeia. O diretor do IPRIS admite que terão existido irregularidades no processo eleitoral angolano mas afirma que, sem elas, o resultado não teria sido diferente: “A União Europeia não enviou observadores, mas houve quem tivesse enviado, a União Africana (UA) e a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), que, no essencial, entenderam que as eleições foram livres e justas."

O analista não nega a existência de irregularidades e acrescenta que a oposição não as inventou na totalidade, mas por outro lado não acredita que essas irregularidades poderiam ter tido um impacto estrutural nos resultados das eleições.

Ausência por conveniência

José Eduardo dos Santos Angola Presidente de Angola
José Eduardo dos Santos Angola Presidente de AngolaFoto: Reuters

Contudo Paulo Gorjão lembra que há uma componente de interesses na conivência da comunidade internacional para com a continuidade do regime de Angola: “A comunidade internacional nunca iria valorizar essas queixas da oposição porque, evidentemente, aqui também há uma componente clara de real politik."

Ainda segundo ele, alguns Estados da União Europeia, nomeadamente Portugal, quer outros Estados extra-europeus – os Estados Unidos da América e alguns parceiros de Angola no continente africano – sabendo que pouco adiantará criar ruído à volta da forma como correram as eleições, pura e simplesmente aceitam, sem criar grandes incidentes, esses mesmos resultados.

O sim da comunidade internacional, frisa Paulo Gorjão, é independente de quem está à frente do governo de Angola: "Aquilo que interessaria à comunidade interacional é que essa transição - seja uma transição intra MPLA, seja uma transição entre MPLA e a CASA-CE, segunda maior força da oposição, ou a UNITA, a maior força da oposição – o que interessa é que isso se faça com o mínimo de instabilidade política, social e económica possível.

Autora: Maria João Pinto
Edição: Nádia Issufo/António Rocha

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