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Automobilistas denunciam "refresco" nas estradas de Sofala

Arcénio Sebastião (Beira)
1 de novembro de 2019

Condutores queixam-se de cobranças ilícitas nas estradas da província do centro de Moçambique, por parte da polícia de trânsito. Segundo os queixosos, com ou sem infração, o condutor é obrigado a pagar aos agentes.

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Troço da N1, na Beira (Foto de arquivo/2017)Foto: DW/A. Sebastião

Os automobilistas que circulam pelas estradas moçambicanas, em particular na N6 e N1, na província de Sofala, falam em cobranças que chegam aos mil meticais – cerca de 14 euros – feitas de forma deliberada por agentes da polícia de trânsito, mesmo quando a documentação dos condutores não apresenta problemas.

Ouvidos pela DW África, vários automobilistas dizem que, a cada dia que passa, são surpreendidos por novas posições de fiscalização da polícia de trânsito ao longo das estradas, para alegadamente controlar a velocidade recomendada, documentação pessoal e de viaturas que circulam pela região. No entanto, segundo os motoristas, a fiscalização torna-se uma oportunidade para os agentes da polícia de trânsito fazerem cobranças ilícitas.

De acordo com os condutores ouvidos pela DW, os agentes de trânsito posicionam-se a poucos quilómetros dos postos oficiais de fiscalização e em sítios inapropriados, como,  por exemplo, em curvas fechadas ou locais de menor visibilidade.

O objetivo seria surpreender os condutores, denunciam automobilistas que preferem não ser identificados: "Nem um quilómetro faz e está a encontrar um posto policial. Por exemplo, agora que saí de casa, cruzei-me com três postos policiais na mesma via. Queria pelo menos que diminuíssem os postos móveis, que ficassem postos fixos".

"Tirar algum" para não pagar multa

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"Os postos são demais. Há aqueles postos que nós conhecemos, mas acabam por existir postos móveis com que nem contávamos. Somos surpreendidos e mandam-nos parar", diz outro condutor à DW África. "Isso fica como se fosse um hábito ou como se fosse uma lei aqui. Mesmo que esteja totalmente legalizado pela documentação, a tendência é ‘tirar algum' para que não me seja passada uma multa".

Há quase seis meses foi introduzida em Sofala uma viatura policial que faz operação ao longo das estradas, mas o objetivo desta operação não está muito claro para os motoristas.

"O problema da operação diária é que eles só querem dinheiro de parqueamento e, às vezes, não sabemos porque é que somos parqueados. Mesmo com documentos, somos parqueados. Escrevem uma multa e são logo 490 meticais", conta outro automobilista.

Polícia apela à denúncia

A polícia em Sofala diz não ter conhecimento das cobranças ilícitas e pede aos lesados que denunciem este facto junto das autoridades.

"É algo novo e estranho. No comando provincial da PRM em Sofala, em nenhum momento recebemos indivíduos que se tenham mostrado indignados com este comportamento que há de ser desviante, porque não decorre da própria lei", diz Daniel Macuácua, porta-voz da polícia.

No entanto, o Gabinete Provincial de Combate à Corrupção na província de Sofala informou que, no início deste ano, sete polícias foram presos em flagrante.

O porta-voz do gabinete, João Chaua, afirma que estão em curso mais investigações contra polícias corruptos e que há "investigadores no terreno para criar situações de flagrante delito".

"Nos outros anos, o gabinete já teve polícias, funcionários que exercem atividades na polícia de trânsito detidos porque foram encontrados em flagrante delito e outros processos foram abertos", sublinha.

O Governo tem reforçado o combate à corrupção, mas os automobilistas não estão muito confiantes: "A cada dia que passa, fala-se de combater a corrupção, mas parece que está ainda a aumentar. Não estou a ver a diferença, cada vez mais as coisas estão a piorar".

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