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Autoridades de Moçambique na Gorongosa: acto de soberania ou provocação?

Nádia Issufo14 de novembro de 2014

RENAMO condena deslocação do vice-ministro do Interior à Gorongosa, um dos bastiões do partido. O "marcar de posição" do Governo no local é visto por muitos como uma afronta ao maior partido da oposição.

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Ponte que liga Gorongosa e Inchope, em Sofala, alvo de vários ataques durante o período de tensão político-militarFoto: E. Valoi
Na quarta-feira (12.11), o vice-ministro moçambicano do Interior, José Mandra, esteve na Gorongosa, onde conversou com as Forças de Defesa e Segurança (FDS) estacionadas no local. De acordo com o Jornal Notícias, o vice-ministro disse que as forças "devem estar em prontidão na prevenção e combate ao crime, por se tratar de um dos deveres fundamentais que se enquadram na agenda nacional de mitigação da pobreza".

Embora os confrontos entre a RENAMO, o maior partido da oposição, e o exército governamental tenham acabado, as FDS não saíram da região e ainda não há uma data prevista para a sua retirada. A RENAMO não viu com bons olhos a presença de Mandra no seu reduto. Nas palavras de António Muchanga, porta-voz do partido, "a RENAMO lamenta o que está a acontecer porque a região da Gorongosa é a mais segura do país, devido à natureza da população e à presença de elementos da RENAMO".

Muchanga denuncia "o fabrico de drogas e rapto de empresários sob o olhar passivo da polícia" de Moçambique, considerando que "está a ficar claro que o Governo moçambicano não sabe dar prioridade ao desdobramento das Forças de Defesa e Segurança e pode ser responsabilizado pelo que está a acontecer no país".

"Afronta à RENAMO" diz diretor do Savana

Mosambik Afonso Dhlakama 10.04.2013
Líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, esteve refugiado durante mais de um ano na serra da Gorongosa, na província central de SofalaFoto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Em Moçambique, há quem interprete este marcar de posição do vice-ministro do Interior como uma provocação à RENAMO. Na opinião de Fernando Lima, jornalista e diretor do semanário independente Savana, José Mandra "não tinha nada que ir à Gorongosa, não tinha nada que fazer aquele show, porque claramente foi uma afronta à RENAMO". No entanto, explica o jornalista, "não há nenhuma mudança, as forças sempre estiveram ali".

Ao mesmo tempo que as autoridades moçambicanas marcam a sua posição no reduto da RENAMO, o país aguarda ansiosamente pelo veredicto do Conselho Constitucional sobre a anulação das eleições gerais de 15 de outubro passado, conforme pedido da RENAMO e do MDM, a segunda maior força da oposição. 15 de dezembro é o dia em que o Conselho deve bater o martelo.

Já antes disso o maior partido da oposição tinha ameaçado fazer uma revolta popular, a contestar as eleições devido às irregularidades e fraudes eleitorais. Haverá alguma relação entre estes dois factos? Fernando Lima acredita que não. "O vice-ministro do Interior não é conhecido por ser muito inteligente, portanto não me parece que seja uma atitude bem pensada ou que alguém o tenha mandado lá para provocar a RENAMO", diz Lima.

Embora não considere que a ida à Gorongosa tenha sido uma boa ideia, o jornalista afirma que "o Governo tem razão, há soberania governamental em todo o território moçambicano, logo, o vice-ministro do Interior pode ir onde quiser sem ser impedido". Fernado Lima acrescenta ainda que as autoridade "não foram provocar a RENAMO, não dispararam, não detiveram ninguém da RENAMO, mas aquele distrito votou todo RENAMO. Por isso, têm de ter a consciência de que são, em última análise, um exército de ocupação naquela zona".

RENAMO pede desbloqueamento de verbas

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Por outro lado, decorre um diálogo entre o Governo e a RENAMO onde o consenso demora a ser alcançado. Em cima da mesa esta a integração dos homens da RENAMO nas Forças Armadas de Defesa e na Polícia e ainda a reinserção social e económica dos inaptos.

O porta-voz da RENAMO, António Muchanga, aponta o dedo ao Executivo, afirmando que "há divergências, porque o Governo retirou o fundo que está a custear as despesas desta operação e entregou-o ao ministro da Agricultura. Parece que o ministro está a confundir essa verba de manutenção deste processo com mais uma verba para o seu gabinete".

"Nós temos 35 pessoas. O Governo tem 35 homens e a comunidade internacional tem 23. Estas pessoas precisam de ser assistidas do ponto de vista logístico. A RENAMO pede transparência: queremos saber quando e como é que o dinheiro será alocado", conclui Muchanga.
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