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História

Bayajida: A lenda dos Hauçá

Pinado Abdu Waba | rl
20 de março de 2018

Diz a lenda que foi a descendência de Bayajida que fundou a nação Hauçá. Historiadores duvidam, no entanto, que ele tenha realmente existido. Apesar das dúvidas, a lenda mantém-se forte e é recriada todos os anos.

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Foto: Comic Republic

Nascimento: Como a maior parte da lenda foi transmitida através da história oral, não há registo da data de nascimento ou da morte de Bayajida. Acredita-se que tenha nascido em Bagdade, no atual Iraque, e depois de um desentendimento com o império Kanem em Bornu, se tenha instalado em Daura, hoje Katsina (Nigéria).

Como nasce a lenda: Algumas fontes afirmam que a lenda de Bayajida surge algures entre os séculos XVI e XIX. No entanto, existem provas da sua existência na cultura Hauçá entre os séculos IX e X.

Nome: O seu nome original era provavelmente Abu Zaid. O nome que lhe foi dado pelos Hauçá - Bayajida - é atualmente uma frase: "Ba ya ji da", que significa "ele não podia perceber antes".

Serpente: Diz-se que Baiyajida matou uma cobra que vivia num poço em Kusugu, na atual Daura. A cobra já havia aterrorizado a população e tinha-a privado do uso de água, só permitindo que esta fosse retirada do poço às sextas-feiras. Conhecedor desta realidade, Bayajida ignorou os avisos e foi buscar água ao poço numa quinta-feira. Quando a serpente o atacou, ele cortou-lhe a cabeça com a sua espada.

Casamento: Como recompensa por ter morto a cobra, a Rainha de Daura, Daurama, prometeu-lhe metade do seu reino. Mas Bayajida recusou e, em vez disso, pediu a sua mão em casamento. Um acontecimento inédito, pois até aqui todas as rainhas haviam permanecido celibatárias durante toda a vida. Daurama concordou por se sentir em dívida para com ele.

Legado: Bayajida ficou conhecido por ter mudado a tradição no reino de Daura: antes da sua chegada, a monarquia de Daura tinha sido estritamente governada por mulheres. A tradição mudou do matriarcado para o patriarcado depois de Bayajida se ter casado com a rainha Daurama e os seus filhos o sucederem.

Bayajida: A lenda dos Hauçá

Território Hauçá: Bayajida teve três filhos: um da sua primeira mulher (filha do governante do Império de Borno) chamada Biram, uma da rainha Daurama, chamada Bawo, e outro de uma concubina. Bawo teve seis filhos que, juntamente com o seu tio Biram, governaram os sete estados legítimos de Hauçá, agora conhecidos como Daura, Kano, Katsina, Zaria, Gobir, Rano e Hadeja.

Conta a lenda que, há muitos séculos atrás, um príncipe árabe, vindo de Bagdade e de nome Bayajida, trouxe os primeiros cavalos para o Reino Hauçá, no norte da atual Nigéria. Como a sua lenda - fundamental para perceber a história do nascimento dos estados Hauçá no norte da Nigéria - foi passada de boca em boca, é difícil saber ao certo em que época terá vivido o príncipe ou até se existiu de verdade.

Segundo a lenda, depois de uma zanga com o seu pai, Bayajida terá partido para África, tendo sob o seu comando uma poderosa cavalaria. Acabou por ir parar a Daura, no norte da Nigéria. Aqui, Bayajida matou uma cobra que estava a impedir a população de ir buscar água a um poço. Como recompensa, recebeu a mão da rainha de Daura.

Mas será esta história baseada em factos reais? Ado Mahaman, professor de História da Universidade de Tahoua no Níger, duvida. "Para o provar, cientistas e arqueólogos deveriam examinar o poço para determinar há quantos anos existe, sobretudo porque a área em que o poço está localizado tem duas correntes, o que anula a história de que havia escassez de água nesta área", explica à DW.

DW African Roots- Bayajida
Como recompensa por ter morto a serpente, Bayajida recebeu a mão da rainha de DauraFoto: Comic Republic

Ainda assim, e independentemente da história ser real ou não, a tradição hauçá foi construída em torno dela. Segundo a lenda, Bayajida e a rainha de Daura não tiveram filhos no início, tendo-lhe a rainha arranjado uma concubina. As duas mulheres ficaram grávidas e tiveram ambas filhos. O filho da rainha Daura teve seis filhos que, juntamente com o pai, governaram o que hoje se conhece como os sete estados Hauçá legítimos. O filho da concubina teve sete filhos que acabaram por governar os chamados estados menores ou ilegítimos.

Dúvidas

Sendo Bayajida uma peça central na história dos estados Hauçá, é curioso que não haja nenhum registo dele entre os viajantes árabes. O que para o professor Ado Mahaman é indicativo de que a tradição hauçá se baseie numa invenção. "A única coisa que podemos deduzir desta história é que os estados dos impérios Hauçá queriam ter uma origem especial, algo incomum. Assim, poderiam dizer: Eu sou descendente de Bayajida", afirma.

Há quem diga que a lenda de Bayajida surgiu entre os séculos XVI e XIX. No entanto, há indícios de que a cultura hauçá remonta ao século X. Seja como for, Bayajida ainda hoje é vivamente lembrado na Nigéria e as cerimónias de cavaleiros galopantes continuam a desempenhar um papel importante na tradição hauçá atual.

O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.