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Beira: Muito a fazer um ano depois do ciclone Idai

Arcénio Sebastião (Beira)
15 de março de 2020

No centro de Moçambique, residentes da cidade da Beira continuam a precisar de ajuda. Os trabalhos de reconstrução prosseguem. Plano de reconstrução e resiliência terá duração de cinco anos.

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Cidade da Beira, a capital da província de Sofala, no centro de Moçambique
Cidade da Beira ainda tenta reerguer-se um ano depois da passagem do ciclone IdaiFoto: DW/A. Sebastiao

Um ano depois do ciclone Idai, a cidade da Beira continua em reconstrução. O ciclone causou mais de 600 mortos, afetou um milhão e meio de pessoas, e destruiu casas, escolas, unidades de saúde, a rede elétrica e a rede de comunicação.

Hoje, a Beira já tem uma cara nova. Muito foi reconstruído, mas muito continua também por ser reerguido. Agostinho Xavier mora na Beira e ainda não conseguiu repor os danos causados pelo ciclone. Após um ano, continua a viver numa casa com apenas dois quartos cobertos. O resto está sem teto.

Agostinho Xavier tem medo que, se vier outra intempérie, perca a casa toda, porque está muito degradada. "Não vai resistir, não vai resistir. Se vier outro ciclone, a casa vai embora", disse à DW África.

Agostinho Xavier diz que até é funcionário do Estado e tem salário garantido, mas o seu poder de compra baixou significativamente no último ano. Por isso, pede apoio."O principal são as chapas, mesmo se haver também um apoio com um pouco de cimento e barrotes, seria boa coisa, porque sem chapas não há segurança", afirmou.

Numa situação ainda mais complicada está José João, desempregado de longa data, viúvo com seis filhos e dois netos. "Nunca tive emprego, vivo na base de biscates. A situação ficou mais complicada, sem leite e sem nada. Muitas vezes, os meus filhos dormiam à fome, porque eu não tinha dinheiro suficiente para alimentar. Mas tinha que batalhar de todas as maneiras para poder alimentá-los, e estou sem dinheiro", diz.

Muitos a precisar de ajuda

O edil da autarquia da Beira, Daviz Simango, diz que ainda há muitas pessoas a precisar de ajuda. "Há muita gente ainda ao relento. Há muita gente ainda a sofrer e sem alimentos. As populações que fazem negócio formal já retomaram, mas de uma forma tímida, porque perderam a capacidade que tinham, portanto há que continuar a apelar às comunidades internacionais para que ajudem o setor informal, ajudem o setor privado", afirmou.

Ciclone Idai: Após um ano, infraestruturas estão destruídas

Segundo a coordenadora do Gabinete de Reconstrução, Nádia Adriano, já foram angariados 1,5 mil milhões de dólares dos 2,2 mil milhões necessários para avançar com o processo de reconstrução depois dos ciclones Idai e Kenneth.

"Durante este um ano pós-Idai, foram desenvolvidas algumas ações cruciais. Primeiro, tem a componente de emergência das obras com apoio do Banco Mundial, que envolveu a componente de estradas e pontes. A outra componente é de água e apoio em kits de produção para recuperação de setor económico, mais virado para a agricultura", explicou.

Outras ações estão a ser desenvolvidas por ONG parceiras, pelas comunidades e pelo setor privado. O Gabinete de Reconstrução pós-ciclones, criado em maio do ano passado, anunciou uma linha de crédito para apoiar as empresas afetadas. Muitas tiveram de fechar as portas depois da passagem do Idai. Estima-se que a província de Sofala perdeu mais de 20 mil empregos.

Resiliência

Na Beira, continuam os trabalhos para tornar a cidade mais resiliente contra fenómenos meteorológicos extremos. Resiliência era a palavra de ordem há um ano e continua a ser.

Segundo o edil da Beira, Daviz Simango, é preciso proteger a cidade contra a invasão das águas do mar, que ameaça a costa da urbe há muitos anos. Mas o trabalho é complexo e, além dessa, há outras coisas por fazer.

Daviz Simango, edil da cidade da Beira
Daviz Simango: "Proteção costeira é prioridade"Foto: DW/J. Carlos

"Nós definimos alguns pilares como pilares-chave para enfrentar este processo de reconstrução. Definimos a proteção costeira, definimos a drenagem, definimos o saneamento, definimos a gestão de resíduos sólidos, definimos as habitações privadas, as infraestruturas de habitação municipal, definimos as estradas e naturalmente definimos o negócio", sublinhou.

O programa de reconstrução pós-Idai tem uma duração de cinco anos. O objetivo é fazer construções urbanas resilientes para evitar que se repita o cenário de devastação de há um ano. E ainda há muito trabalho pela frente. O processo ainda está no início.

"Esse gabinete está a trabalhar em Maputo, continua um pouco fechado e, daquilo que nós sabemos, temos tido muita informação através da imprensa que eles vão fazendo o papel deles, mas o município por natureza própria da cultura que nós temos, houve um esforço por parte do município", disse.

"O mais importante é que o município conseguiu direcionar esta manifestação de apoio financeiro e vamos continuar a pedir e apelar os vários parceiros dos países mais industrializados para compreender que esse problema de mudanças climáticas acaba prejudicando a nós cá mesmo sem termos sido os grandes autores dessas mudanças climáticas", acrescentou o edil da Beira.

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