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Bispo de Pemba: "O povo está a sofrer com ataques armados"

21 de julho de 2019

Em entrevista à DW África, Dom Luiz Fernando Lisboa descreve como desolador o ambiente vivido nas comunidades alvo de insurgência no norte de Moçambique e cobra uma resposta do Governo e das forças de segurança.

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Dom Luiz Fernando Lisboa é o bispo da Diocese de Pemba, em Cabo DelgadoFoto: DW/D. Anacleto

Em entrevista à DW África, o Dom Luiz Fernando Lisboa, criticou o aparente silêncio das autoridades e do mundo face ao clima de insegurança que se vive em alguns distritos da província moçambicana de Cabo Delgado. Numa carta divulgada na sexta-feira passada (19.07), o padre brasileiro diz não entender por que não há igual preocupação com as vítimas dos ataques armados, tal como acontece com as dos ciclones Idai e Kenneth.

Na missiva intitulada "Carta Aberta ao Povo de Cabo Delgado", Dom Luiz Fernando Lisboa usou a sua voz para expressar o sofrimento a que estão sujeitos os residentes dos distritos do norte e centro de Cabo Delgado. Desde 2017, a população tem sido vítima de ataques protagonizados por indivíduos cuja identidade ainda não é do domínio público.

Bispo de Pemba: "O povo está a sofrer com ataques armados"

O bispo da Diocese de Pemba assegura que a intenção da carta não é atacar a quem quer que seja, mas alertar sobre uma triste realidade que muitos veem e ouvem, mas ignoram. "Eu tenho visto o povo a sofrer, a andar sem rumo. Alguns perderem a esperança, estão desanimados. Então, muitas vezes, nós precisamos ser a voz daqueles que não têm voz. É um momento forte de reflexão. Como eu disse na carta, é um momento, se necessário, de mudarmos de estratégias, de repensarmos, todos, as nossas ações – o Governo, as forças de segurança, as religiões e todos os grupos envolvidos", afirma. 

Na carta, o bispo lançou um apelo para que as pessoas não se resignem à violência e não cansem de procurar a justiça e a paz. "Isso seria como entregar os nossos irmãos do norte nas mãos dos malfeitores", lê-se na missiva.

O bispo brasileiro descreve o ambiente vivido nas comunidades alvo da insurgência como desolador. Pessoas estão a viver em casas de parentes nas vilas, devido à insegurança nas aldeias de origem, o que resulta em problemas, como a fome e o abandono às aulas.

Dom Luiz Fernando Lisboa questiona por que diante de tanto sofrimento e do aparente descontrolo da situação da segurança as autoridades criam um clima de secretismo e não se deixam ajudar nas investigações.

"Se olharmos todas as notícias que nós temos no mundo, inclusive a cobertura das guerras, estão lá os jornalistas. É claro que é uma profissão muito difícil, perigosa e que exige muita coragem e preparação, mas essa é a tarefa do jornalista: trazer as notícias, descobrir algumas coisas que estão escondidas. Então, penso que uma abertura poderia com certeza ajudar na identificação completa das motivações e talvez até quem são os mandantes dos ataques", disse.

Visita papal

A carta aberta foi escrita às vésperas da visita do Papa Francisco a Moçambique, a decorrer entre os dias 4 e 6 de setembro próximo. O cronograma da visita papal não inclui uma escala à província de Cabo Delgado.

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A província de Cabo Delgado é alvo de constantes ataques armadosFoto: Privat

"Não foi possível encaixar uma visita aqui em Cabo Delgado ou outra província. Mas o Papa tem uma mensagem muito geral. Ele sabe da situação de Cabo Delgado, da situação dos ataques e dos ciclones e, com certeza, ele vai dizer uma palavra de esperança a todo o povo moçambicano", sublinhou Dom Luiz Fernando Lisboa.

O bispo disse acreditar que, apesar das dificuldades que a província enfrenta, a quantidade de recursos naturais de que Cabo Delgado é detentora e o espírito trabalhador que caracteriza o seu povo são condimentos perfeitos para garantir o progresso da província e de Moçambique como um todo. Mas para tal acontecer é imperioso investir-se na formação da juventude.

"Temos jovens deambulando sem rumos, sem saber o que fazer. Então, acredito que se investirmos mais na educação da nossa juventude, com mais escolas que ofereçam ensino médio, com escolas técnicas e profissionalizantes que preparem a mão-de-obra que essas empresas necessitam, isso tudo pode nos trazer progressos", concluiu.

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