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Bissau: Demissão de Nabiam foi uma questão de "coerência"

Djariatú Baldé
21 de fevereiro de 2024

Presidente Sissoco Embaló diz que ficou triste com a demissão do seu conselheiro especial, Nuno Nabiam. Analista diz que a saída de Nabiam é um ato político significativo, mas não chega para acabar com a crise política.

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Nuno Nabiam (esq.) e Umaro Sissoco Embaló (dir.)
Foto: Presidency of Guinea-Bissau

O antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Nuno Nabiam, demitiu-se do cargo de conselheiro especial do Presidente, alegando falta de diálogo e discordância com a atuação de Umaro Sissoco Embaló, acusando o chefe de Estado de "abuso de poder".

Sissoco Embaló disse ter ficado triste com a notícia da demissão: "A nomeação de Nuno Nabiam como primeiro-ministro foi a minha opção pessoal. Lamento muito, porque ele tem acesso a mim e podia ter falado comigo", comentou em declarações aos jornalistas, esta quarta-feira (21.02).

Em entrevista à DW África, o analista político guineense Armando Lona entende que o pedido de demissão de Nabiam é um ato livre que o Presidente da República deve respeitar. Mas não será suficiente para acabar com a atual crise política - para isso, seriam necessárias outras atitudes similares.

DW África: Nuno Nabiam pediu a demissão como conselheiro especial do Presidente da República. Que respostas pode provocar por parte do chefe de Estado?

Armando Lona (AL): É um ato significativo, mas para mudar a atual situação é preciso somar mais atos similares - ou seja, uma tomada de posição clara em relação à realidade que nós estamos a viver atualmente. Temos um Parlamento fechado há quase 80 dias, desrespeitando a Constituição; temos um Governo a funcionar que não deriva da vontade popular, o Supremo Tribunal de Justiça está sequestrado e temos uma instituição importante como a Comissão Nacional de Eleições que continua numa situação de ilegalidade. Temos um país paralisado. Portanto, os posicionamentos políticos devem ser firmes em relação a essa questão.

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DW África: Acha que este pedido de demissão do Nuno Nabiam pode ser um passo para derrubar o regime de Sissoco Embalo?

AL: Não estou em condições de dizer isso, mas estamos a assistir a uma crispação política evidente. Os atores que estão agora a contestar os atos de Umaro Sissoco Embaló eram os seus aliados. Perante esse quadro, nós podemos dizer que é uma situação complicada do ponto de vista político. Mas o que é que isso vai implicar? Só o futuro dirá.

DW África: Os membros do partido de Nuno Nabiam, do PRS e do MADEM, que se mostraram nos últimos tempos contra as atuações do Presidente da República, continuam a fazer parte do governo de iniciativa presidencial. Isto não é contraditório?

AL: Sim, é uma incoerência do ponto de vista político. Porque este Governo é da iniciativa de Umaro Sissoco Embaló. Sendo assim, pertencer a este Governo e contestar a atuação do mesmo seria uma incoerência clara. 

A demissão de Nuno Nabiam como conselheiro talvez seja o primeiro de outros passos na linha da coerência política. Não basta contestar, mas é preciso assumir uma postura de adequar a atuação na política com as regras democráticas.

DW África: As ações contra Sissoco Embaló estão a aumentar na Guiné-Bissau. O que é que Sissoco poderá fazer para manter os seus aliados?

AL: O compromisso de Sissoco deveria ser para com o povo. Não existe garantia fora da Constituição. Para sair dessa situação é preciso respeitar a lei, é preciso voltar a ter as instituições democráticas em pleno funcionamento, porque não se constrói um país tendo instituições na situação em que se encontram hoje, todas paralisadas. O fundo do problema está aí, não em perder aliados.

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