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Boicote às eleições no Benim

AFP | Lusa | mjp
29 de abril de 2019

Eleitores responderam em massa aos apelos da oposição para boicotar as legislativas deste domingo, no Benim.

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Foto: DW/K. Gänsler

Com os principais opositores excluídos das eleições, devido a regras mais apertadas para as candidaturas, muitas assembleias de voto não tiveram mais do que algumas dezenas de votantes, apesar das centenas de eleitores registados.

Em todo o país, as ruas estiveram praticamente vazias. Na capital económica, Coutonou, as lojas e mercados permaneceram fechados todo o dia, com a população a temer confrontos, depois de a organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional ter denunciado na sexta-feira (26.04) "níveis alarmantes de repressão" no país.

Deriva "autoritária"

As eleições no Benim, tido como um exemplo de democracia na África Ocidental, ficaram ainda marcadas pelo corte da Internet no país - um sinal, para muitos observadores, de uma reviravolta autoritária do Presidente Patrice Talon. A Amnistia Internacional denuncia uma "violação flagrante da liberdade de expressão".

Boicote às eleições no Benim

Os principais opositores do chefe de Estado vivem atualmente no exílio e, recentemente, muitos ativistas políticos e jornalistas foram detidos. O ambiente de tensão agrava-se com a repressão de manifestações pacíficas: desde fevereiro, todos os movimentos sociais ou protestos da oposição foram proibidos ou reprimidos com gás lacrimogéneo.

A rádio nacional apelou em vão aos 5 milhões de eleitores para "cumprirem o seu dever como cidadãos" e irem às urnas eleger os seus 83 deputados.

Entre os insatisfeitos que se abstiveram em protesto há também apoiantes do chefe de Estado, como Wilfrid Bokini, agente comercial na capital, Porto Novo: "Gosto das reformas dele, o que ele faz aqui em Porto Novo é bom. Vou votar nele em 2021. Mas ele excluiu opositores, não gostei, foi por isso que não fui votar", afirma.

Esta é a primeira vez que a oposição não participa nas eleições desde que o Benim garantiu a sua transição democrática, em 1990. Nos boletins de voto, a escolha estava limitada a dois partidos aliados do Presidente.

As novas leis eleitorais, aprovadas pelo Parlamento no final de 2018, visavam reduzir a quantidade de partidos registados, perto de 250 num país com 12 milhões de habitantes. Os principais partidos da oposição não conseguiram apresentar em tempo útil todos os documentos exigidos pela nova lei. Um porta-voz da Presidência garantiu que "o objetivo das reformas nunca foi impedir as pessoas de participarem nas eleições".

Frankreich Paris Benins Präsident Patrice Talon
Presidente do Benim, Patrice TalonFoto: picture-alliance/abaca/E. Blondet

Presidente não parece preocupado

Por todo o país, este domingo (29.04), os beninenses voltaram as costas às legislativas, em sinal de protesto.

"Desde esta manhã que estou a observar cerca de cinco assembleias de voto. O que verifico é que as pessoas não vieram, de todo", contou Aude Gnonlonfoun, da equipa de observadores eleitorais na capital, Porto Novo.

A sociedade civil beninense e representantes da comunidade internacional, como a União Europeia, recusaram enviar observadores às eleições como sinal de descontentamento.

Numa altura em que organizações como a Amnistia Internacional alertam para o risco de agitação social, o Presidente, por sua vez, não parece preocupado. Não restam grandes dúvidas de que o novo Parlamento vai apoiar a sua Presidência. O porta-voz do chefe de Estado afirmou mesmo que "o ressentimento vai passar" e que, esta segunda-feira, a vida regressará ao normal.