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Cabo Delgado: Quem é Bonomado Omar?

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17 de agosto de 2021

Para além de líder da insurgência no norte de Moçambique, o procurado "leão da floresta", é descrito por um estudo da ONG OMR como alguém com "capacidade de comando, carisma e liderança" e "boas relações no Exército".

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Symbolbild - Afrikanische Miliz
Foto ilustrativaFoto: Getty Images/AFP/J. Moore

Num estudo recente (10.08) do Observatório do Meio Rural (OMR) intitulado "Do inimigo sem rosto à hipótese de diálogo: Identidades, pretensões e canais de comunicação com os machababos" são apresentados os perfis de algumas das lideranças da insurgência em Cabo Delgado. 

O documento entende que "não obstante a presença de estrangeiros, a esmagadora maioria dos membros do grupo são moçambicanos, oriundos maioritariamente dos distritos de Mocímboa da Praia, Palma, Macomia e Quissanga, mas também do planalto de Mueda, do litoral de Nampula e da província do Niassa, entre outras regiões".

Aponta Bonomado Machude Omar, ou Ibn Omar, como o líder da insurgência que começou em finais de 2017 no norte de Moçambique. Troca frequentemente de nome e ainda segundo o estudo é também designado por Omar Saíde ou Sheik Omar e atualmente conhecido por Nuro Saíde ou Abu Surakha.

De "Patrick Vieira" a "leão da floresta"

Segundo pesquisa da ONG moçambicana, Omar nasceu em Palma no povoado de Ncumbi e, aos 5 anos, ficou órfão de pai. A família viajou para Mocímboa da Praia e a mãe juntou-se com outro homem, localmente conhecido por Mze Tchidi. O padrasto introduziu Omar no Islão, que foi estudando e aperfeiçoando.

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Palma, hoje destruída pelos ataques insurgentes, o lugar onde nasceu Bonomado OmarFoto: JOHN WESSELS/AFP via Getty Images

"Finalizou a 10ª classe na Escola Secundária Januário Pedro em Mocímboa da Praia e, de acordo com antigos professores, era um jovem calmo, bom aluno e bom jogador de futebol. Depois de atingir a maioridade, cumpriu o serviço militar na marinha em Pemba, findo o qual residiu", relata o documento. 

No internato do African Muslim, faz a 12ª classe e "torna-se um elemento carismático junto de outros jovens, onde era conhecido pelo seu sentido de justiça e de proteção dos mais novos. Um dos seus passatempos era jogar futebol. Devido à estatura elevada (entre 1,80 e 1,90m) e pelo facto de jogar no meio campo, adquiriu a alcunha de Patrick Vieira". 

Por volta de 2008 e 2009 trabalhou no mercado Maringué em Pemba, onde vendia hortícolas e roupas muçulmanas, para um comerciante estrangeiro (as versões variam entre tanzaniano e somalí), constata ainda a pesquisa.

Viajou para a Tanzânia e para a África do Sul e regressou a Mocímboa da Praia onde dinamizou uma mesquita e uma barraca de venda de quinquilharias, adquiridas em mercados tanzanianos ou na cidade de Pemba.

"Capacidade de comando, carisma e liderança"

O OMR afirma que Bonomado Omar "participou nos primeiros ataques a Mocímboa da Praia e refugiou-se nas matas. Pela sua habilidade militar e capacidade de camuflagem adquiriu localmente a alcunha de "Rei da Floresta”. Atualmente é o líder do grupo em Moçambique, assim como o elo de ligação com o exterior, como confirmou recentemente o Departmento de Estado norte-americano.

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O Estado Islâmico (EI) tem reivindacado alguns ataques em Cabo DelgadoFoto: picture-alliance/dpa

"Omar demonstra capacidade de comando, carisma e liderança, ditando as regras e decidindo onde e como atacar, assim como quem se deve assassinar". É a Omar que se recorre perante situações mais delicadas. Omar destaca-se como bom nadador. Futebol, alcorão, condução de veículos e manuseio de material bélico constituem as suas grandes paixões", prossegue.

Boas relações no exército e resgates

Tem três esposas nas matas de Cabo Delgado e vários filhos menores, inclusivamente na cidade de Pemba. À noite, circula com uma lanterna de mineiro na cabeça, por vezes com uma escolta de motas atrás de si. Os que o acompanham são geralmente mais velhos e experientes. Por vezes, é visto trajando "roupa muçulmana preta”.

Trata-se da figura central de um vídeo filmado em Mocímboa da Praia em março de 2020 aquando da invasão à cidade, aparecendo a falar em suaíli para a população local, explicando os objetivos do grupo, segundo a OMG que acrescenta que "Omar coordenou o ataque a Palma em março de 2021 e envolveu-se diretamente no processo de negociação de resgates.

É conhecido por ter bastantes relações em vários distritos de Cabo Delgado, inclusivamente no exército moçambicano. Para além do suaíli, língua com a qual mais se identifica, Omar exprime-se fluentemente em macua, maconde e português.

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