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Cabo Delgado: Detidos supostos informantes e recrutadores

Delfim Anacleto
26 de setembro de 2020

Missão dos dois homens, de acordo com a polícia, era controlar a movimentação das Forças de Defesa e Segurança e transmitir a informação aos terroristas. Para as autoridades, atuavam também no recrutamento de jovens.

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Mosambik | Terrorismus NEU
Foto: DW

Assane C., de 38 anos de idade, e Manel D., de 42, encontram-se detidos, acusados de pertencer ao grupo de terroristas que cria instabilidade em alguns distritos da província de Cabo Delgado, em Moçambique. 

Manel D., natural do distrito de Memba em Nampula e residente em Montepuez, diz que o seu cunhado solicitava tais informações através de chamadas telefónicas - informações essas que garante ter recusado fornecer, mesmo depois de várias insistências.

"Recebi a segunda chamada do aluno do mesmo [cunhado], perguntando-me qual era a movimentação na vila de Montepuez. Respondi que não trabalhava para o Estado e que não seria capaz de dizer qual era o plano do Estado: 'Isso aí você deve perguntar à pessoa que está integrada lá no Estado," relata.

Recrutamento de jovens

Manuel diz também que o referido indivíduo lhe terá questionado sobre a existência de jovens que estariam interessados em aderir ao movimento dos terroristas que ataca o norte de Cabo Delgado.

"Perguntou-me se conhecia jovens que se querem juntar ao al-Shabaab. Eu disse que não conhecia ninguém. Eu fui detido por comunicar com bandidos," argumenta.

Assane C., comerciante que exercia as suas funções entre a cidade de Pemba e a vila de Mocímboa da Praia, estaria ligado aos insurgentes através de um cidadão tanzaniano, que lhe terá proposto integrar as fileiras dos insurgentes com promessas de riqueza. Entretanto, também afirma ter recusado tais propostas. 

"Ele perguntou-me: 'porque está a sofrer a ir às ilhas [fazer comércio]? Será que você não quer dinheiro? Se você quer dinheiro, deve entrar neste grupo," diz o suspeito.

Mosambik | Terrorismus NEU
Foto: DW

Movimentação das FDS

Assane C. reconhece ter partilhado informações sobre a movimentação dos militares ao cidadão tanzaniano, alegado membro do grupo terrorista.

"Ligou e perguntou-me se em Metuge havia militares, ao que respondi que sim, estavam lá soldados. Noutro dia, ligou-me para me perguntar se teria visto helicópteros a sobrevoar. Eu disse: 'sim, vi dois helicópteros a passar," admite.

A polícia não tem dúvidas sobre o envolvimento dos dois indivíduos e diz que a neutralização dos supostos colaboradores de terroristas resultou de um trabalho operativo que contou com o apoio da população.

"Um é detido na cidade de Pemba e o outro em Montepuez. Nesses pontos, cada um tinha a tarefa de dar informações em relação ao posicionamento e à movimentação das nossas Forças de Defesa e Segurança, para alimentar os terroristas [com informações] com vista a levar a cabo as suas incursões - bem como no processo de recrutamento de mais jovens, para engrossar as fileiras dos terroristas," afirma o porta-voz da Polícia da Repúbica de Moçambique em Cabo Delgado, Ernesto Mudungue.

Outros distritos em risco?

A detenção de informantes em Pemba e Montepuez seria sinal de que os dois distritos estariam na mira dos insurgentes?

"Não descartamos a possibilidade de que eles têm feito de tudo para buscar informações em todos os pontos, com vista a desestabilizar a nossa província," avalia Mudungue.

"O que nós temos feito é não minimizar nenhum distrito. Procuramos fazer de tudo, no sentido de garantirmos a segurança em toda a extensão da nossa província," acrescenta.

Instado a comentar sobre a situação atual de Mocímboa da Praia, Ernesto Mudungue diz:  "Neste momento, temos lá a movimentação das nossas forças com vista a voltarmos àquilo que é a normalidade para as nossas populações," finaliza.

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