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Cabo Delgado: "Não acredito num cometimento da SADC"

Nádia Issufo
7 de abril de 2021

Cimeira da SADC esta quinta-feira discute a atividade terrorista em Cabo Delgado. O analista moçambicano Rufino Sitoe lembra que combater o terrorismo é caro e os estados do bloco não têm expertise em contrainsurgência.

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BG I Alltag und Militarismus in Cabo Delgado
Foto: Roberto Paquete/DW

A capital moçambicana, Maputo, vai acolher esta quinta-feira (08.04) a cimeira da defesa e segurança da SADC sobre a violência armada no norte de Moçambique e o apoio no combate aos grupos armados.

O encontro será dirigido pelo presidente em exercício da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e chefe de Estado do Botswana, Mokgweetsi Masisi, e contará com a presença dos Presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, da África do Sul, Cyril Ramaphosa, Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, Malawi, Lazarus Chakwera, e da Tanzânia, Samia Suluhu.

"Penso que vai ser melhor do que o encontro passado, que Moçambique tenha uma ação mais concreta, não só centrada na área de defesa e segurança, mas também nas várias dimensões de prevenção da violência extremista", expôs, em conversa com a DW África, o especialista em resolução de conflitos e políticas públicas, Rufino Sitoe.

Rufino Sitoe | Author Buch Terrorism in Africa
Rufino Sitoe espera que "Moçambique tenha uma ação mais concreta"Foto: Privat

Recorde-se que depois da última reunião de alto nível da SADC, em dezembro, Moçambique foi duramente criticado por supostamente não ter qualquer estratégia e por ter apresentado uma simples "lista de compras" aos seus pares da região.

Mas os seus países vizinhos há tempos que aguardam por um pedido de apoio de Maputo e as expetativas são de que, desta vez, o país assuma os seus vizinhos como verdadeiros parceiros e os envolva no caso.

"Problema de orgulho”

David Matsinhe, pesquisador da Amnistia Internacional, vê um senão na postura do Governo.

"O que temos verificado é que o Governo moçambicano tem problema de orgulho, quer projetar a imagem de um Governo que tem o controlo da situação. Os países da SADC dizem que estão à espera de um pedido formal do Governo moçambicano para que haja uma intervenção. Na União Africana o argumento é o mesmo, na comunidade internacional e ONU o argumento é o mesmo, mas não estamos a ver do lado do Governo moçambicano um comprometimento, senso de urgência, para restaurar a paz em Cabo Delgado", lamenta.

Oficialmente, o Governo moçambicano não aposta em pedidos de ajuda para responder ao terrorismo em Cabo Delgado, alegando respeito à soberania, um direito a ser tomado em conta, principalmente se observamos casos em que a intervenção estrangeira resultou em colapso de estados. Contudo, o terrorismo em Cabo Delgado está a transformar-se num problema transnacional.

David Matsinhe
"O Governo moçambicano tem problema de orgulho", David MatsinheFoto: privat

Necessário financiamento

A par disso, há problemas domésticos na SADC que podem deixar os seus membros de braços atados. Nesse contexto, pode-se esperar um cometimento da SADC? Rufino Sitoe acredita que não e explica:

"Na verdade, não acredito muito porque é preciso envolver uma variável muito importante de estratégia de contrainsurgência que é o financiamento. Combater o terrorismo requer o cometimento de muitos recursos financeiros por parte dos estados membros. A África do Sul já vive num marasmo financeiro há muito tempo de tal forma que há vários programas que não consegue desenvolver. E quanto aos demais estados já sabemos da realidade deles. Não se trata apenas de compromissos políticos".

O analista recorda ainda que vários membros da organização não têm expertise em matéria de contrainsurgência, algo crucial para Moçambique neste momento.

O encontro agendado para esta quinta feira, 08.04, junta a chamada Cimeira da Dupla Troika da SADC, que integra os países das troikas do Órgão de Defesa e Segurança e da Troika da SADC, de acordo com uma nota explicativa divulgada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique.

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