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Religião

Bispo de Pemba: "Não há risco de conflitos inter-religiosos"

Nádia Issufo
24 de abril de 2020

Moçambique sempre foi dos raros exemplos de coabitação inter-religiosa bem sucedida em África. A violência e o desrespeito dos insurgentes no norte, que se escudam no Islão, poderão ser uma ameaça à paz e à harmonia?

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Foto: DW/D. Anacleto

Entrevistamos o bispo de Pemba, dom Luiz Fernando Lisboa, que tem acompanhado as consequências das ações dos insurgentes na província nortenha de Cabo Delgado, sobre possíveis riscos do surgimento de conflitos inter-religiosos.

DW África: Como vê o primeiro ataque dos insurgentes a uma missão católica?

Dom Luís Fernando Lisboa (LFL): Eles não entraram apenas na igreja, eles destruiram o comércio. É verdade que entraram na igreja católica, mas principalmente deixaram a população mais pobre, porque a população já é pobre. E destruir o comércio e os bens das pessoas entristece-nos mais porque acaba piorando a vida das pessoas que já têm uma vida tão sacrificada. E ao destruir os bens das pessoas aumentam o sofrimento do povo.

DW África: Com este tipo ações, acha que há o risco de surgimento de conflitos inter-religiosos em Moçambique?

LFL: Penso que não há nenhum risco de conflitos inter-religiosos nem em Moçambique nem em Cabo Delgado e tão pouco tivemos problemas entre as religiões. Nós temos vários encontros entre os lideres religiosos, já fizemos muitos encontros juntos, formações, já fizemos uma carta conjunta assinada por mim, bispo, pelos responsáveis do Conselho Cristão de Moçambique e pelos responsáveis do Congresso Islâmico e pelo Conselho Islâmico. Nós já temos uma prática de encontros de trabalhar juntos, já fizemos a caminhada pela paz, oração pela paz. Então, não há o menor risco de conflitos inter-religiosos. Eles desde o começo afastaram-se desses ataques e disseram que os que fazem isso não são religiosos, usam o nome da religião para fazerem isso.

Symbolbild < Im Norden Mosambiks sind 50 Zivilisten von Dschihadisten ermordet worden
Insurgentes deixam rasto de destruição no norte de MoçambiqueFoto: AFP/J. Nhamirre

DW África: Na sua opinião, o que é necessário fazer para se evitar um cenário desse tipo?

LFL: Para evitar conflitos é necessário que os muçulmanos se posicionem, como têm feito desde o começo, afastando-se totalmente desse grupo, reafirmando que não têm nada a ver com isso, que, pelo contrário, quando começaram a chegar algumas pessoas há uns anos atrás, eles avisaram as autoridades. E isso é verdade, eu estou aqui há muitos anos e sei disso. E eles também andaram a implicar com cristãos há anos atrás em Palma e Mocímboa da Praia e também avisei as autoridades sobre isso.

Então, o que nós precisamos fazer é continuar a encontrarmo-nos, entendermo-nos e a trabalhar juntos porque Deus não se divide, é único. E nós temos de nos unir contra situações de violência ou qualquer tipo de guerra porque o Deus verdadeiro é aquele que quer a justiça, que quer a paz, o entendimento entre os povos e não guerra, não derramamento de sangue. Eu gostaria de aproveitar esta oportunidade para fazer a minha homenagem a todas as 52 pessoas, na maioria jovens, que não aceitaram o convite de entrar na guerra. Eles são verdadeiros mártires da paz, não aceitaram engrossar as fileiras daqueles que querem a guerra, mas morreram para defender a paz, então, quero fazer a minha homenagem a eles.

Bispo de Pemba #explica situação humanitária em Cabo Delgado

 

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