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Cabo Delgado: "O acesso à saúde é um grande desafio"

30 de junho de 2022

Segundo a Cruz Vermelha, 80% das estruturas de saúde foram danificadas nas regiões de conflito, e vários profissionais de saúde puseram-se em fuga.

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No distrito de Mueda, houve aglomeração na reabertura do hospital rural local, em março de 2021Foto: Roberto Paquete/DW

A destruição de infraestruturas hospitalares no norte de Moçambique está a deixar milhares de famílias sem serviços de saúde.

Os ciclones e a violência em Cabo Delgado e destruíram 126 unidades de saúde no país. Desde o início da insurgência armada, em 2017, das mais de cem unidades hospitalares destruídas, 31 foram danificadas por terroristas.

O ministro da Saúde, Armindo Tiago, disse que se trata de "um verdadeiro revés face aos ganhos alcançados neste setor", acrescentando que há necessidade de ajuda externa.

Em entrevista à DW África, a coordenadora de comunicação do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Moçambique, Mariana Camaroti, explica que o acesso à saúde é um desafio para a população nas áreas de conflito.

Por um lado, cerca de 80% das estruturas do setor terão sido danificadas. Por outro, os próprios profissionais de saúde tiveram de fugir das áreas inseguras.

Segundo Mariana Camaroti, o CICV está a trabalhar para reformar, ampliar e reestruturar as infraestruturas, ao mesmo tempo em que tenta sensibilizar os diversos interlocutores para o facto de que o acesso à saúde é um direito humanitário das populações.

DW África: Qual é a situação atual da assistência à saúde aos cidadãos no norte do país?

Mariana Camaroti (MC): O conflito armado em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, tem afetado o acesso da população à assistência à saúde.

Enquanto houve cerca de 800 mil pessoas deslocadas dentro da própria província de Cabo Delgado, existe o registo de que 80% das estruturas de assistência à saúde, nas áreas afetadas pelo conflito, foram danificadas, vandalizadas, queimadas e abandonadas pelos profissionais de saúde, por questões de segurança.

Então, o acesso à saúde é um grande desafio para a população afetada pelo conflito armado em Moçambique.

DW África: A destruição das infraestruturas tem deixado milhares de famílias sem acesso aos serviços de saúde, como menciona. O que tem sido feito para garantir alguma assistência médica aos cidadãos?

MC: Aqui em Moçambique, temos trabalhado com apoio ao Governo na reforma, ampliação e reestruturação de unidades de assistência à saúde. Ou seja, centros de saúde nas regiões que receberam o maior número de deslocados internos em Cabo Delgado.

Este ano, por exemplo, inaugurámos e entregámos ao Governo de Moçambique e à população três centros de saúde no município de Pemba, que beneficiaram cerca de 80 mil pessoas, entre residentes e deslocados. Entregámos outros três centros de saúde ao distrito de Montepuez, que atendem também cerca de 80 mil pessoas.

Até ao final do ano, devemos inaugurar um hospital rural no distrito do Ibo, que deve atender a outras dezenas de milhares de pessoas.

Flüchtlingslager | Cabo Delgado | Mosambik
Ataques no norte desde 2017 já resultaram em 800 mil deslocados internosFoto: Chris Huby/Le Pictorium/dpa/picture alliance

DW África: Há relatos de que profissionais da saúde que trabalham na região norte de Moçambique não querem desempenhar as funções por medo. O que tem sido feito para prestar assistência aos próprios profissionais da saúde nessas áreas?

MC: O que observamos aqui em Moçambique - e que é uma tendência em outras áreas afetadas pelo conflito armado - é que os profissionais de saúde, com medo da violência, fogem em busca de segurança, juntamente com a população.

Então, os profissionais de saúde tornam-se deslocados, e as áreas afetadas ficam não apenas com os centros de saúde danificados, mas também sem profissionais.

DW África: O Comité Internacional da Cruz Vermelha tem trabalhado em articulação com outras organizações locais. Percebe uma sinergia das organizações internacionais com o Governo para o desenvolvimento de um trabalho no norte de Moçambique?

MC: Temos trabalhado no sentido de consciencializar os profissionais de saúde em relação a essa problemática observada em locais de conflito - qual é o tipo de comportamento mais seguro que se pode ter, quais são as problemáticas observadas na "assistência à saúde em perigo".

O CICV tem uma campanha que está a comemorar 10 anos neste momento, que se chama "Assistência à Saúde em Perigo". Nós apresentámos essa iniciativa às autoridades e, agora, à Comissão Nacional de Direito Internacional Humanitário. Também fazemos apresentações às equipas para que entendam melhor a problemática que enfrentam e apresentamos esta iniciativa a portadores de armas e autoridades sobre a importância de respeitar os serviços de saúde.

Nos nossos diálogos com os diferentes interlocutores - autoridades, portadores de armas, Forças Armadas - repetimos que as estruturas e profissionais de saúde devem ser respeitados porque o acesso à assistência à saúde é um direito humanitário da população civil.

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Tainã Mansani Jornalista multimédia
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