1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

O que será dos insurgentes sem o seu líder religioso?

4 de outubro de 2021

Morte do xeique Njile North significa um duro golpe para as fileiras insurgentes em Cabo Delgado, diz Abudo Gafuru. Para o ativista, terroristas querem implantar lei islâmica, mas a mesma "não tem espaço" em Moçambique.

https://p.dw.com/p/41Fry
Militares da SADC em Cabo DelgadoFoto: DW

A tropa da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) estacionada no teatro operacional de Cabo Delgado anunciou este fim de semana ter abatido, numa base terrorista no distrito de Nangade, o líder espiritual dos insurgentes que aterrorizam a província há quatro anos.

Trata-se do xeique Njile North, tido como um dos líderes preponderantes do grupo e uma das figuras que teriam orquestrado o primeiro ataque à vila da Mocímboa da Praia a 5 de outubro de 2017.

"Nesta operação 19 terroristas foram abatidos, incluindo o líder - Dr. Njile North, e infelizmente perdemos um dos nossos militares neste ataque", disse em conferência de imprensa, De Ndzingue, vice-comandante das tropas da SADC em Cabo Delgado.

Radicalização de jovens

De nome oficial Rajab Awadhi Ndanjile, natural da aldeia de Litinginya, nas imediações do distrito de Nangade, Njile North era tido como um dos responsáveis diretos pela radicalização dos jovens em Cabo Delgado.

Os jovens de Nampula que usam a música contra o terrorismo

Para o ativista social Abudo Gafuru, o "xeique Njile North não era um qualquer". E sua a morte pode representar uma grande baixa para os terroristas.

"Primeiro, ele estava a liderar desde o início dos ataques em Cabo Delgado até aos dias de hoje. Porque ele esteve no dia do ataque a vila da Mocímboa da Praia, no dia 05 de outubro. E era considerado um líder religioso muito respeitado naquele triângulo todo, entre Nangade, Muidumbe e Mueda", avança o ativista.

Na base em Chitama, onde Njile North foi abatido, a tropa conjunta da SADC e das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique apreenderam documentos e equipamentos eletrónicos que fazem crer que, segundo Ndzingue, "era um campo de treinamento e radicalização de crianças raptadas nas aldeias".

"Ainda estamos a investigar estes documentos para melhor estudar o modus operandi dos terroristas", explicou o vice-comandante das tropas da SADC em Cabo Delgado.

O receio da "iraquização" de Cabo Delgado

Crianças-soldado

Na semana finda, a organização Human Rights Watch denunciou que os terroristas em Cabo Delgado estavam a transformar crianças em soldados. Uma informação que veio a ser confirmada por uma fonte do Ministério da Defesa de Moçambique, citada pela televisão pública TVM.

"Está claro que o primeiro objetivo dos terroristas é recrutar e doutrinar as crianças e torná-las mais radicais", avançou a fonte à TVM.

Para o ativista Abudo Gafuru, a radicalização das crianças significa que os insurgentes as treinam "para saberem usar a arma, a catana para puder cortar pessoas em pedaços".

Na base de uma pesquisa por si feita a uma menor recentemente liberta das mãos dos terroristas, Gafur conta que "para as crianças que estão a ser instruídas, uma das provas que lhe é submetida, para testar o conhecimento do uso da arma e catanas ou facas, é colocá-las a matar os reféns que não têm conhecimento do alcorão".

Sobre a apreensão de livros com instruções militares e teor religioso nas bases dos terroristas, Abudu Gafur não tem dúvidas de que "é obvio que estão a preparar a lei Sharia e a sua implementação”. "Para nós, a lei Sharia não tem espaço para implementação no território moçambicano", conclui o ativista.