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Cabo Delgado: ONG retiram pessoal da Ilha do Ibo

Lusa
4 de março de 2024

A aproximação de grupos terroristas à Ilha do Ibo, em Cabo Delgado, está a obrigar organizações não governamentais (ONG) a retirar colaboradores do local. Autarca diz que "há ameaça em volta da vila".

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Ilha do Ibo assiste à retirada de trabalhadores de ONG devido à ameaça terrorista na região (Foto simbólica)
Ilha do Ibo assiste à retirada de trabalhadores de ONG devido à ameaça terrorista na região (Foto simbólica)Foto: DW

O presidente do Conselho Municipal da Ilha do Ibo, Issa Tarmadade, garantiu esta segunda-feira (04.03) que as atividades decorrem sem sobressaltos, apesar da circulação de grupos de terroristas nas proximidades, mas a situação levou à retirada de colaboradores das principais ONG que operam localmente, por precaução.

"Estão a sair, de facto. Ontem [domingo] houve uma saída muito rápida de ONG, que estão a trabalhar aqui no Ibo, saíram por questões de precaução, não quer dizer que nós sofremos alguma coisa, ou algum terrorista entrou aqui no Ibo, não. É uma questão de precaução da parte deles e seus funcionários e trabalhadores, são ameaças de terroristas aí em volta da vila do Ibo", disse Issa Tarmamade à agência de notícias Lusa.

"Aqui no Ibo não há nada, não sofremos nenhum ataque, ameaça sim. Há ameaça em volta da vila. E as pessoas com receio do Ibo ser atacado, aparece essa coisa de saída de pessoas", reconheceu ainda o presidente do Conselho Municipal da Ilha do Ibo.

Autarca diz que as autoridades pedem que a população esteja "vigilante" (Foto de arquivo)
Autarca diz que as autoridades pedem que a população esteja "vigilante" (Foto de arquivo)Foto: Kholofelo Sathekge/DW

"Acompanhamos a população na medida do possível"

Apesar do receio, o autarca diz ter orientado os vereadores e outros funcionários para continuarem junto à população, enquanto acompanham o trabalho das Forças de Defesa e Segurança no terreno: "Como município e vereadores ninguém sai, estão todos aqui, e vamos trabalhando e vamos acompanhado a população na medida que for possível, as Forças de Defesa e Segurança estão a fazer o seu trabalho e à noite não podemos andar a partir das 20:00, por questões de segurança".

Face ao atual momento, o autarca diz ter privilegiado encontros com as lideranças dos bairros, para apelar ao reforço da vigilância coletiva e para evitar infiltrados entre as populações, sobretudo os pescadores.

"Para as pessoas estarem vigilantes, controlar as pessoas desconhecidas, cada quarteirão, cada dez casas, tem que saber com quem lida, quem entra, quem não entra e nós estamos sempre com os nossos munícipes nos bairros a aconselhar. Temos aquela coisa de recolher obrigatório a partir das 20:00, durante o dia normal as barracas estão abertas, os mercados estão abertos, e a população vai circulando e vai vendendo seus produtos", concluiu.

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Ataque na Ilha das Quirimbas

A retirada dos trabalhadores das principais ONG que operam na Ilha do Ibo acontece um dia após um ataque dos rebeldes contra as FDS na Ilha das Quirimbas, pertencente à autarquia da Ilha do Ibo, a menos de 15 quilómetros.

"Mataram três agentes das FDS, em Quirimbas, e nós estamos com medo", disse hoje à Lusa uma fonte da comunidade a partir do Ibo.

Os moradores contam que após o ataque na Ilha das Quirimbas, os rebeldes mataram uma vaca, que cozinharam, tendo de seguida convidado a população a juntar-se.

Os insurgentes, segundo a mesma fonte, reiteraram estar do lado da população e declararam guerra contra as Forças de Defesa e Segurança. "Disseram que não querem o povo, só querem as pessoas que estão a oprimir o mesmo. Só que não entendemos, pois as vezes matam o próprio povo", lamentou a mesma fonte, sob anonimato.

Nova vaga de ataques

Após vários meses de relativa normalidade nos distritos afetados pela violência armada em Cabo Delgado, a província tem registado, há algumas semanas, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes, que têm limitado a circulação para alguns pontos nas poucas estradas asfaltadas que dão acesso a vários distritos.

Dados oficiais indicam que a nova vaga de ataques obrigou 67.321 pessoas a fugirem das suas terras de origem, incursões justificadas pelo executivo moçambicano como resultado da "movimentação de pequenos grupos de terroristas" que saíram dos quartéis em direção ao sul de Cabo Delgado, após um período de relativa estabilidade.

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