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Uso de minas é nova tática de insurgentes em Cabo Delgado

24 de setembro de 2021

Antigo negociador da RENAMO lembra que uso de minas em combate é típico de guerrilhas. Raúl Domingos teme silêncio do grupo armado em Cabo Delgado: "Precisamos estar atentos porque podem voltar ao ataque com mais força".

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20 Jahre Frieden in Mosambik Raúl Domingos
Raúl Domingos, ex-negociador da RENAMOFoto: DW/M.Barroso

Recentemente o projeto de registos sobre conflitos armados ACLED e alguns jornais reportaram o uso de engenhos explosivos por parte dos insurgentes em Cabo Delgado, embora o ministro da Defesa de Moçambique, Jaime Neto, diga que desconheçe o assunto.

Antes da intensificação da ofensiva militar na província no norte de Moçambique, graças ao reforço de forças externas do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), não havia relatos de uso de minas antipessoais. Raúl Domingos, antigo negociador-chefe da Resistência Nacional Moçambicanoa (RENAMO), comenta em entrevista a DW África sobre o novo "modus operandi" dos insurgentes.

DW: Acha que a novidade no uso de minas visa essencialmente alvos militares?

Raúl Domingos (RD): Em primeiro lugar, eu acho que é uma atitude de defesa da própria força dos insurgentes, que tem estado a atuar como um [grupo armado de] guerrilha. Usar minas é uma forma de ataque e que se consubstancia em forma de defesa. Uma forma de se proteger é usar minas para impedir o avanço das forças terrestres motorizadas. Não tenho muitas informações sobre o tipo de mina que estão a usar, mas acredito que seja antitanque e antipessoal. Isso é típico de uma força de guerrilha.

DW: Entretanto, uma força extremista como a que está a atuar em Moçambique não tem como "modus operandi” o uso de minas...

RD: Isso leva a uma outra reflexão: que força é essa que está a operar em Moçambique? É efetivamente aquilo que observamos chamar de terrorismo ou o terrorismo foi uma forma usada inicialmente para trazer um impacto sobre a presença dessa força no terreno? Efetivamente se trata de uma força de guerrilha que tem a participação da juventude local de Cabo Delgado.

Se recordarmos também no passado, os guerrilheiros da RENAMO tiveram vários donos. Peritos armados, agentes de antissemitas e instrumentos do apartheid. Isso até que em 1990 os tais "bandidos armados" estavam a sentar na mesa de negociações com o governo. Hoje, os bandidos armados estão no Parlamento a discutir o desenvolvimento de Moçambique. Portanto, esta situação em que estamos hoje a viver nos remete a uma grande reflexão: Que tipo de forças estamos a enfrentar?

Mosambik Pemba | Offiziele Veranstaltung Militär
Minas tem sido usadas para impedir o avanço das tropas por via terrestreFoto: DW

DW: Acredita que essa prática nova dos extremistas pode ser "sol de pouca dura", se considerarmos o cerco que está a ficar cada vez mais apertado com a presença de forças estrangeiras em Cabo Delgado?

RD: Tenho dificuldades de responder a essa pergunta, porque não tenho muita informação sobre a atividade militar que está a acontecer no terreno. Não sei o nível de cerco que estamos a falar porque a costa é muito grande. Se calhar, estamos a falar do cerco em Cabo Delgado enquanto eles podem receber esse abastecimento em outros cantos da nossa costa e, por via terrestre, as minas chegarem até às bases em Cabo Delgado. O facto é que uma força de guerrilha tem várias táticas. Ela pode se espalhar e, para frente, ouvirmos sobre ações em outros cantos do país.

DW: Essas forças aparentemente estão numa situação de letargia. Parece-lhe que podem voltar ao ativo com a saída das forças estrangeiras do norte?

RD: Essa é uma outra tática. Quem aprendeu sobre táticas de guerrilha, leu sobre Mao-Tse-Tung, sobre Sun Tzu, que são os clássicos sobre guerras de guerrilha, sabe muito bem que quando estamos nessa situação de letargia é quando devemos nos preocupar mais. Isso porque não sabemos o que eles estão a fazer e onde é que estão. Quando há combates e ataques, conseguimos localizar. Mas quando há um silêncio, precisamos estar mais atentos e mais preocupados porque podem voltar ao ataque com mais força.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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