1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Clima: "Sem união global, Moçambique não terá chance"

18 de março de 2023

Organização Justiça Ambiental alerta que se não houver "união global", Moçambique não terá hipótese de combater o impacto das alterações climáticas. Passagem do ciclone Freddy no país provocou danos incalculáveis.

https://p.dw.com/p/4OrOl
Mosambik Zerstörung nach Zyklon Freddy im Zentrum
Foto: B. Jequete/DW

O ciclone Freddy tem sido descrito como "fora da norma" pelos meteorologistas, já que é um dos ciclones mais duradouros e que realizou uma trajetória mais longa nas últimas décadas.

A passagem do ciclone provocou danos incalculáveis em Moçambique, sistematicamente assolado por eventos climáticos extremos.

Em entrevista à DW, Daniel Ribeiro, coordenador técnico da organização Justiça Ambiental, explica que a situação no país irá piorar com as mudanças climáticas, um "problema global" que deve ser encarado de "forma séria".

DW África: Moçambique está exposto a eventos climáticos cada vez mais intensos e duradouros?

Daniel Ribeiro (DR): Sim, é um dos países mais afetados pelas mudanças climáticas. Nós temos nove das 15 bacias hidrográficas que passam por Moçambique. Temos uma costa longa, com problemas de erosão e sensivel ao aumento do nível de água. Neste momento, olhamos para o aumento da temperatura média do Oceano Índico. A zona do canal de Moçambique é o oceano tropical com média mais alta, e essa energia é que está a aumentar a quantidade e nível de intensidade dos ciclones. E com as mudanças climáticas, vai piorar com o tempo.

Frankreich Methangas | Raffinerie Feyzin Total
"As opções que dão a Moçambique são os combustiveis fósseis, gás e carvão", diz analista.Foto: Laurent Cipriani/AP Photo/picture alliance

DW: Já em 2020, com o cliclone Idai, reforçou-se a necessidade de se apostar em habitações mais resilientes, por exemplo na Beira. Agora com o Freddy vemos o nível de destruição que tem havido. Ainda há muito por fazer nesse aspeto?

DR: Há muitas infraestrutras que não são dignas para as pessoas viverem. O que é preciso fazer é ernome. Infelizmente, o impacto das mudanças climáticas, com os ciclones, as cheias, faz com que o pouco que existe esteja a ser constantemente perdido. Não é possivel fazer isso sem o apoio da comunidade internacional. Não se remete apenas a ajuda humanitária, porque é uma responsabilidade histórica. Nós estamos a pagar pelos impactos das imersões da Europa ou Estados Unidos. Eles têm a responsabilidade de ajudar países como Moçambique. Também nos caminhos de desenvolvimento que temos. As opções que dão a Moçambique, neste momento, são os combustiveis fósseis, gás e carvão. E isso é um grande problema.

DW: O Presidente Filipe Nyusi anunciou esta semana a instituição de um "gabinete permanente de reconstrução pós-ciclones" e a criação de uma comissão técnico-científica. Acha que há por parte das autoridades nacionais uma consciencialização cada vez maior da necessidade de se agir ou é insuficiente?

DR: Não vai ser suficiente, porque os impactos que aí vêm serão sempre maiores e piores. Neste momento, a crise climática não é levada a sério pelos principais líderes mundiais e assim, Moçambique não conseguirá fazer frente às consequências das alterações climáticas. O problema é maior que a capacidade nacional e é preciso lidar com a crise climática de uma forma mais ligada do que a ciência diz. Por exemplo, na Europa, devido ao conflito entre a Rússia e a Ucrânica, a crise energética obrigou a que muitos paises promovessem mais extração de gás, que é uma das causas para estes problemas. Mesmo com boas intenções e iniciativas, o problema é maior que qualquer capacidade nacional. É um problema global e se não houver essa união global, Moçambique não terá a mínima chance".