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Como África salva as suas florestas

Martina Schwikowski | ck
1 de novembro de 2019

Em África há um interesse crescente em proteger as florestas. Mas a pressão sobre o ecossistema mantém-se. Muitas empresas dependem da plantação de árvores que deem lucro imediato, sem respeitar a diversidade natural.

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Foto: picture-alliance/M. Reichelt

Os países africanos declararam guerra às alterações climáticas, reflorestando grandes áreas. No leste do continente, a Etiópia poderá ter estabelecido um recorde mundial em julho, quando foram plantadas num só dia 350 milhões de árvores. Mais ao centro, o Gabão é um dos primeiros países africanos a obter fundos estrangeiros direcionados à proteção das suas árvores. As florestas ocupam quase 90% da área do país. A Noruega prometeu pagar 150 milhões de dólares norte-americanos ao longo de dez anos para que não sejam destruídas.

No lado ocidental africano, a população do Senegal juntou-se à organização ambiental WWF para reflorestar mangais e estabeleceu regras para o seu uso sustentável. Aldeões e autoridades patrulham juntos as florestas para garantir que as regras são cumpridas. A Zâmbia tem uma grande variedade de projetos que envolvem as comunidades locais na proteção das suas florestas.

África precisa das florestas como proteção contra a erosão e as alterações climáticas e devido à diversidade única de espécies e plantas no continente. Mas a população crescente e a necessidade de ganhar mais terra para o cultivo destroem cada vez mais florestas.

Na Zâmbia, a taxa de desflorestação é tão elevada que o país é um dos maiores produtores de gases com efeito de estufa do mundo. O abate liberta para atmosfera o dióxido de carbono armazenado nas árvores.

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O Senegal tem um projeto de replantação de mangaisFoto: Gerlind Vollmer

Onde havia florestas, agora há milho

Todos os anos são desmatados cerca de 300 mil hectares de floresta na Zâmbia, para produzir carvão vegetal e ganhar novas terras de cultivo. Parte da madeira é exportada.

Em 2017, o Banco Mundial prometeu ao país assistência no valor de 200 milhões de dólares norte-americanos para preservar as florestas. O Governo zambiano está a colaborar com várias agências de proteção ambiental para reflorestar o país. Uma delas é a organização belga de conservação da natureza WeForest, ativa na província de Copperbelt, no centro do país.

Ali, na região de Luanshya, as grandes minas de cobre costumavam assegurar o rendimento da população. Mas, quando a exploração da matéria-prima deixou de ser lucrativa e as minas cessaram as operações, os ex-mineiros tentaram a sua sorte com a cultura do milho.

"Trata-se de uma das principais razões do desmatamento", diz Matthias De Beenhouwer, diretor da WeForest na Zâmbia. Além disso há a produção de carvão usado para cozinhar: "Esta continua a ser a maior fonte de combustível na África subsaariana", diz De Beenhouwer.

Plantar árvores autóctones

Desde 2014 que a WeForest tenta reforçar os laços entre os zambianos e as suas florestas: "Não podemos dizer-lhes para cuidarem das suas florestas se elas não lhes proporcionarem um redimento", disse De Beenhouwer em entrevista à DW.

Atualmente, a WeForest está a formar 1.500 pessoas em apicultura, colheita de cogumelos e cultivo de frutos silvestres para ganhar a vida. "Trabalhamos estreitamente com empresários locais para criar mercados para os produtos", diz o ecologista. Cada vez são plantadas mais espécies de árvores locais, anteriormente dizimadas por causa da exploração mineira e da exportação de madeiras para a China.

Como África salva as suas florestas

A meta da WeForest é capacitar as comunidades locais até 2022 a trabalhar de forma independente e com cobertura de custos. Nessa altura deixarão de receber financiamento externo.

"No passado, a abordagem era tornar as florestas acessíveis apenas aos visitantes, mas isso estava condenado ao fracasso. A comunidade desempenha um papel central na conservação da floresta", diz De Beenhouwer. As consequências das alterações climáticas contribuíram para a conscientização da população.

Estreita cooperação com a população

A WeForest também está envolvida na conservação florestal na Etiópia em estreita cooperação com a população local. Uma das áreas do projecto é Desa'a, no norte do país, onde existe uma das últimas florestas de montanha perenes da Etiópia. Antigamente, elas estavam permanentemente envolvidas em nevoeiro, causando chuva num país muito afetado pela seca. Mas as próprias florestas sofrem agora de seca por causa da mudança do clima, e apenas 10% estão relativamente intactas.

Também o Governo etíope conta com a participação dos cidadãos para realizar o seu plano de quatro milhares de milhões de árvores. No dia 29 de julho, de acordo com dados oficiais, particulares e representantes do Executivo plantaram 350 milhões de árvores por dia em cerca de mil locais. Muitos funcionários públicos tiveram folga para se juntarem à inciativa. Se os números estiverem corretos, então o país presidido pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed estabeleceu um recorde mundial não oficial - e, ao mesmo tempo, deu um exemplo de iniciativa contra os danos causados pela desflorestação.

Ruanda effiziente Öfen zum Kochen
No Ruanda são fabricados fogões que poupam lenha e preservam as florestasFoto: DW/Cornelia Borrmann

Monoculturas só beneficiam o setor privado

Mas nem toda a reflorestação é sustentável. Rita Uwaka, uma especialista nigeriana da organização ambientalista Amigos da Terra, diz que as florestas autóctones do continente sofreram muito nos últimos anos.

"Um ditado africano diz: a floresta é a nossa vida", diz Uwaka. "Mas agora há quem considere plantações industriais com uma única espécie de árvore uma espécie de floresta". As monoculturas prejudicam frequentemente a qualidade do solo e servem sobretudo para gerar lucros privados.

Na Nigéria, a floresta de Ekuri, no estado de Cross River, é uma das últimas florestas tropicais intactas. "A comunidade gere sozinha e com sucesso 333 mil hectares. Os líderes locais estabeleceram diretrizes para o uso das florestas. Quem não as respeita é punido", explica Uwaka.

Ficou estabelecido quais são as áreas invioláveis, ou seja, onde a caça, a colheita ou a recolha não são permitidas. Outras áreas são abertas à colheita de frutas ou plantas medicinais tradicionais. "As empresas mineiras pressionaram a comunidade a dar-lhes a terra. Mas elas mantiveram-se firmes". E têm razão, diz Uwaka: "As florestas têm ecossistemas diversos e apoiam as sobrevivência das pessoas. Esta é a melhor solução para a devastadora crise climática".