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Índia suspende exportações e afeta vacinação em África

Cai Nebe | mjp
5 de maio de 2021

Aumento de casos de Covid-19 na Índia faz principal fornecedor da COVAX voltar-se à demanda interna. Suspensão da exportação ameaça mais de 20 países africanos que não têm como garantir segunda dose da AstraZeneca.

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Impfung durch Spritze
Foto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger

A paralisação das exportações de vacinas na Índia está a afetar as campanhas de imunização em África. A maioria dos países africanos depende da COVAX, o programa da Organização Mundial de Saúde (OMS), para assegurar aos países mais pobres um acesso equitativo às vacinas para combater a pandemia.

O principal fornecedor do programa da OMS é o Instituto Serum da Índia, que produz a vacina AstraZeneca. Mas o aumento da procura interna de doses na Índia, a braços com uma explosão descontrolada de casos de Covid-19, paralisou o fornecimento para a COVAX.

Ahmed Ogwell, vice-diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC, na sigla em inglês) - agência vinculada à União Africana - descreve a AstraZeneca como base dos planos de imunização africanos.

"A primeira fase das campanhas de vacinação no continente ancorou-se na entrega de doses do Instituto Serum da Índia. Por isso, quando o Governo indiano deu esta ordem [de paralisação das exportações], as nossas campanhas sofreram um impacto significativo. E temos de voltar a planear onde podemos obter as doses da vacina”, diz Ogwell.

Indien Corona Hilfslieferungen Impfung
Índia volta-se à demanda interna por vacinasFoto: NIHARIKA KULKARNI/dpa/picture alliance

Negócios bilaterais

A COVAX também tem sido excluída do mercado pelos países mais ricos, que fazem os seus próprios acordos com os fabricantes e avançam na imunização dos seus cidadãos.

Segundo o CDC, mais de 20 países do continente que receberam a AstraZeneca são afetados pela quebra de fornecimento da COVAX, uma vez que não têm como garantir a segunda dose para os que iniciaram a imunização com a vacina.

"A maioria dos países esperava os segundos lotes pelo menos no final de março, início de abril. E receberam apenas um lote de vacinas e tiveram de ajustar muito rapidamente os seus planos de vacinação. Até agora, não está claro quando virá o segundo lote de vacinas", explica a epidemiologista ugandesa Catherine Kyobutungi, diretora-executiva do Centro Africano de Investigação em População e Saúde.

Data visualization COVID-19 New Cases Per Capita – 2021-04-21 – Africa - Portuguese (Africa)

Consequências do atraso

O programa da OMS necessita urgentemente de 20 milhões de doses até ao final de junho para cobrir a quebra no abastecimento e tem apelado aos países ricos para doarem as suas doses em excesso. O Instituto Serum da Índia paralisou as exportações em março.

"Não diria desastre, porque há outras vacinas no mercado, mas um atraso que pode ter um efeito significativo. No que diz respeito à continuidade da transmissão do vírus no continente, é algo que não poderemos saber até daqui a vários meses”, comenta o vice-diretor do CDC, Ahmed Ogwell.

Na segunda-feira (05.05), a COVAX anunciou um acordo para adquirir 500 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 da empresa de biotecnologia Moderna.

Os países afetados, segundo os especialistas ouvidos pela DW, podem correr o risco de "vacinações parciais”. Embora uma primeira dose da vacina possa proporcionar até 50% de imunidade, não é eficaz para ajudar os programas governamentais de vacinação que visam a imunidade de grupo.

Nigeria Covid-19 Impfung in Abuja | Dr. Cyprian Ngong
Segunda dose pode estar ameaçadaFoto: Uwais Idriss/DW

Mistura de vacinas?

Face a esta incerteza, os médicos podem alargar o período entre a administração das duas doses entre 3 a 12 semanas. Os países podem também considerar a aquisição de vacinas de uma única dose, como a da Johnson&Johnson. Por esclarecer está ainda a possibilidade de misturar vacinas – no geral, considerada segura pelos especialistas de saúde em casos de emergência, mas ainda não recomendada oficialmente por nenhum Governo.

O CDC continua a negociar com o Governo indiano a entrega de pelo menos parte das vacinas prometidas. A União Africana também contactou outros fabricantes, como a Johnson&Johnson, que anunciou no mês passado que vai disponibilizar 400 milhões de vacinas unidose para África. As primeiras entregas, no entanto, só deverão chegar no terceiro trimestre de 2021.

Perante a demora nas campanhas de vacinação, o analista político queniano Herman Manyora alerta que a frustração não deve ser descarregada na Índia.

"Não ouvi ninguém dizer nada desse género, muito menos o Governo, e não é surpreendente: perante as imagens que chegam da Índia, era preciso ser muito desumano, irracional, para dizer algo contra a Índia, mesmo que deixem de fornecer vacinas. Olhando para a situação terrível do país, nenhuma pessoa normal, nenhum Governo sensato iria dizer algo negativo contra a Índia”, pondera Manyora.

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